A Gênese

CAPÍTULO XV

Os Milagres do Evangelho

Superioridade da natureza de Jesus
• Item 1 •


Os fatos relatados no Evangelho e que foram até agora considerados miraculosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, os que têm como causa primeira as faculdades e os atributos da alma. Confrontando-os com os que ficaram descritos e explicados no capítulo anterior, reconhecer-se-á sem dificuldade que há entre eles identidade de causa e de efeito. A História registra outros fatos análogos, em todos os tempos e no seio de todos os povos, pela razão de que, desde que há almas encarnadas e desencarnadas, os mesmos efeitos forçosamente se produziram. Pode-se, é verdade, no que se refere a esse ponto, contestar a veracidade da História; mas, hoje, eles se produzem sob os nossos olhos e, por assim dizer, à vontade e por indivíduos que nada têm de excepcionais. Basta o fato da reprodução de um fenômeno, em condições idênticas, para provar que ele é possível e se acha submetido a uma lei, não sendo, portanto, miraculoso.
O princípio dos fenômenos psíquicos repousa, como já vimos, nas propriedades do fluido perispirítico, que constitui o agente magnético; nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da Natureza. Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como consequência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural.

Superioridade da natureza de Jesus
• Item 2 •


Sem nada prejulgar sobre a natureza do Cristo, cujo exame não entra no quadro desta obra, e não o considerando, por hipótese, senão como um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo como um dos Espíritos de ordem mais elevada e, por suas virtudes, colocado muitíssimo acima da Humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente confia a seus mensageiros diretos, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que Ele fosse o próprio Deus, mas um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.
Como homem, tinha a organização dos seres carnais, mas como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual do que da vida corpórea, de cujas fraquezas não era passível. A superioridade de Jesus com relação aos homens não resultava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava a matéria de modo absoluto, e da do seu perispírito, haurido da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres. (Cap. XIV, item 9.) Sua alma não devia achar-se presa ao corpo senão pelos laços estritamente indispensáveis. Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vista, não só permanente, como de excepcional penetração e muito superior à que comumente possuem os homens comuns. O mesmo havia de dar-se nele com relação a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispiríticos ou psíquicos. A qualidade desses fluidos lhe conferia imensa força magnética, secundada pelo desejo incessante de fazer o bem.
Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, visto que o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados. Ora, o Cristo não precisava de assistência, pois que era Ele quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como, em certos casos, o podem fazer os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, aliás, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se porventura ele recebia algum influxo estranho, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.

Sonhos
• Item 3 •


José, diz o Evangelho, foi avisado por um anjo, que lhe apareceu em sonho e lhe aconselhou que fugisse para o Egito com o menino. (São Mateus 2:19-23.)

Os avisos por meio de sonhos desempenham grande papel nos livros sagrados de todas as religiões. Sem garantir a exatidão de todos os fatos narrados, e sem os discutir, o fenômeno em si mesmo nada tem de anormal, visto saber-se que é durante o sono que o Espírito, desprendido dos laços da matéria, entra momentaneamente na vida espiritual, onde se encontra com os que lhe são conhecidos. É com frequência a ocasião que os Espíritos protetores aproveitam para se manifestar a seus protegidos e lhes dar conselhos mais diretos. São numerosos os exemplos autênticos de avisos por sonhos; porém, não se deve concluir daí que todos os sonhos são avisos, nem, ainda menos, que tudo o que se vê em sonho tem uma significação qualquer. Deve-se incluir a arte de interpretar os sonhos no rol das crenças supersticiosas e absurdas. (Cap. XIV, itens 27 e 28.)

Estrela dos magos
• Item 4 •


Dizem que uma estrela apareceu aos magos que foram adorar a Jesus; que ela lhes ia à frente indicando-lhes o caminho e que se deteve quando chegaram. (São Mateus 2:1-12.)

A questão não é saber se o fato narrado por São Mateus é real ou não, ou se não passa de uma figura indicativa de que os magos foram guiados de forma misteriosa ao lugar onde estava o menino Jesus, uma vez que não existe meio algum de verificação; trata-se, isto sim, de saber se é possível um fato de tal natureza.
O que é certo é que, naquela circunstância, a luz não podia ser uma estrela. Na época em que o fato ocorreu, era possível acreditassem que fosse, porque então se pensava que as estrelas eram pontos luminosos cravados no firmamento e que podiam cair sobre a Terra; mas não hoje, quando se conhece a natureza das estrelas.
Entretanto, por não ter como causa a que lhe atribuíram, não deixa de ser possível o fato da aparição de uma luz com o aspecto de uma estrela. Um Espírito pode aparecer sob forma luminosa, ou transformar uma parte do seu fluido perispirítico em um foco luminoso. Muitos fatos desse gênero, recentes e perfeitamente autênticos, não procedem de outra causa, que nada apresenta de sobrenatural. (Cap. XIV, itens 13 e seguintes.)

