— Doutor, a sua competência é a nossa esperança. O senhor já operou Paulina por duas vezes…
Narciso Meireles pedia o concurso do Dr. Sales Neto, distinto médico espírita, para a mulher que experimentava parto difícil, em vilarejo distante.
— Por que se deixaram ficar assim, tão longe? — disse o médico, procurando esquivar-se.
— A crise apareceu de surpresa… O senhor prefere o avião? Dez minutos apenas.
— Nada disso. Perdi dois amigos de uma só vez na semana passada. Nada de voo…
— Um carro?
— A estrada é péssima. Não soube do desastre havido anteontem?
— Um cavalo, doutor? Arranjo-lhe um cavalo…
— Era o que faltava! Não posso expor-me assim…
— Que sugere? — roga o marido desapontado.
— Se quiserem — disse o médico —, tragam a parturiente aqui, como julgarem melhor… De minha parte, não me arrisco…
Em face da evidente má-vontade do facultativo, o esposo aflito aquiesceu e partiu a galope, em busca do teco-teco.
No outro dia, porém, quando a senhora Meireles chegou, abatida, na expectativa da intervenção, a residência do operador estava cheia de gente.
O Dr. Sales Neto, naquela noite, havia morrido, no próprio leito, em consequência de uma trombose…
(Psicografia de Francisco C. Xavier)