“E por que tanta dor por este mundo afora? — Perguntei ao mentor que me instruía — Ralava-me na Terra a escassez de alegria… Voltei do mundo físico e, ainda agora, Novo tipo de lágrimas me assiste: Sou feliz e sou triste Vendo aqueles que amo, em provação constante, Sem que eu possa valê-los, Muito embora o carinho dos meus zelos E o meu imenso amor de cada instante!…” Ele explicou-me com bondade: “Essa história da dor na Humanidade Precisa ser revista… Por que menosprezar-lhe a função alta e bela, Se não há criatura a evoluir sem ela? Vemo-la, em toda parte, Desde o sono da pedra aos altos sonhos da Arte. Entre os homens irmãos, tudo o que se conquista: A cela corporal, as posses e os prazeres Pedem a vida de milhões de seres!… Quanta aflição envolve a Natureza Para que o homem se alimente à mesa!?… Se houvesse uma consulta em cada horta, Se alguém se dispusesse a ouvir a queixa dos rebanhos Ou se escutasse o tronco que se corta, Quantas inquietações e protestos estranhos!… A dor também é lei na qual se apura A Civilização de que tens a cultura!… Força de propulsão, Sofrimento é processo Para que se organize o topo do progresso Ante o esplendor da evolução!…” “E posso caminhar sem dor; em minha estrada? — Indaguei, pensativa. E o mentor respondeu em voz pausada: “Sem a bênção da dor, que nos guarda e elucida Para o encontro do Bem, Ninguém pode entender os ensinos da vida Nem saberá servir junto de alguém.” .Maria Dolores |