Entrada de Jesus em Jerusalém
• Item 5 •


Quando eles se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, perto do Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos, dizendo-lhes: – Ide a essa aldeia que está à vossa frente e, lá chegando, encontrareis amarrada uma jumenta e junto dela o seu jumentinho; desamarrai-a e trazei-mos. – Se alguém vos disser qualquer coisa, respondei que o Senhor precisa deles e logo deixará que os conduzais. – Ora, tudo isso se deu, a fim de que se cumprisse esta palavra do profeta: – Dizei à filha de Sião: Eis o teu rei, que vem a ti, cheio de doçura, montado numa jumenta e com o jumentinho da que está sob o jugo. (Zacarias 9:9-10.)

Os discípulos então foram e fizeram o que Jesus lhes ordenara. – E, tendo trazido a jumenta e o jumentinho, a cobriram com suas vestes e o fizeram montar. (São Mateus 21:1-7.)


Beijo de Judas
• Item 6 •


Levantai-vos, vamos, que já está perto daqui aquele que me há de trair. – Ainda não acabara de dizer essas palavras e eis que Judas, um dos doze, chegou e com ele uma tropa de gente armada de espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo. – Ora, o que o traía lhes dera um sinal para o reconhecerem, dizendo-lhes: Aquele a quem eu beijar é esse mesmo o que procurais; apoderai-vos dele. – Logo, pois, se aproximou de Jesus e lhe disse: Mestre, eu te saúdo; e o beijou. – Jesus lhe respondeu: Meu amigo, que vieste fazer aqui? Ao mesmo tempo, os outros, avançando, se lançaram a Jesus e dele se apoderaram. (São Mateus 26:46-50.)


Pesca milagrosa
• Item 7 •


Um dia, estando Jesus à margem do lago de Genesaré, como a multidão o comprimisse para ouvir a palavra de Deus – viu Ele duas barcas atracadas à borda do lago, das quais os pescadores haviam desembarcado e lavavam suas redes. – Entrou numa dessas barcas, que era de Simão, e lhe pediu que a afastasse um pouco da margem; e, tendo-se sentado, ensinava ao povo de dentro da barca.
Quando acabou de falar, disse a Simão: avança para o mar e lança as tuas redes de pescar. – Respondeu-lhe Simão: Mestre, trabalhamos a noite toda e nada apanhamos; contudo, pois que mandas, lançarei a rede. – Tendo-a lançado, apanharam tão grande quantidade de peixes que a rede se rompeu. – Acenaram para os companheiros que estavam na outra barca, a fim de que viessem ajudá-los. Eles vieram e encheram de tal modo as barcas, que por pouco estas não afundaram. (São Lucas 5:1-7.)


Vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus
• Item 8 •


Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, que lançavam suas redes ao mar, pois que eram pescadores; – e lhes disse: Seguime e eu farei de vós pescadores de homens. – Logo eles deixaram suas redes e o seguiram.
Daí, continuando, Ele viu dois outros irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca com Zebedeu, pai de ambos, os quais estavam a consertar suas redes, e os chamou. – Eles imediatamente deixaram as redes e o pai e o seguiram. (São Mateus 4:18-22.)

Saindo dali, Jesus, ao passar, viu um homem sentado à banca dos impostos, chamado Mateus, ao qual disse: Segue-me; e o homem logo se levantou e o seguiu. (São Mateus 9:9.)

Vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus
• Item 9 •


Estes fatos nada apresentam de surpreendente para quem conheça o poder da dupla vista e a causa, muito natural, dessa faculdade. Jesus a possuía em grau supremo e pode-se dizer que ela constituía o seu estado normal, conforme o atesta grande número de atos da sua vida e o que explicam hoje os fenômenos magnéticos e o Espiritismo.
A pesca qualificada de miraculosa igualmente se explica pela dupla vista. Jesus não produziu peixes de modo espontâneo onde não os havia; Ele viu, com a vista da alma, como teria podido fazê-lo um lúcido vígil, o lugar onde se achavam os peixes e disse com segurança aos pescadores que lançassem ali suas redes.
A acuidade do pensamento e, por conseguinte, certas previsões, são consequência da vista espiritual. Quando Jesus chama a si Pedro, André, Tiago, João e Mateus, é que já lhes conhecia as disposições íntimas e sabia que eles o acompanhariam e que eram capazes de desempenhar a missão que planejava confiar-lhes. Era preciso que eles próprios tivessem intuição da missão que iriam desempenhar para, sem hesitação, atenderem ao chamamento de Jesus. O mesmo se deu quando, por ocasião da ceia, Ele anunciou que um dos doze o trairia e o apontou, dizendo ser aquele que punha a mão no prato, e também quando predisse que Pedro o negaria.
Em muitas passagens do Evangelho se lê: “Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, lhes diz...”. Ora, como poderia Ele conhecer o pensamento de seus interlocutores, senão pelas irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao mesmo tempo, pela visão espiritual que lhe permitia ler-lhes no foro íntimo.
?uitas vezes, supondo que um pensamento se acha sepultado nos refolhos da alma, o homem não suspeita que traz em si um espelho em que se reflete aquele pensamento, um revelador na sua própria irradiação fluídica, impregnada dele. Se víssemos o mecanismo do mundo invisível que nos cerca, as ramificações dos fios condutores do pensamento, a ligarem todos os seres inteligentes, corporais e incorpóreos, os eflúvios fluídicos carregados das marcas do mundo moral, os quais, como correntes aéreas, atravessam o espaço, ficaríamos muito menos surpreendidos diante de certos efeitos que a ignorância atribui ao acaso. (Cap. XIV, itens 15, 22 e seguintes.)

