A Gênese

CAPÍTULO XII

Gênese Mosaica

Paraíso perdido [3]
• Item 16 •


Dá-se a mesma coisa com a Gênese, na qual se têm que perceber grandes verdades morais debaixo das figuras materiais que, tomadas ao pé da letra, seriam tão absurdas como se, em nossas fábulas, tomássemos em sentido literal as cenas e os diálogos atribuídos aos animais.
Adão é a personificação da Humanidade; sua falta individualiza a fraqueza do homem, em quem predominam os instintos materiais a que ele não sabe resistir. [6]
A árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da Ciência, é o da consciência do bem e do mal, que o homem adquire pelo desenvolvimento da sua inteligência e do livre-arbítrio, em virtude do qual ele escolhe entre um e outro. Assinala o ponto em que a alma do homem, deixando de ser guiada unicamente pelos instintos, toma posse da sua liberdade e incorre na responsabilidade dos seus atos.
O fruto da árvore simboliza o objeto dos desejos materiais do homem; é a alegoria da cobiça e da concupiscência; resume, numa figura única, os motivos de arrastamento ao mal. O comer é sucumbir à tentação. A árvore se ergue no meio do jardim de delícias para mostrar que a sedução está no seio mesmo dos prazeres e para lembrar que, se o homem der preponderância aos gozos materiais, prender-se-á à Terra e se afastará do seu destino espiritual. [7]
A morte de que ele é ameaçado, caso transgrida a proibição que lhe é feita, é um aviso das consequências inevitáveis, físicas e morais, decorrentes da violação das Leis Divinas que Deus lhe gravou na consciência. É bem evidente que aqui não se trata da morte corpórea, pois que, depois de cometida a falta, Adão ainda viveu longo tempo, mas sim da morte espiritual, ou, em outras palavras, a perda dos bens que resultam do adiantamento moral, perda figurada pela sua expulsão do jardim de delícias.