Antologia da Espiritualidade

Capítulo III

Confidência



Se eu pudesse, Jesus,

Desejava esquecer

A minha própria imperfeição;

A fim de ser contigo,

Onde houvesse aflição,

O suave calor

Do braço terno e amigo

Que derrame esperança em todo sofrimento

De modo a que, na Terra,

Ninguém padeça em vão.


Queria ser

Uma chama de fé, ao longo do caminho,

Um pingo de bondade a descer persistente

Sobre a rocha do mal em que a treva se fez,

Queria ser migalha de conforto

A todo coração que está sozinho,

Proteção à orfandade,

Companhia à viuvez.


Queria ser a brisa

Que refrigera a mente em cansaço profundo,

Combalida na prova

Quando a tristeza vem,

Queria ser a escora pequenina,

Que sustentasse os náufragos do mundo,

Para o regresso à vida nova,

Pelas vias do bem.


Queria ser a força do silêncio

Que verte do sorriso de brandura

A suprimir o incêndio da revolta

De quem se desespera ou se maldiz;

Queria ser o beijo da alma boa

Que seca o pranto de quem se tortura,

Ante os golpes de lama

Da calúnia infeliz.


Queria ser a prece que afervora

E alivia o doente,

Socorro, de algum modo, a retratar-te,

Queria ser, enfim, ao teu lado, Senhor,

Alguém que se olvidasse, inteiramente,

Dia a dia, hora a hora,

A fim de ser contigo, em toda parte,

Uma bênção de amor.