À Luz da Oração

Capítulo XLII

A prece de Cerinto



Quantos venham a ler a mensagem constante deste capítulo, decerto nem de longe experimentarão a surpresa de nosso grupo, em cuja intimidade Cerinto, o amigo espiritual que no-la transmitiu, caminhou, pouco a pouco, da sombra para a luz.

A principio, era um Espírito atrabiliário e revoltado chegando mesmo a orientar vastas falanges de irmãos conturbados e infelizes, ainda enquistados na ignorância.

Discutia acerbamente. Criticava. Blasfemava.

De nossos entendimentos difíceis, manda a caridade nos detenhamos no silêncio preciso.

Surgiu porém o dia em que a influência de nossos Benfeitores Espirituais se revelou plenamente vitoriosa. Cerinto modificou-se e transferiu-se de Plano mental, marchando agora ao nosso lado, sedento de renovação e luz como nós mesmos.

Foi por isso com imensa alegria que lhe registramos a comovente rogativa, por ele pronunciada em nossa reunião da noite de 24 de novembro de 1955.


Senhor de Infinita Bondade.

No santuário da oração, marco renovador do meu caminho, não te peço por mim, Espírito endividado, para quem reservaste os tribunais de tua Excelsa Justiça.

A tua compaixão é como se fora o orvalho da esperança em minha noite moral e isso basta ao revel pecador que tenho sido.


Não te peço, Senhor, pelos que choram.

Clamo por teu amor, a benefício dos que fazem as lágrimas.


Não te venho pedir pelos que padecem.

Suplico-te a bênção para todos aqueles que provocam o sofrimento.


Não te lembro os fracos da Terra.

Recordo-te quantos se julgam poderosos e vencedores.


Não intercedo pelos que soluçam de fome.

Rogo-te amor para os que furtam o pão.


Senhor Todo-Bondoso!… Não te trago os que sangram de angústia.

Relaciono diante de ti os que golpeiam e ferem.


Não te peço pelos que sofrem injustiças.

Rogo-te pelos empreiteiros do crime.


Não te apresento os desprotegidos da sorte.

Depreco teu amparo aos que estendem a aflição e a miséria.


Não te imploro mercê para as almas traídas.

Exoro-te o socorro para os que tecem os fios envenenados da ingratidão.


Pai compassivo!… Estende as mãos sobre os que vagueiam nas trevas…

Anula o pensamento insensato.

Cerra os lábios que induzem à tentação.

Paralisa os braços que apedrejam.

Detém os passos daqueles que distribuem a morte…

Ajuda-nos a todos nós, os filhos do erro, porque somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemos edificar o paraíso do bem com todos aqueles que já te compreendem e obedecem, extinguindo o inferno daqueles que, como nós, se atiraram, desprevenidos, aos insanos torvelinhos do mal?…




CERINTO — Amigo espiritual não identificado.