Antologia dos Imortais

Capítulo X

José Guedes



Ah! meu filho, na concha de teu peito,

Via-te o coração por céu vindouro,

Encerravas contigo, meu tesouro,

O futuro risonho, alto e perfeito.


Entretanto, prendi-te a cruzes de ouro,

Cujo peso carregas sem proveito,

Abatido, cansado, insatisfeito,

Arrojado a terrível sorvedouro…


Recolheste, no encanto de meu jugo,

O fascínio da posse por verdugo

E a preguiça forjando horrendas pragas.


Hoje, chamo-te em vão… Ouves apenas

O dinheiro vazio que armazenas

Na demência da usura em que te apagas!…



As poesias de números ímpares foram recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier e as de números pares pelo médium Waldo Vieira. Dispomo-las assim, por sugestão dos Amigos Espirituais.

O poeta não se identificou nas reuniões a que compareceu.

Observe-se o efeito extraordinário desta próclise pronominal: “…que há muito se não goza!”

Quer o poeta dizer que o corpo espiritual ostenta os clichês de todos os seus atos praticados, inclusive os de existências anteriores a que, debalde, tenta o indivíduo fugir.