A Gênese

CAPÍTULO XII

Gênese Mosaica

Os animais terrestres. – O homem.
• Item 12 •


Para espíritos incultos, sem nenhuma ideia das leis gerais, incapazes de abranger o conjunto e de conceber o infinito, essa criação miraculosa e instantânea apresentava qualquer coisa de fantástico que feria a imaginação. O quadro do Universo tirado do nada em alguns dias, por um só ato da vontade criadora, era para eles o sinal mais evidente do poder de Deus. Que descrição, com efeito, mais sublime e mais poética desse poder do que estas palavras: “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita!”. Deus, a criar o Universo pela ação lenta e gradual das Leis da Natureza, lhes teria parecido menor e menos poderoso. Precisavam qualquer coisa de maravilhoso, que saísse do modelo comum, porque, do contrário, teriam dito que Deus não era mais hábil do que os homens. Uma teoria científica e racional da Criação os deixaria frios e indiferentes.
Não rejeitemos, pois, a Gênese bíblica; ao contrário, estudemo-la, como se estuda a história da infância dos povos. Trata-se de uma época rica de alegorias, cujo sentido oculto se deve buscar; alegorias que se devem comentar e explicar com o auxílio das luzes da razão e da Ciência. Cumpre, no entanto, ao ressaltar as suas belezas poéticas e os seus ensinamentos velados pela forma imaginosa, que se lhe apontem expressamente os erros, no próprio interesse da religião. Esta será muito mais respeitada quando esses erros deixarem de ser impostos à fé, como verdades, e Deus parecerá maior e mais poderoso quando não lhe envolverem o nome em fatos controversos.