Alma e Vida

Capítulo XX

De alma para alma




E chegaste no mundo à grande encruzilhada:

De um lado a provação gritante e sem conforto,

De outro, o desalento ao peito semi-morto

E, mais além, a trilha obscura e escarpada,

Sob céu pardacento,

Em que te aguarda a aspérrima jornada

De sacrifício e sofrimento

Para atingir, de novo, a senda iluminada

Que te assegure paz no coração…


Clamas e choras, mas não te lastimes,

Nunca te faltará recurso a que te arrimes

Nem seguirás em vão.


Escuta, alma fraterna,

Não te deites, à margem do caminho,

Alegando cansaço e coração sozinho

Para fugir da estrada a percorrer…

Lança ao rio do tempo a dor que te consterna,

Reanima-te e volta ao movimento e à vida

E esquecerás a chaga dolorida

Que te põe a sofrer

Na mágoa que te alcança.


Alguém errou, furtando-te a esperança,

Mas ouve, alma querida,

A evolução é clara e definida:

A Terra, — nossa escola multimilenária,

Foi criada por Deus para nos ensinar;

E todos nós, constantes aprendizes,

Temos faltas cruéis quanto acertos felizes…

Não te ocultes na névoa da tristeza;

O erro vem da própria Natureza;

Mas Deus também nos dá, sem conta e sem medida,

A força de amparar e corrigir a vida…


Pensa na gleba, inculta, arrasada a tratores,

Produzindo montões de frutos e de flores;

A enorme queda d’água é um abismo profundo,

Mas o homem que a sonda, observa e domina,

Dela triunfante extrai os poderes da usina

Que enriquecem de força o progresso do mundo;

A pedreira, a cair em processo violento,

Encaminhada à indústria é base do cimento;

E o manganês no solo, a impedir a verdura,

Trazido ao fogaréu, de pedaço a pedaço,

Faz-se a espinha dorsal das estruturas de aço…


Assim também, alma fraterna e boa,

Ergue-te e segue o bem, de espírito sereno!…

Desânimo é veneno.

Esquece todo mal, serve, ama e abençoa…

Não te canses de crer e de esperar.

A dor, em qualquer tempo, é a lúcida cartilha

Com que Deus nos revela a doce maravilha

De sofrer por amor na alegria de amar.


.Maria Dolores