Perda de sangue
• Item 10 •


Então, uma mulher, que havia doze anos sofria de uma hemorragia; – que padecera muito nas mãos dos médicos e que, tendo gasto todos os seus bens, não conseguira nenhum alívio – tendo ouvido falar de Jesus, veio com a multidão atrás dele e lhe tocou as vestes, porque dizia: Se eu conseguir ao menos lhe tocar nas vestes, ficarei curada. – No mesmo instante, o fluxo sanguíneo estancou e ela sentiu em seu corpo que estava curada daquela enfermidade.
Logo, Jesus, conhecendo em si mesmo a virtude que dele havia saído, se voltou no meio da multidão e disse: Quem me tocou as vestes? – Seus discípulos lhe disseram: Vês que a multidão te aperta de todos os lados e perguntas quem te tocou? – Ele olhava em torno de si à procura daquela que o tocara.
Mas a mulher, que sabia o que se passara em si, tomada de medo e pavor, veio lançar-se aos pés de Jesus e lhe declarou toda a verdade. – Disselhe Ele, então: Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz e fica curada da tua enfermidade. (São Marcos 5:25-34.)

Perda de sangue
• Item 11 •


Estas palavras: conhecendo em si mesmo a virtude que dele havia saído, são significativas. Exprimem o movimento fluídico que se operava de Jesus para a doente; ambos experimentaram a ação que acabara de produzir-se. É de notar-se que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não houve magnetização nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para realizar a cura.
Mas por que essa irradiação se dirigiu para aquela mulher e não para outras pessoas, uma vez que Jesus não pensava nela e estava cercado pela multidão? A razão é bem simples. Considerado como matéria terapêutica, o fluido tem que atingir a desordem orgânica, a fim de repará-la; pode então ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela confiança, pela fé do doente, em suma. Com relação à corrente fluídica, o primeiro age como uma bomba premente, e o segundo como uma bomba aspirante. Algumas vezes, é necessária a simultaneidade das duas ações; de outras, basta uma só. O segundo caso foi o que ocorreu no fato de que tratamos.
Jesus tinha, pois, razão para dizer: Tua fé te salvou. Compreende-se que a fé a que Ele se referia não é uma virtude mística, qual a entendem muitas pessoas, mas uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inércia, que paralisa a ação. Assim sendo, é fácil compreender-se que, apresentando-se ao curador dois doentes com a mesma enfermidade, um possa ser curado e outro não. É este um dos mais importantes princípios da mediunidade curadora e que explica certas anomalias aparentes, apontando-lhes uma causa muito natural. (Cap. XIV, itens 31 a 33.)


O cego de Betsaida
• Item 12 •


Tendo chegado a Betsaida, trouxeram-lhe um cego e lhe pediam que o tocasse. Tomando o cego pela mão, Ele o levou para fora da cidade, passou-lhe saliva nos olhos e, havendo-lhe imposto as mãos, lhe perguntou se via alguma coisa. – O homem, olhando, disse: Vejo a andar homens que me parecem árvores. – Jesus lhe colocou de novo as mãos sobre os olhos e ele começou a ver melhor. Afinal, ficou tão perfeitamente curado que via distintamente todas as coisas. – Ele o mandou para casa, dizendo-lhe: Vai para tua casa; se entrares na cidade, não digas a ninguém o que se deu contigo. (São Marcos 8:22-26.)

O cego de Betsaida
• Item 13 •


Aqui, é evidente o efeito magnético; a cura não foi instantânea, mas gradual e consequente a uma ação prolongada e reiterada, embora mais rápida do que na magnetização ordinária. A primeira sensação que o homem teve foi exatamente a que experimentam os cegos ao recobrarem a vista. Por um efeito de óptica, os objetos lhes parecem de tamanho exagerado.

Paralítico
• Item 14 •


Tendo subido a uma barca, Jesus atravessou o lago e veio à sua cidade (Cafarnaum). – Como lhe apresentassem um paralítico deitado em seu leito, Jesus, notando-lhe a fé, disse ao paralítico: Meu filho, tem confiança; perdoados te são os teus pecados.
Logo alguns escribas disseram entre si: Este homem blasfema. – Mas Jesus, tendo percebido o que eles pensavam, perguntou-lhes: Por que alimentais maus pensamentos em vossos corações? – Pois, que é mais fácil dizer: – Teus pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te e anda.
?ra, para que saibais que o Filho do Homem tem na Terra o poder de perdoar os pecados, disse então ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.
O paralítico se levantou imediatamente e foi para sua casa. – Vendo aquele milagre, o povo se encheu de temor e rendeu graças a Deus, por haver concedido tal poder aos homens. (São Mateus 9:1-8.)

