A volta

Capítulo II

Igor Thiago Alves Nakamura



Alô papai Arnaldo e mamãe Elcy, peço a bênção. Estou aqui com o vovô Tomáz que me trouxe, para notícias.

Estou bem, mas ainda fraco para fazer uma prova assim, diante de tanta gente. Mas o vovô Tomáz me diz: “Escreva, meu filho. Seus pais e seus irmãos precisam saber que você está vivo e mais forte.”

Eu estou apurado, mas é preciso falar-lhes aos corações. Mamãe Elcy, não chore tanto por seu filho.

No desequilíbrio da motocicleta fui muito amparado. Minha preocupação era com a Gyovana. Estava na frente, com o nosso companheiro. Ele quis me ajudar, mas a queda tinha me atirado fora com violência e qualquer cousa, que eu não sabia explicar, me rebentara no peito e não consegui falar.

Fiz as orações que mamãe e a vovó Thereza me ensinavam, mas depois de sentir uma sombra nos olhos, vi meu avô a me abraçar.

Eu ouvi claramente a voz dele dizendo: “Vamos 1gor, isto não é cousa que possa vencer um homem valente!…”

Para mim tudo escurecera, menos para enxergar o meu avô. Quis levantar-me e como não podia, ele falou com segurança: “Logo o meu Alemãozinho é que vai enfraquecer?”

Aí, ele mesmo ajudou as pessoas que me auxiliavam a chegarmos em casa. Eu queria falar com o Marco e com o Arnaldinho que eu ganhara o jogo. Mas não foi assim.

Vi meus pais consternados e verifiquei que a Gyovana estava sorrindo e por isso estava salva… Fiz força para caminhar ao encontro de todos, mas nada consegui e comecei a chorar.

Estava nervoso e queria reagir contra o que estava acontecendo, mas minha cabeça parecia de pedra e não pude levantar-me.

Meu avô trouxe um médico amigo dele e com muito cuidado o médico me fez dormir. Aí não vi mais nada e nada conseguia fazer para vencer o torpor que me parecia um processo de colocar-me numa câmara fria. Quando acordei senti que estava num lugar muito diferente.

Meu avô Tomáz falou alto: “E agora, Alemão, você fica quieto para o tratamento.”

Lembrei-me dos pais queridos e notei que nascia em mim uma vontade terrível de voltar para casa. Onde estavam meu pai e minha mãe que não me apareciam?… Onde estavam meus irmãos e meus avós sempre carinhosos para mim, vovó Thereza, vovó Eni, o vovô Adalardo? E meus tios? Todos eram tão bons e me deixavam assim sozinho, com o vovô Tomáz somente ali comigo, sem que eu soubesse nada do que sucedera?

A falta dos meus me doía tanto! Mas o meu avô trouxe outras pessoas que são nossos parentes, mas eu estava enfraquecido e não podia conversar.

Agora, eu penso que meus pais sabem tudo muito mais do que eu mesmo. Começou para mim uma vida nova e eu me espantava do sol ser o mesmo sol, da erva verde que era um retrato dos nossos lugares de passeio.

Agora, meu avô me diz para não ficar parado nos assuntos e me aconselha a falar a meus pais de meu carinho e de minha saudade.

Mamãe Elcy, peço-lhe com muito respeito e muito amor para não ter ciúmes de meu pai Arnaldo. Acertei? Acho que estou falando como devo falar. Mãezinha, fique calma e pensando no bem, como sempre.

Ao papai Arnaldo, peço também paciência e serenidade. Papai, o meu avô me ensina que tudo passa muito depressa e que o senhor é um homem sincero e caritativo. Não fique triste quando tiver de falar com mãezinha Elcy sobre os assuntos. Mamãe vive principalmente para o senhor e para nós, os seus filhos.

Estou aprendendo a parar uns minutos por dia para pensar. Eu juro que se eu pudesse voltar agora, não brigaria com o Marco e com o Arnaldinho e aprenderia a conduzir a nossa Gyovana com muita compreensão e amor. Isso agora não é possível como eu queria, mas Deus nos protegerá a todos.

Para mim, penso que está nascendo um novo dia. Obedecer ao senhor e à minha mãe e ser amável com os mais idosos. Tratar as visitas com bons modos e não falar nomes com irritação. Trabalharia em nossa casa atendendo com paciência as crianças infelizes. E muito mais. O vovô Tomáz me diz que estou estendendo muito nesta carta, que já falei o suficiente para ser compreendido.

Perdoem-me, os queridos pais, se não soube escrever ou expressar como devia. Mas vou terminar, dizendo que amo com todo o meu carinho aos pais e aos queridos irmãos.

Creiam que vou terminar o que estou escrevendo, com muitas lágrimas de lembranças. Se eu não estivesse com o vovô Tomáz iria gritar para me levarem para casa, mas devo ter calma e pensar que a bondade de Deus nos guardará a todos.

Papai Arnaldo e mãezinha Elcy, abracem por mim aos queridos irmãos e recebam no coração e na face, muitos beijos com os meus votos ao Senhor de todas as cousas para continuarem cada vez mais felizes.

Aceitem, meus pais queridos, o coração do filho que lhes deve tanto. E muitas lembranças do filho que os ama com todo o coração,



(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 4/4/1992, em Uberaba, MG.).


ESCLARECIMENTOS

Igor Thiago Alves Nakamura

Nascimento: 24/2/1984

Desencarnação: 9/10/1990 — A desencarnação de Igor deu-se por acidente de moto.


Pais:

Arnaldo Nakamura

Elcy Alves Vieira

Rua General Osório, 1180. CEP. 38081-090. Uberaba (MG)


Vovô Tomáz: Avô paterno, Tomáz Alberto Nakamura, falecido em 21/9/1986.

Vovó Thereza: Avó paterna. Thereza Fumiko Nakamura.

Alemãozinho: Apelido carinhoso de seu avô.

Irmãos: Marco Henrique Alves Nakamura e Arnaldo Nakamura Filho.

Irmã: Gyovana Alves Nakamura (estava com Igor no acidente).

Vovó Eni: Avó materna. Eni Alves Vieira

Vovô Adalardo: Avô materno. Adalardo Vieira Gomes.