Antologia dos Imortais

Capítulo XXXIX

Cunha Mendes



Terra, nada reténs que o verme não carcoma!…

Tudo nasce e caminha ante o poente aziago…

Toda pompa a luzir, qual furacão num lago,

Túrbida agitação sobre a undiflava coma…


Na urna de Moisés vês longínqua redoma;

No fausto de Alexandre, um painel triste e vago…

A cinza sepulcral dos salões de Cartago

Soterrou no silêncio os mármores de Roma…


Duas asas, porém, na rota em que flutuas,

Sustentam-te, no Espaço, impassíveis e cruas,

Nenhuma alteração que, leve, as entrecorte.


Libram com Deus e a Vida, em suprema conquista…

Tribos, povos, nações… Nada que lhes resista…

Uma — a clava do Tempo; outra — a sega da Morte!


Antônio CUNHA MENDES — Depois de ter publicado seus primeiros versos em alguns jornais de seu Estado natal, e aí pertencido à “Padaria Espiritual”, C. Mendes transferiu-se para S. Paulo, onde concluiu o curso de Direito e dirigiu a , que apresentava colaboradores do gabarito de Emílio Kemp, Carvalho Aranha, Amadeu Amaral e outros. Escreveu em revistas simbolistas e em jornais da época, como , do Rio, principalmente em versos. Exerceu a advocacia no Rio e, depois, em S. Paulo. Foi também romancista. (Maranguape, Ceará, 15 de Março de 1874 — S. Paulo, 2 de Junho de 1934.)

BIBLIOGRAFIA: , poemeto; ; etc.


. Observe-se a semelhança de estilo, só pelo primeiro quarteto da joia de 14 versos que começa com “Noute, abrigo dos maus! Trevas, calmos ensombros”, dedicado a Samuel Porto:


“Noute, abrigo dos maus! Trevas, calmos ensombros

Do covarde, do nu, do triste e do cansado;

Enche d’alma arruinada os sórdidos escombros

Com a mudez funeral de túmulo fechado!”

(Apud Pan. IV, pág. 243.)


Leia-se com hiato: Na/ ur/na.

Aliteração em s.


(Psicografia de Waldo Vieira)