Antologia dos Imortais

Arma onipotente



Ei-la a estrugir na ideia!… Alçada com lisura,

Reflete os dons de Deus, ergue, educa e domina!…

Tesoura, corta os véus literais da Escritura!

Cinzel, grava os anais da Justiça Divina!


Aguilhão, tece o fio imortal da cultura!

Lança, retalha o corpo estranho da rotina!

Clava, reduz o grés do mal a cinza escura!

Broca, rompe os grilhões da expiação ferina!


Pincel, tinge os painéis ridentes da bondade!

Chave, fende os portais ocultos da Verdade!

Palheta, fere, em lira augusta a paz serena!


Homem, caminha além! Pompeia, em verso e prosa,

O altívolo espadim da expressão luminosa

A brilhar-te nas mãos sob a forma de pena!…


TOBIAS BARRETO de Menezes — Chefe da chamada “Escola do Recife”, o poeta condoreiro de deixou uma obra vasta e imponente. Para Exupero Monteiro, da Academia Sergipana de Letras, “Tobias foi um poeta de grandezas e ternuras”, salientando que “a dúvida religiosa foi uma das constantes da sua amargurada existência” (, pág. 30). Cultura polimórfica e profunda, escreveu sobre Filosofia, Direito, Literatura, Música, “abrindo novos caminhos à vida espiritual do País”, no dizer de Edgard Cavalheiro. Figura de destaque na Faculdade de Direito do Recife. Lente da Universidade Livre, de Francfort, em 1881. Patrono da cadeira n° 38, na Academia Brasileira de Letras, pertenceu, ainda, ao Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano. Esforçado paladino da imprensa, colaborou em vários periódicos do Recife, tendo fundado e redigido muitos outros. Orador, crítico, polemista e perfeito conhecedor de meia dúzia de línguas, Armindo Guaraná considerou-o “o maior dos sergipanos pelo talento e pela erudição”. (Campos, atual Tobias Barreto, Est. de Sergipe, 7 de Junho de 1839 — Recife, Est. de Pernambuco, 26 de Junho de 1889.)

BIBLIOGRAFIA: ; ; ; etc.



Feliz emprego do verbo rosnar, depois de retumbar o funesto alarido.

Anáfora: “Pára!” — no começo de 5 versos.

Excelente estudo do livre arbítrio humano e do determinismo das Leia Divinas, realçado pela conhecida tendência filosófica do Autor.

Note-se o clímax : “ergue, educa, domina!…”

Das numerosas imagens que se desdobram do primeiro ao último verso, esta, sem dúvida, é realmente magnífica: “Lança, retalha o corpo estranho da rotina!”


(Psicografia de Waldo Vieira)