Argonauta da luz que nasceste nas trevas, Por térmita perdido em malocas bizarras, Dormiste com leões de sinistras bocarras E, símio, atravessaste as solides grandevas. Preso aos totens e atado à inspiração dos devas. Vivias de arco e flecha ao clangor de fanfarras. Ai! a herança da guerra a que ainda te agarras, Os impulsos do abismo e as cóleras longevas! Hoje, razão que brilha e amor que desabrocha, Prometeu a chorar no coração da rocha, Circulado de sóis e entre as sombras imerso! Homem! Anjo nascente e animal inextinto, Serás, após vencer as injúrias do instinto, A obra prima de Deus no esplendor do Universo! |
DARIO Persiano de Castro VELOSO — Poeta, orador, romancista, contista, historiador, jornalista. Fez o curso primário no Liceu de S. Cristóvão do Rio e em 1885 fixou residência na capital do Paraná, onde exerceu vários cargos públicos. Professor do Ginásio Paranaense e Escola Normal de Curitiba, D. Veloso angariou grande prestígio como verdadeiro “mestre da mocidade”. Altamente espiritualista, foi um apaixonado prosélito das doutrinas ocultistas e herméticas. Helenófilo, chegou a criar em Curitiba um Instituto Neopitagórico, para cuja sede construiu o famoso “Templo das Musas”. Fundou várias revistas simbolistas, dentre as quais se destacou . Sua produção é vasta em todos os gêneros. Foi sócio fundador do Centro de Letras do Paraná e criou a cadeira n° 9 da Academia Paranaense de Letras. (S. Cristóvão, Rio de Janeiro, Gb, 26 de Novembro de 1869 — Curitiba, Paraná, 28 de Setembro de 1937.)
BIBLIOGRAFIA: ; ; ; ; etc.
As poesias de números ímpares foram recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier e as de números pares pelo médium Waldo Vieira. Dispomo-las assim, por sugestão dos Amigos Espirituais.
Atente-se na apóstrofe.
Observe-se o “enjambement”: “…Quem vos fez como vagas/ De pétalas,…” — que sugere, de imediato, o bailar das ondas de pétalas aos sublimes falernos.
Eis aí um dos mais excelentes exemplos de anáfora.
A título de curiosidade, cf. Dario Veloso, Cinerário, Curitiba, 1929, págs. 22, 23 e 24, em que o poeta dedicou a Prometheo três sonetos, sendo o primeiro, o Titan, o segundo, o Herói, e o terceiro, o Deos.
Observem-se a musicalidade dos versos, a riqueza das rimas e a excelência de algumas antíteses. Certamente interessado em sua identificação, o poeta utilizou-se, no primeiro verso do primeiro quarteto, do vocábulo “Argonauta”, que intitula um belíssimo poema que ele, quando encarnado, dedicara a João 1tiberê da Cunha. (Cf. A. Muricy, Pan. Mov. Simb. Bras., I, pág. 343). Compare ainda o leitor este mesmo poema com o primeiro soneto mediúnico — “Deus”, e encontrará, novos pontos de identificação.