Quanto caboclo iludido No esforço de ovacionar! Quanto tempo, em vão perdido! Mas, amanhã, sem ruído, Dona Morte vai chegar!… Vejam vocês, minha gente, Que teatro original! Dentro dele quem não sente O poder da nossa mente, Nossa cultura ideal? Quanta buzina que soa! Quantos carros em ação! Vejam só quanta pessoa, Gente rica e gente à-toa… Hoje é dia de função! Que moderna arquitetura! Colunatas no jardim, Decoração, escultura, E paredes com pintura De uma beleza sem fim! Brilha a riqueza excessiva! Luz solar em profusão. Muita música festiva, E criança que se esquiva Circulando no saguão. Mas em meio ao vozerio, Rápido, surge um senhor Em pleno palco vazio. Silêncio quase sombrio No recinto encantador. A exibição que se espera Afinal vai começar! O povo que se aglomera Olha o ator de cara austera, Ele agora vai falar! Surgirão flores e cenas? Arte e ciência também? Montagens grandes, pequenas? Bons episódios que apenas Falem da força do bem? Nada disso! Ai nossos calos! Escutem! Todos vão ver! Nem gritos e nem abalos! É a grande briga de galos, De matar ou de morrer!… Quanto caboclo iludido No esforço de ovacionar! Quanto tempo, em vão, perdido! Mas, amanhã, sem ruído, Dona Morte Vai chegar!… |
LULU PAROLA (ALOÍSIO Lopes Pereira DE CARVALHO) — Devotado jornalista, e poeta de humor fino e original. Manteve, de 1891 a 1919, uma seção diária de versos humorísticos no , de Salvador, intitulada “Cantando e Rindo”, assinando-a Lulu Parola, pseudônimo literário com que se popularizou: Foi um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira n° 2. Deputado estadual. Redator de , de 1925 até o dia de sua desencarnação. Florêncio Santos, no seu artigo — Reminiscências da “A Tarde” — estampado no de 28 de Outubro de 1962, assim se referiu a ele: “Homem bom e amigo leal, era Aloísio um chefe de família exemplar. Desprovido de bens materiais, foi um nababo da inteligência e do idealismo.” (Salvador, Bahia, 27 de Março de 1866 — Salvador, 2 de Fevereiro de 1942.)
BIBLIOGRAFIA: , 1ª Série; , 2ª Série; etc.
. Apreciando o estilo do poeta baiano, recordemos a 5ª estância de “O Brasil” (ap. Aloysio de Carvalho Filho, Col. Poet. Bahianos), lançado por ele, quando no Plano Físico:
“Que casa grande e bonita!
Vocês, crescendo, verão!…
E a gente que nela habita,
Para acolher a visita,
Tem sempre aberto o portão!…”
a gente. Natural ao poeta esta locução pronominal de cunho popular.
Poliptoto: “Quanta… / Quantos…”
(Psicografia de Waldo Vieira)