Paralítico
• Item 15 •


Que podiam significar aquelas palavras: Teus pecados te são perdoados e em que podiam elas influir para a cura? O Espiritismo lhes dá a explicação, como a uma infinidade de outras palavras incompreendidas até hoje. Ele nos ensina, por meio da pluralidade das existências, que os males e aflições da vida são muitas vezes expiações do passado, bem como que sofremos na vida presente as consequências das faltas que cometemos em existência anterior, até que tenhamos pago a dívida de nossas imperfeições, pois as existências são solidárias umas com as outras.
Se, portanto, a enfermidade daquele homem era uma expiação do mal que ele praticara, ao dizer-lhe Jesus: Teus pecados te são perdoados, é como se lhe tivesse dito: “Pagaste a tua dívida; a fé que agora possuis anulou a causa da tua enfermidade; em consequência, mereces ficar livre dela”. Daí o haver dito aos escribas: “Tão fácil é dizer: Teus pecados te são perdoados, como: Levanta-te e anda”. Cessada a causa, o efeito tem que cessar. É justamente o caso do prisioneiro a quem se declara: “Teu crime está expiado e perdoado”, o que equivaleria a lhe dizer: “Podes sair da prisão”.

Os dez leprosos
• Item 16 •


Um dia, indo Ele para Jerusalém, passava pelos confins da Samaria e da Galileia – e, estando prestes a entrar numa aldeia, dez leprosos vieram ao seu encontro e, conservando-se afastados, clamaram em altas vozes: Jesus, Senhor nosso, tem piedade de nós. – Dando com eles, disselhes Jesus: Ide mostrar-vos aos sacerdotes. Quando iam a caminho, ficaram curados.
Um deles, vendo-se curado, voltou sobre seus passos, glorificando a Deus em altas vozes; – e foi lançar-se aos pés de Jesus, com o rosto em terra, a lhe render graças. Esse era samaritano.
Disse então Jesus: Não foram curados todos dez? Onde estão os outros nove? – Nenhum deles houve que voltasse e glorificasse a Deus, a não ser este estrangeiro? – E disse a esse: Levanta-te; vai; tua fé te salvou. (São Lucas 17:11-19.)

Os dez leprosos
• Item 17 •


Os samaritanos eram cismáticos, mais ou menos como os protestantes em relação aos católicos, e desprezados pelos judeus como heréticos. Curando indistintamente judeus e samaritanos, Jesus dava, ao mesmo tempo, uma lição e um exemplo de tolerância; e fazendo ressaltar que só o samaritano voltara para glorificar a Deus, mostrava que havia nele maior soma de verdadeira fé e de reconhecimento do que nos que se diziam ortodoxos. Acrescentando: Tua fé te salvou, fez ver que Deus considera o que há no fundo do coração e não a forma exterior da adoração. Entretanto, os outros também foram curados. Foi preciso que assim acontecesse para que Ele pudesse dar a lição que tinha em vista e tornar evidente a ingratidão deles. Mas quem sabe o que daí lhes haja resultado? Quem sabe se eles terão se beneficiado da graça que lhes foi concedida? Dizendo ao samaritano: Tua fé te salvou, Jesus dá a entender que o mesmo não aconteceu aos outros.

Mão seca
• Item 18 •


De outra vez Jesus entrou no templo e aí encontrou um homem que tinha seca uma das mãos. – E eles o observavam para ver se Ele o curaria em dia de sábado, para terem um motivo de o acusar. – Então, disse Ele ao homem que tinha a mão seca: Levanta-te e coloca-te ali no meio. – Depois disse aos presentes: É permitido em dia de sábado fazer o bem ou o mal, salvar a vida ou tirá-la? Eles permaneceram em silêncio. – Jesus, porém, encarando-os com indignação, tanto o afligia a dureza de seus corações, disse ao homem: Estende a tua mão. Ele a estendeu e ela se tornou sã.
Logo os fariseus saíram e se reuniram contra Ele em conciliábulo com os herodianos, sobre o meio de o perderem. – Mas Jesus se retirou com seus discípulos para o mar, acompanhando-o grande multidão da Galileia e da Judeia – de Jerusalém, da Idumeia e de além Jordão; e os das cercanias de Tiro e de Sídon, tendo ouvido falar das coisas que Ele fazia, vieram em grande número ao seu encontro. (São Marcos 3:1-8.)


A mulher curvada
• Item 19 •


Jesus ensinava numa sinagoga todos os dias de sábado. – Um dia, viu ali uma mulher possuída de um Espírito que a punha doente, havia dezoito anos; era tão curvada que não podia olhar para cima. – Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse: Mulher, estás livre da tua enfermidade. – Impôs-lhe ao mesmo tempo as mãos e, endireitando-se, ela rendeu graças a Deus.
Mas o chefe da sinagoga, indignado por Jesus haver feito uma cura em dia de sábado, disse ao povo: Há seis dias destinados ao trabalho; vinde nesses dias para serdes curados e não nos dias de sábado.
O Senhor, tomando a palavra, disselhe: Hipócrita, qual de vós não solta da carga o seu boi ou seu jumento em dia de sábado e não o leva a beber? – Por que então não se deveria libertar, em dia de sábado, dos laços que a prendiam, esta filha de Abraão, que Satanás conservara atada durante dezoito anos.
? estas palavras, todos os seus adversários ficaram confusos e todo o povo encantado de vê-lo praticar tantas ações gloriosas. (São Lucas 13:10-17.)

