A Vida Conta

Capítulo XIX

Lei de Deus



Quando a sombra te envolva, em cárcere de angústia,

E entregas-te à oração, ante os golpes da vida,

Perguntas, muita vez, alma querida,

Onde a luz que te venha libertar…

Do que tenho a rever em meus testes no mundo,

Posso apenas dizer-te às horas de agonia

As mesmas sugestões que a prece me trazia:

— Esperar, esperar…


Espíritos na Terra, herdando de nós mesmos,

Temos, quase nós todos, as raízes

De débitos e tramas infelizes

Que assumimos outrora, sem pensar…

Nos instantes de Hoje, o Tempo nos revisa

E clamando ao colher de nossa plantação,

Eis que o Mundo nos pede ao coração:

— Esperar, esperar…


Não te lastimes, pois… Todos os seres,

Do abismo aos céus, do mineral ao homem,

Sem correções e lágrimas que os domem,

Nunca se arredariam de lugar;

Não há lição sem preço no caminho,

Toda ascensão exige esforço e luta,

Por isso, a Vida fala e a própria Vida escuta:

— Esperar, esperar…


A semente no chão aguarda a flor e a flor reclama o fruto,

A noite espera o sol retomar o horizonte,

O deserto suplica o bálsamo da fonte,

A fonte busca o rio e o rio pede o mar;

A gradação, porém, tudo acompanha e rege,

Na voragem do Tempo, a Justiça se esconde

E, ao tumulto da pressa, a lógica responde:

— Esperar, esperar…


Assim também, alma fraterna e boa,

Aceita a prova justa, aguarda e pensa,

Deixa que, um dia, a dor te elucide e convença

A esquecer-te no Bem e a servir por amar,

Então compreenderás nas forças do Universo

Que o próprio Deus na Lei, que ele Mesmo estrutura,

Diz, no imo do ser, em cada criatura:

— Esperar, esperar…