Fora ele um grande herói Na abastança de outros dias… Agora, doente e velho, Agonizava Matias. Gemia, desamparado, Quem tanto estendera o bem… Febril, tinha sede e frio Mas não surgia ninguém. Orara e dizia, humilde: — “Jesus é o refúgio meu!…” E quem devia ampará-lo Naquela hora era eu… Abnegados mentores Que lhe escutaram a prece, Enviaram-me a servi-lo Em tudo quanto eu pudesse. Caía a noite. Cheguei Ao pequeno pardieiro, No intuito de auxiliar Ao querido companheiro. Depois de assustado, ao vê-lo Exposto na tábua nua, Dispus-me a buscar-lhe amparo, Mesmo fosse, rua em rua… Pedi, em prece, aos amigos De minha pobre existência Que me fizessem andar Em minha antiga aparência; Passados breves instantes, Entrei na licença rara: Achava-me, tal qual eu fora: — Corpo igual ao que deixara. Tentando obter apoio Que reanimasse o velhinho, Memorizando endereços, Fui à casa de Antoninho. Tinha nele um grande amigo, Falei do velho doente, Ele gritou, espantado: — “Você é o Jair Presente? Embora você me lembre Um cara amigo já morto, Não tenho qualquer auxílio Para os pobres sem conforto…” Corri procurando o Sérgio, Ele exprimiu-se, zombando: — “Se eu pudesse dar esmolas Não vivia trabalhando…” Saí, apressadamente, Para a casa do Dirceu, Ele, porém, me falou: — “Auxílio? primeiro eu…” Modificando o roteiro Procurei por Dona Clara, Ela me disse: “Não tenho!… A vida está muito cara…” Tudo em vão… Sempre pedindo, Fui a vinte moradias… Não encontrei um vintém Para socorro ao Matias. Regressei, desiludido, Ao pardieiro isolado, Para ver como estaria Passando o pobre coitado… Cheguei chamando o doente… Tudo silêncio e vazio… Matias, naquele instante, Morrera aos golpes do frio. .Jair Presente |