Antologia dos Imortais

Carma



… E estou preso à memória — horrendo pelourinho… 15

É o passado a bramir… Emoções e lugares…

Ódio, aflição, amor… Insano torvelinho…

Casam-se riso e pranto em sonhos e avatares.


O tempo — velho tempo —, o lúgubre adivinho, 19

Revolve-me no ser as ânsias e os pesares…

Acusa-me feroz e fere-me, escarninho,

Atando-me aos grilhões de angústias invulgares.


Se guardo além da morte a máscara serena,

Trago no coração a dor que me condena,

Ante a sombra que fui, tangendo a vida a esmo.


A consciência exuma as transgressões remotas

E o clarim do dever repete em largas notas:

— Ninguém foge do mal que plantou por si mesmo.


Antônio FÉLIX DE BULHÕES Jardim — Tendo concluído, com 20 anos, o curso de Direito na Faculdade do Estado de S. Paulo, Félix de Bulhões ocupou diversos cargos na magistratura goiana, chegando a desembargador. Poeta, jornalista e político, fundou várias publicações, dentre outras, , e , onde expunha as ideias de liberal e autêntico antiescravagista. “Muitas vezes” — di-lo o Dr. Jerônimo de Morais, Discurso…, pág. 7 — “os seus períodos eram cortantes como o bisturi dos cirurgiões, quando esvurmava as chagas sociais, ou se convertiam em látegos cruéis com que fustigava os adversários desleais…” (Goiás, 28 de Agosto de 1845 — Goiás, Est. de Goiás, 29 de Março de 1887.)

BIBLIOGRAFIA: .



Epímone — .

Suarabácti : “i-g-no-ta”. .

Aliteração em l.

Antítese: Umbral — Páramos de Cima.

Descrição magistral das paisagens umbralinas, que, segundo as instruções de Amigos Espirituais, começam na crosta terrena.

15-19. Excelentes imagens: memória, horrendo pelourinho e o tempo, lúgubre adivinho. Cf. o soneto “A Vida Humana” (apud Veiga Netto, Antologia Goiana, pág. 179), 1º verso: “…é um mar que embala e que espedaça…”

Ler com hiato: vi/da a/ es/mo.


(Psicografia de Waldo Vieira)