Era uma laranjeira de alto porte, Muito perto da fonte que a nutria, No recanto obscuro de um pomar… Aves faziam dela um reino de alegria Sobre o apoio do tronco largo e forte. Quadro de paz e amor da Natureza: A árvore a farfalhar, entre as frondes felizes, Os melros, os sabiás e os gaturamos Tecendo ninhos nos seus ramos, Uma fonte, alentando-lhe as raízes E o céu azul ao sol, cobrindo-lhe a beleza!… Vegetal esquecido pelo dono, Não se queixava de abandono, Muito contrariamente, ao invés disso, Era um palácio verde em constante serviço… Abelhas tinham nele um refúgio e um tesouro, A sorverem-lhe o mel dos frutos que lembravam Pomos vestidos de ouro… Mas, um dia, surgiu extenso bando De homens sedentos e famintos Que deram pasto franco aos seus próprios instintos; Depois de enlamear a fonte de águas claras Agrediram a nobre laranjeira, Manobrando facões, pedras e varas E, em estreitos minutos, Despojaram-na, inteira, De todos os seus frutos. A fonte sempre calma Guardou manchas e mágoas, Lavando sobre a areia as suas próprias águas… A árvore fez silêncio. Maltratada e ferida Deitava a seiva em pingos qual se fossem Densas gotas de pranto… Os pássaros, no entanto, Não choravam somente os estragos nos ninhos; Entre arbustos vizinhos, Lastimavam as duas benfeitoras: A fonte que os mantinha em constante alegria E a árvore de bênçãos protetoras Que lhes doava o pão de cada dia… E pipilavam com tamanha dor Que pareciam todos juntos Numa prece de amor, Rogando a Deus, em voz enternecida, Que as protegesse E as refizesse para a luz da vida. E Deus lhes atendeu aos rogos de ternura Dentro de tempo breve, em verdes resplendores, O tronco era, de novo, um palácio de flores E a fonte era mais pura. ……………………………………………… Nesse quadro do campo, alma querida, Vejo-te a vida, — o tronco, — e a fé que sintetiza A fonte linda do teu belo ideal, Entre os pobres irmãos adversários Da crença que nos guarda e nos eleva, Sem saber que se fazem Intérpretes da treva E empreiteiros do mal… Tristes amigos irritados!… Sei que te ferem, alma boa, Entretanto, trabalha, ama e perdoa; No tempo que se altera sobre o tempo, Surgirão transformados!… Os descrentes e os maus, na condição de ateus São sempre corações desesperados Com saudades de Deus. .Maria Dolores |