E assim viveu Cantídio Maldonado, Deitando anedotário e latinório, Bela figura, qual D. Juan Tenório, Lampeiro, bonitão e remoçado. Aqui e ali, promessas de noivado, Meninas lastimando amor inglório, Lares desfeitos, casos de cartório E crimes, vários crimes de contado. Contudo, a morte veio… O pobre amigo Acumulava em lágrimas consigo Dor e remorso em trágico binômio… Corre o tempo… Hoje encontro Maldonado, Andrajoso, esquecido e reencarnado, A rir e soluçar num manicômio. |
CORNÉLIO PIRES — Além de poeta, contista, jornalista, humorista e conferencista, era Cornélio Pires devotado pesquisador do nosso folclore. “Seja bom” — recomendou-lhe, certa vez, Amadeu Amaral. E Cornélio Pires, ao fazer-se tarefeiro da Doutrina Espírita, não foi apenas um bom, mas verdadeiro herói da bondade permanente, a benefício dos semelhantes. Pouco antes de desencarnar, fundou em Tietê, SP, a “Granja de Jesus”, entidade de amparo ao menor abandonada. Escreveu para inúmeros jornais e revistas, tendo iniciado a sua vida literária em , do Rio. Alguns dos seus livros continuam a ter numerosas e sucessivas reedições. “Sua obra” — di-lo Joffre Martins Veiga — “é eminentemente popular e de cunho essencialmente brasileiro.” (Tietê, Est. de S. Paulo, 13 de Julho de 1884 — S. Paulo, Estado de S. Paulo, em 17 de Fevereiro de 1958.)
BIBLIOGRAFIA: ; ; ; ; ; etc.
As poesias de números ímpares foram recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier e as de números pares pelo médium Waldo Vieira. Dispomo-las assim, por sugestão dos Amigos Espirituais.
Excelente imagem: “Velho João, como quem canta nos milharais do céu, plantando estrelas.”
Leia-se com o, numa sílaba. C. Pires, com frequência, servia-se da ectlipse. Cf. “O Enterro” (ap. J. M. Veiga, Antol. Caipira, pág.
139) 11º verso: “e com ele se foi a doce paz da roça.”; “À Quelque Chose”, 11º verso: “com o dia de amanhã que é sempre o mesmo” (apud Op. cit., pág. 111).
A respeito do metro deste verso, em que a 6ª sílaba tônica recai no que, cf. o 1º verso do soneto “Solitário”: “Como um fantasma que se refugia”; o 10º verso de “O Lamento das Coisas”: “Da transcendência que se não realiza…”, etc.
Atente-se na enumeração.
As rimas em “ola” e “olo” eram muito usadas pelo artista de Musa Caipira. Cf. “Casa Rústica” (Op. cit., pág. 97), 1º terceto; “O Sol e o Cabo” (id., pág. 99), última estrofe; “Desencanto” (id., pág.
113) em todas as quadras; “Peripécias de Viagem” (id. pág. 117), último terceto.
51-54. Observem-se os “enjambements”.
Digna de observação é a constante repetição das expressões “Nhá”, “Sinhá” e outras que tais, tanto na poesia de além-túmulo quanto na que ficou esparsa em seus livros.
“Vai-se levar à vila o corpo de Nhá Cota, / balouçando na rede a uma vara amarrada…” — eis os dois primeiros versos do soneto “O Enterro”, que, misturado aos de “Nhá Chica”, “Sinhá Teodora” ou qualquer outro soneto com que agora comparece o poeta, dificilmente distinguiríamos dos demais.
Cf. a nota 14 deste capítulo [A nota diz o seguinte: — Excelente imagem: “Velho João, como quem canta nos milharais do céu, plantando estrelas.”]
Mesarquia: “E crimes, vários crimes de contado.” — .