A mulher curvada
• Item 20 •


Este fato prova que naquela época a maior parte das doenças era atribuída ao demônio, e que todos confundiam, como ainda hoje, os possessos com os doentes, mas em sentido inverso, isto é, hoje os que não acreditam nos Espíritos maus confundem as obsessões com as moléstias patológicas.

O paralítico da piscina
• Item 21 •


Depois disso, tendo chegado a festa dos judeus, Jesus foi a Jerusalém. – Ora, havia em Jerusalém a piscina das ovelhas, que se chamava em hebreu Betesda, a qual tinha cinco galerias – onde, em grande número, se achavam deitados doentes, cegos, coxos e os que tinham os membros ressecados, todos à espera de que as águas fossem agitadas – Porque o anjo do Senhor, em certa época, descia àquela piscina e lhe movimentava a água e aquele que fosse o primeiro a entrar nela, depois de ter sido movimentada a água, ficava curado, qualquer que fosse a sua doença.
Ora, estava lá um homem que se achava doente havia trinta e oito anos. – Jesus, tendo-o visto e sabendo-o doente desde longo tempo, perguntou-lhe: Queres ficar curado? – O doente respondeu: Senhor, não tenho ninguém que me lance na piscina depois que a água é movimentada; e, durante o tempo que levo para chegar lá, outro desce antes de mim. – Disselhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e vai-te. – No mesmo instante o homem se achou curado e, tomando de seu leito, pôs-se a andar. Ora, aquele dia era um sábado.
Disseram então os judeus ao que fora curado: Não te é permitido levares o teu leito. – Respondeu o homem: Aquele que me curou disse: Toma o teu leito e anda. – Perguntaram-lhe eles então: Quem foi esse que te disse: Toma o teu leito e anda? – Mas nem mesmo o que fora curado sabia quem o curara, porque Jesus se retirara do meio da multidão que lá estava.
Depois, encontrando aquele homem no templo, Jesus lhe disse: Vês que foste curado; não tornes de futuro a pecar, para que não te suceda coisa pior.
O homem foi ter com os judeus e lhes disse que fora Jesus quem o curara. – Era por isso que os judeus perseguiam a Jesus, porque ele fazia essas coisas em dia de sábado. – Então, Jesus lhes disse: Meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também. (São João 5:1-17.)

O paralítico da piscina
• Item 22 •


Entre os romanos, chamava-se piscina (da palavra latina piscis, peixe), aos reservatórios ou viveiros onde se criavam peixes. Mais tarde, o termo se tornou extensivo aos tanques destinados a banhos em comum.
A piscina de Betesda em Jerusalém era uma cisterna, próxima ao Templo, alimentada por uma fonte natural, cuja água parecia ter tido propriedades curativas. Era, sem dúvida, uma fonte intermitente que, em certas épocas, jorrava com força, agitando a água. Segundo a crença vulgar, esse era o momento mais favorável às curas. Talvez, ao brotar da fonte, as propriedades da água fossem mais ativas; ou então, que a agitação que o jorro produzia na água fizesse vir à tona a vasa salutar para algumas moléstias. Tais efeitos são muito naturais e perfeitamente conhecidos hoje; mas, então, as ciências estavam pouco adiantadas e à maioria dos fenômenos incompreendidos se atribuía uma causa sobrenatural. Os judeus, pois, acreditavam que a agitação da água se devesse à presença de um anjo, e essa crença lhes parecia tanto mais fundada porque viam, naquelas ocasiões, que a água se mostrava mais curativa.
Depois de haver curado aquele homem, Jesus lhe disse: “Para o futuro não tornes a pecar, a fim de que não te suceda coisa pior”. Por essas palavras, deu-lhe a entender que a sua doença era uma punição e que, se ele não se melhorasse, poderia vir a ser de novo punido e com mais rigor. Essa doutrina é inteiramente conforme à que ensina o Espiritismo.

O paralítico da piscina
• Item 23 •


Jesus fazia questão de operar suas curas em dia de sábado, para ter ensejo de protestar contra o rigorismo dos fariseus no tocante à guarda desse dia. Queria mostrar-lhes que a verdadeira piedade não consiste na observância das práticas exteriores e das formalidades; que a piedade está nos sentimentos do coração. Justificava-se, declarando: “Meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também”. Quer dizer: Deus não interrompe suas obras, nem sua ação sobre as coisas da Natureza, em dia de sábado. Continua a produzir tudo quanto é necessário à vossa alimentação e à vossa saúde, e eu lhe sigo o exemplo.
Cego de nascença

