A Gênese
CAPÍTULO XII
Gênese Mosaica
Paraíso perdido [3]
• Item 18 •
A passagem que diz: “O Senhor passeava pelo jardim à tarde, quando se levanta vento brando”, é uma imagem ingênua e um tanto pueril, que a crítica não deixou de assinalar; mas nada tem que surpreenda, se nos reportarmos à ideia que os hebreus dos tempos primitivos faziam da Divindade. Para aquelas inteligências limitadas, incapazes de conceber abstrações, Deus havia de ter uma forma concreta e eles referiam tudo à Humanidade, como único ponto que conheciam. Por isso Moisés lhes falava como a crianças, por meio de imagens sensíveis. No caso de que se trata era a personificação da Potência Soberana, como os pagãos personificavam, em figuras alegóricas, as virtudes, os vícios e as ideias abstratas. Mais tarde os homens despojaram da forma a ideia, do mesmo modo que a criança, tornada adulta, procura o sentido moral dos contos com que foi acalentada. Deve-se, portanto, considerar essa passagem como uma alegoria, figurando a Divindade a vigiar em pessoa os objetos da sua criação. O grande rabino Wogue a traduziu assim: “Eles ouviram a voz do Eterno Deus, percorrendo o jardim do lado de onde vem o dia”.