Nos tempos modernos, o “auri sacra fames” dos antigos tem para as criaturas humanas um sentido novo.
Sentido mais terrível, em virtude da depravação moral em que se mergulha a maioria dos homens, neste amargurado transe da civilização.
A fome do ouro não se contenta mais com a aquisição das facilidades da vida.
Sua finalidade não é a busca incessante de conforto e de defesa, no seio da inquietação da existência material.
Nos tempos que passam, o ouro deve comprar também as consciências para a amplificação de todas as zonas da ambição e do poder.
O homem terrestre busca, em toda parte, a posse do metal que se ligou, por atrações insondáveis e misteriosas, aos seus destinos no mundo, não tanto porque precise de pão e de agasalho.
A máquina, com os seus aparelhos de transformação, solucionou os mais fortes problemas de necessidade material da civilização.
O mais pobre operário, nos tempos que correm, em se tratando das condições econômicas da América, tem mais comodidades na sua casa do que Luiz XIV, há dois séculos atrás, nos esplendores dos seus palácios.
O homem precisa da expressão financeira para acobertar as suas próprias deficiências morais.
O ouro mascara-lhe os defeitos, cobrindo a sua personalidade de respeito ao poder, aos olhos do mundo.
Conquistado expressões bancárias, conquista os primeiros lugares em quase todos os planos sociais.
Conquistando o campo das grandes possibilidades materiais, o homem examina a sua amplidão de domínio, voltando-se, então, para o terreno intelectual, onde efetua a sua provisão de conhecimentos, mas quase sempre dá provas de sua miopia espiritual, em face da árvore imensa da ciência e da sabedoria.
Aos frutos sãos, prefere os apodrecidos.
À força de hábito, na canalização da fortuna para todos os desvios da autoridade, a serviço de sua ambição e de seu egoísmo desenfreados, viciou as fontes da cultura universitária, intoxicando-a com as mais falsas concepções da vida.
Enquanto há banqueiros em luta pela culminância financeira nas bolsas, existem sábios disputando a melhor posição de conhecimento, no capítulo da guerra e do extermínio, nos laboratórios.
Quase sempre, aliando-se a expressão intelectual à possibilidade financeira, temos o político do tempo, em caminho para os lugares mais destacados no grande banquete do domínio universal.
Entretanto, todas as criaturas, um dia, contemplam detidamente o relógio da ambição, procurando parar os seus ponteiros.
, em Santa Helena, considera o caráter transitório de suas conquistas.
Bismark, com todas as suas expressões de poder, prepara-se para a morte, depois das vitórias de 70 [1870].
examina as possibilidades de se comunicar com o mundo invisível, após as suas grandes e maravilhosas descobertas.
Marconi, depois de aperfeiçoar a radiotelefonia, auxiliado pelos seus guias espirituais, é chamado à Pátria Universal, justamente quando estudava o problema de um raio mortífero à distância, com o fim de servir às expressões da política transitória.
Um poder mais alto que o de todos os ditadores do mundo dirige os eternos movimentos do cosmos; uma inteligência inapreensível, pelas suas expressões Divinas, se sobrepõe, no infinito do tempo e do espaço, ao raciocínio de todos os inventores, estabelecendo a verdadeira harmonia da vida e uma justiça compassiva e misericordiosa preside o destino de todas as almas, nas mais variadas posições da existência.
Os verdadeiros ricos da Terra são os que procuram conhecer a magnitude desse poder, dessa sabedoria e dessa misericórdia, dispondo-se a servir nas suas leis que são as da prática do Bem e do Amor puro e simples.
Nas suas mãos, as moedas de ouro já não representam a pedra fria dos cofres, mas as flores de luz para a alegria de todos os semelhantes.
Nos seus cérebros, a educação universitária não constitui uma teoria de domínio para o culto de suas vaidades pessoais, mas um dom de Deus, a caminho para a perfeição da beleza espiritual, nas suas mais sublimadas afirmações.
Esses Espíritos, ainda raros no caminho comum, transformarão, de fato, a superfície do planeta, plantando o bem, a caridade, o amor, a crença e a esperança, à luz dos ensinamentos de Jesus, em todas as direções e são esses desvelados precursores do porvir que hão de modificar todas as concepções da riqueza, no ambiente terrestre, demonstrando que longe de ser um sinônimo de inquietação, de vaidade, de força bruta, de interesse mesquinho, de extermínio e destruição, a única riqueza verdadeira do homem é a que reside no patrimônio dos seus conhecimentos espirituais, aliados à prática da Lei do Amor e do Bem, sobre a face da Terra.
Auri sacra fames — A ambição do ouro.