Uma história curiosa, Encerrando muito ensino, É a que vi acontecendo Ao nosso irmão Carmelino. Era ele um servidor Que conquistou nosso apreço, Viera no Grande Espaço De um mundo que não conheço. Passeava pela Terra, Vendo as árvores copadas, Adorava o sol no verde Dos campos e das estradas. Parava junto das flores, Ficando feliz ao vê-las, Dizia que todas elas Eram irmãs das estrelas. Supondo o mundo perfeito, Solicitou ao seu Guia: Queria viver na Terra, Respirar um novo dia… O amigo escutou com calma E disse a ele: “Primeiro, Procure ficar uns dias Em casa de um companheiro. Uma semana somente Com família de seu nível… Depois, veremos sem pressa Aquilo que for possível…” Carmelino se instalou, Em corpo espiritual, No lar generoso e amigo Do irmão José Juvenal. Juvenal era casado, Mulher, dois filhos e emprego, Morava em cidade grande, Mas vivia sem sossego. Atencioso e distinto, Servia num armazém, Por residir no subúrbio, Cedinho, tomava o trem. A esposa ficava em casa, Dando assistência aos meninos, Que se espancavam com fúria, Em gritos e desatinos. A cozinheira ajudava, Mas era grande o pampeiro E a mulher a lastimar-se, Hora a hora, dia inteiro… Juvenal voltava à casa, Muito além do anoitecer, Depois de uma sopa leve, Tinha contas a rever. Sentava-se, acabrunhado, A força se lhe esbatia, Sentia-se fatigado Das contas de todo dia. Eram contas de armazém, Consertos de geladeira, Exigências da farmácia, Cobranças da costureira. Eram contas do colégio, Pedidos do entregador, Listas das compras de casa E preços do encanador. Folheava novas contas, Detalhes da prestação Do aparelho que comprara Com nova televisão. Eram contas do padeiro E notas da leiteria, Todas mostravam aumento, Subindo, dia por dia. Finda a semana de estudo, Carmelino veio a nós, Parecia birutado, De olhar distante e sem voz. Veio o Guia recebê-lo, Dizendo-lhe: Carmelino, Você viverá na Terra, Ganhará novo destino… Está você satisfeito? Seu novo berço estou vendo…” Mas Carmelino, em silêncio, Chorou e fugiu correndo… .Jair Presente |