O paralítico da piscina
• Item 24 •


Ao passar, Jesus viu um homem que era cego desde que nascera; – e seus discípulos lhe fizeram esta pergunta: Mestre, quem pecou, esse homem ou seus pais, para que ele nascesse cego? – Jesus lhes respondeu: Nem ele, nem os que o puseram no mundo; mas para que nele se manifestem as obras do poder de Deus. É preciso que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem depois a noite, na qual ninguém pode fazer obras. – Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
Tendo dito isso, cuspiu no chão e, havendo feito lama com a sua saliva, ungiu com essa lama os olhos do cego – e lhe disse: Vai lavar-te no tanque de Siloé, que significa Enviado. Ele foi, lavou-se e voltou vendo claro.
Seus vizinhos e os que o viam antes a pedir esmolas diziam: Não é este o que estava assentado e pedia esmola? Uns respondiam: É ele; outros diziam: Não, é um que se parece com ele. O homem, porém, lhes dizia: Sou eu mesmo. – Perguntaram-lhe então: Como se abriram os teus olhos? – Ele respondeu: Aquele homem que se chama Jesus fez um pouco de lama e passou nos meus olhos, dizendo: Vai ao tanque de Siloé e lava-te. Fui, lavei-me e vejo. – Disseram-lhe: Onde está Ele? Respondeu o homem: Não sei.
Levaram então aos fariseus o homem que estivera cego. – Ora, fora num dia de sábado que Jesus fizera aquela lama e lhe abrira os olhos.
Também os fariseus o interrogaram para saber como recobrara a vista. Ele lhes disse: Ele me pôs lama nos olhos, eu me lavei e vejo. – Ao que alguns fariseus retrucaram: Esse homem não é enviado de Deus, pois que não guarda o sábado. Outros, porém, diziam: Como poderia um homem mau fazer tais prodígios? Havia, a propósito, dissensão entre eles.
Disseram de novo ao que fora cego: E tu, que dizes desse homem que te abriu os olhos? Ele respondeu: Digo que é um profeta. – Mas os judeus não acreditaram que aquele homem fora cego e que houvesse recobrado a vista, enquanto não fizeram vir o pai e a mãe dele – e os interrogaram assim: É esse o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora vê? – O pai e a mãe responderam: Sabemos que esse é nosso filho e que nasceu cego; – não sabemos, porém, como agora vê e tampouco sabemos quem lhe abriu os olhos. Interrogai-o; ele já tem idade, que responda por si mesmo.
Seu pai e sua mãe falavam desse modo porque temiam os judeus, visto que estes já haviam resolvido em comum que quem quer que reconhecesse a Jesus como o Cristo seria expulso da sinagoga. – Foi o que obrigou o pai e a mãe do rapaz a responderem: Ele já tem idade; interrogai-o.
Chamaram pela segunda vez o homem que fora cego e lhe disseram: Glorifica a Deus; sabemos que esse homem é um pecador. Ele lhes respondeu: Se é um pecador, não sei, tudo o que sei é que estava cego e agora vejo. – Tornaram a perguntar-lhe: Que te fez Ele e como te abriu os olhos? – Respondeu o homem: Já vo-lo disse e bem o ouvistes; por que quereis ouvi-lo pela segunda vez? Quereis, porventura, tornar-vos seus discípulos? – Ao que eles o carregaram de injúrias e lhe disseram: Sê tu seu discípulo; quanto a nós, somos discípulos de Moisés. – Sabemos que Deus falou a Moisés, ao passo que não sabemos de onde este saiu.
O homem lhes respondeu: É de espantar que não saibais de onde Ele é e que Ele me tenha aberto os olhos. – Ora, sabemos que Deus não exalça os pecadores; mas, àquele que o honre e faça a sua vontade, a esse Deus exalça. – Desde que o mundo existe, jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. – Se esse homem não fosse um enviado de Deus, nada poderia fazer de tudo o que tem feito.
Disseram-lhe os fariseus: Tu és todo pecado, desde o ventre de tua mãe, e queres ensinar-nos a nós? E o expulsaram. (São João 9:1-34.)

