Poderoso tirano o punho férreo brande E grita: — “Abaixo a fé!” — sob as fúrias da ira. — “Se Deus acaso existe, o coração me fira Ou falanges do mal às torrentes me mande!” Agarrado à riqueza o orgulho se lhe expande, É verdugo e senhor, rouba, insulta e delira Repetindo o refrão: — “Deus é a eterna mentira!”— Em desafio aos céus para ostentar-se grande. Certo dia adoece… Em mágoa indefinida Rende-se, humilde, à crença e roga a Deus mais vida; Transfigura o solar em silente cenóbio! Para estender-lhe amor, complacência e doçura, Não dispusera Deus dos arcanjos da Altura, Simplesmente bastara o poder de um micróbio… |
DURVAL Borges DE MORAIS — “Príncipe dos Poetas Bahianos”, Durval de Morais era membro correspondente da Academia de Letras da Bahia, e delegado desta na Federação das Academias de Letras, do Rio de Janeiro. Membro igualmente da Academia Carioca de Letras. Diplomou-se em Química e Farmácia. Colaborou ativamente nas revistas simbolistas e , ambas de Salvador. É considerado um dos maiores poetas religiosos do Brasil. Para Jackson de Figueiredo, D. de Morais “era, sobretudo, um poeta que se deixava enlear no labirinto de obscuras filosofias”. (Maragogipe, Bahia, 20 de Novembro de 1882 — Rio de Janeiro, Gb, 5 de Dezembro de 1948.)
BIBLIOGRAFIA: ; ; ; ; etc.
O metro exige a leitura deste verso com diérese em tri-un-fan-te.
Enumeração.
Leia-se com hiato: da/ i/ra.
Aposiopese: “Certo dia adoece…” Cf. o 9º verso do soneto “Pulvis” (apud Pan. IV, Pág. 262): “Alguns anos… alguém, depois do meu traspasse,”.
Poeta de inspiração religiosa, católico praticante que foi, é natural que Durval de Morais use neste soneto termos quais os seguintes: “conversão”, “cenóbio”, “arcanjos da Altura”, etc. Sobre o esquema rimático dos tercetos, cf. o soneto “J H S”, apud Op. cit., págs. 264-265.
(Psicografia de Waldo Vieira)