O paralítico da piscina
• Item 25 •


Esta narrativa, tão simples, tão singela, traz em si a marca evidente da verdade. Nada existe aí de fantástico nem de maravilhoso. É uma cena da vida real apanhada em flagrante. A linguagem do cego é exatamente a desses homens simples, nos quais o bom-senso supre a falta de saber e que retrucam com bonomia aos argumentos de seus adversários, expendendo razões a que não faltam justeza nem oportunidade. O tom dos fariseus não é o dos orgulhosos que nada admitem acima de suas inteligências e que se enchem de indignação perante a só ideia de que um homem do povo lhes possa fazer observações? Salvo a cor local dos nomes, dir-se-ia que o fato é do nosso tempo.
Ser expulso da sinagoga equivalia a ser posto fora da Igreja. Era uma espécie de excomunhão. Os espíritas, cuja doutrina é a do Cristo, interpretada de acordo com o progresso das luzes atuais, são tratados como os judeus que reconheciam em Jesus o próprio Messias. Excomungando-os, a Igreja os põe fora de seu seio, como fizeram os escribas e os fariseus com os seguidores do Cristo. Eis aí um homem que é expulso porque não pode admitir que aquele que o curou seja um possesso do demônio e porque rende graças a Deus pela sua cura.
!ão é o que fazem com os espíritas? Obter dos Espíritos salutares conselhos, reconciliação com Deus e com o bem, curas, tudo isso é obra do diabo e merecedor de anátema. Não se têm visto padres declararem, do alto do púlpito, que é melhor uma pessoa conservar-se incrédula do que recobrar a fé por meio do Espiritismo? Não há os que dizem aos doentes que estes não deviam ter procurado curar-se com os espíritas que possuem esse dom, porque esse dom é satânico? Não há os que pregam que os necessitados não devem aceitar o pão que os espíritas distribuem, por ser do diabo esse pão? Que outra coisa diziam ou faziam os padres judeus e fariseus? Aliás, fomos avisados de que tudo hoje tem que se passar como ao tempo do Cristo.
A pergunta dos discípulos: Foi algum pecado deste homem que deu causa a que ele nascesse cego? revela que eles tinham a intuição de uma existência anterior, pois, do contrário, ela não teria sentido, visto que um pecado somente pode ser causa de uma enfermidade de nascença, se cometido antes do nascimento e, por conseguinte, numa existência anterior. Se Jesus considerasse falsa semelhante ideia, ter-lhes-ia dito: “Como este homem poderia ter pecado antes de haver nascido?”. Em vez disso, porém, diz que aquele homem estava cego, não por ter pecado, mas para que nele se manifestasse o poder de Deus, isto é, para que servisse de instrumento a uma demonstração do poder de Deus. Se não era uma expiação do passado, era uma provação que devia servir ao progresso daquele Espírito, porque Deus, que é justo, não lhe imporia um sofrimento sem compensação.
Quanto ao meio empregado para o curar, é evidente que aquela espécie de lama feita de saliva e terra não podia encerrar nenhuma virtude, a não ser pela ação do fluido curativo de que fora impregnada. É assim que as substâncias mais insignificantes, como a água, por exemplo, podem adquirir qualidades poderosas e efetivas, sob a ação do fluido espiritual ou magnético, ao qual elas servem de veículo, ou, se quiserem, de reservatório.

Numerosas curas operadas por Jesus
• Item 26 •


Jesus ia por toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todos os langores e todas as enfermidades no meio do povo. – Tendo-se espalhado a sua reputação por toda a Síria; traziam-lhe os que estavam doentes e afligidos por dores e males diversos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos e Ele a todos curava. – Acompanhava-o grande multidão da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judeia e de além Jordão. (São Mateus 4:23-25.)

Numerosas curas operadas por Jesus
• Item 27 •


De todos os fatos que dão testemunho do poder de Jesus, os mais numerosos são, incontestavelmente, as curas. Ele queria provar, dessa forma, que o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o seu objetivo era ser útil e não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por meio de coisas extraordinárias.
Aliviando os sofrimentos, prendia a si as criaturas pelo coração e fazia prosélitos mais numerosos e sinceros do que se apenas os maravilhasse com espetáculos para os olhos. Daquele modo, fazia-se amado, ao passo que se houvesse se limitado a produzir surpreendentes fatos materiais, como o exigiam os fariseus, a maioria das pessoas não teria visto nele senão um feiticeiro ou um hábil prestidigitador, que os desocupados buscariam para se distrair.
Assim, quando João Batista manda perguntar-lhe, por seus discípulos, se ele era o Cristo, a sua resposta não foi: “Eu o sou”, como qualquer impostor teria respondido. Não lhes fala de prodígios, nem de coisas maravilhosas; responde-lhes simplesmente: “Ide dizer a João: os cegos veem, os doentes são curados, os surdos ouvem, o Evangelho é anunciado aos pobres”. É como se houvesse dito: “Reconhecei-me pelas minhas obras; julgai a árvore pelo seu fruto”, porque era esse o verdadeiro caráter da sua missão divina.

Numerosas curas operadas por Jesus
• Item 28 •


Também é pelo bem que faz que o Espiritismo prova a sua missão providencial. Ele cura os males físicos, mas cura, sobretudo, as doenças morais, e são esses os maiores prodígios pelos quais ele se afirma. Seus mais sinceros adeptos não são os que foram tocados pela observação de fenômenos extraordinários, mas os que dele recebem a consolação para suas almas; os que se libertaram da tortura da dúvida; aqueles a quem levantou o ânimo na aflição, que hauriram forças na certeza de um futuro mais feliz, no conhecimento do seu ser espiritual e de seus destinos. São esses os de fé inabalável, porque sentem e compreendem.
Os que não veem no Espiritismo senão efeitos materiais não podem compreender sua força moral. É por isso que os incrédulos, que apenas o conhecem por meio de fenômenos cuja causa primeira não admitem, consideram os espíritas meros prestidigitadores e charlatães. Não será, pois, por meio de prodígios que o Espiritismo triunfará da incredulidade, mas pela multiplicação dos seus benefícios morais, porquanto, se é certo que os incrédulos não admitem os prodígios, também é certo que conhecem, como toda gente, o sofrimento e as aflições, e ninguém recusa alívio e consolação.

Possessos
• Item 29 •


Vieram em seguida a Cafarnaum, e Jesus, entrando primeiramente, em dia de sábado, na sinagoga, os instruía. – Admiravam-se da sua doutrina, porque Ele os instruía como tendo autoridade e não como os escribas.
Ora, achava-se na sinagoga um homem possesso de um Espírito impuro, que exclamou: – Que há entre ti e nós, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: És o santo de Deus. – Jesus, porém, falando-lhe ameaçadoramente, disse: Cala-te e sai desse homem. – Então, agitando o homem em violentas convulsões, o Espírito impuro saiu dele.
Ficaram todos tão surpreendidos que perguntavam uns aos outros: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Ele dá ordem com império, até aos Espíritos impuros, e estes lhe obedecem. (São Marcos 1:21-27.)

Possessos
• Item 30 •


Tendo eles saído, apresentaram-lhe um homem mudo, possesso do demônio. – Expulso o demônio, o mudo falou e o povo, tomado de admiração, dizia: Jamais se viu coisa semelhante em Israel.
Mas os fariseus, ao contrário, diziam: É pelo príncipe dos demônios que Ele expele os demônios. (São Mateus 9:32-34.)

Possessos
• Item 31 •


Quando Ele se dirigia ao lugar onde estavam os outros discípulos, viu em torno destes uma grande multidão e muitos escribas que com eles disputavam. – Logo que deu com Jesus, todo o povo se tomou de espanto e temor e correram todos a saudá-lo.
Perguntou Ele então: Sobre que disputáveis em assembleia? – Um homem, do meio do povo, tomando a palavra, disse: Mestre, trouxe-te o meu filho, que está possesso de um Espírito mudo; – em todo lugar onde dele se apossa, atira-o por terra e o menino espuma, rilha os dentes e se torna todo seco. Pedi a teus discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam.
Disselhes Jesus: Ó gente incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Trazei-mo. – Trouxeram-lho e ainda não havia ele posto os olhos em Jesus, e o Espírito entrou a agitá-lo violentamente; ele caiu no chão e se pôs a rolar espumando.
Jesus perguntou ao pai do menino: Desde quando isto lhe sucede? – Desde pequenino, diz o pai. – E o Espírito o tem lançado, muitas vezes, ora à água, ora ao fogo, para fazê-lo perecer; se puderes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e socorre-nos.
Respondeu-lhe Jesus: Se puderes crer, tudo é possível àquele que crê. – Logo exclamou o pai do menino, banhado em lágrimas: Senhor, creio, ajuda-me na minha incredulidade.
Jesus, vendo que o povo acorria em multidão, falou em tom de ameaça ao Espírito impuro, dizendo-lhe: Espírito surdo e mudo sai desse menino e não entres mais nele. – Então, o Espírito, soltando grande grito e agitando o menino em violentas convulsões, saiu, ficando o menino como morto, de sorte que muitos diziam que ele morrera. – Mas Jesus, tomando-lhe as mãos e amparando-o, fê-lo levantar-se.
Quando Jesus voltou para casa, seus discípulos lhe perguntaram, em particular: Por que não pudemos nós expulsar esse demônio? – Ele respondeu: Os demônios desta espécie não podem ser expulsos senão pela prece e pelo jejum. (São Marcos 9:14-28.)

Possessos
• Item 32 •


Apresentaram-lhe então um possesso cego e mudo e Ele o curou, de modo que o possesso começou a falar e a ver: – Todo o povo ficou cheio de admiração e dizia: Não é esse o filho de Davi.
?as os fariseus, ouvindo isso, diziam: Este homem expulsa os demônios com o auxílio de Belzebu, príncipe dos demônios.
Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disselhes: Todo reino que se dividir contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa que se divide contra si mesma não pode subsistir. – Se Satanás expulsa a Satanás, ele está dividido contra si mesmo; como, pois, o seu reino poderá subsistir? – E, se é por Belzebu que eu expulso os demônios, por quem os expulsarão vossos filhos? Por isso, eles próprios serão os vossos juízes. – Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós. (São Mateus 12:22-28.)

Possessos
• Item 33 •


As libertações de possessos, juntamente com as curas, figuram entre os mais numerosos atos de Jesus. Entre os fatos dessa natureza, como os acima relatados, alguns há (item
30) em que a possessão não é evidente. Provavelmente, naquela época, como ainda hoje acontece, atribuía-se à influência dos demônios todas as doenças cuja causa não se conhecia, principalmente a mudez, a epilepsia e a catalepsia. Outros há, todavia, em que a ação dos Espíritos maus não deixa dúvida. Esses casos guardam tão frisante analogia com os de que somos testemunhas, que neles se reconhecem todos os sintomas de tal gênero de afecção. A prova da participação de uma inteligência oculta, em tal caso, ressalta de um fato material: são as numerosas curas radicais obtidas, em alguns centros espíritas, tão só pela evocação e doutrinação dos Espíritos obsessores, sem magnetização, nem medicamentos e, muitas vezes, na ausência do paciente e a grande distância deste. A imensa superioridade do Cristo lhe dava tal autoridade sobre os Espíritos imperfeitos, então chamados demônios, que bastava a Ele ordenar que se retirassem para que se vissem obrigados a não resistir a essa ordem formal. (Cap. XIV, item 46.)

Possessos
• Item 34 •


O fato de alguns Espíritos maus terem sido mandados meter-se em corpos de porcos [1] é contrário a todas as probabilidades. Aliás, seria difícil explicar a existência de tão numeroso rebanho de porcos num país onde esse animal inspirava horror e não oferecia nenhuma utilidade para a alimentação. Não é por ser mau que um Espírito deixa de ser um Espírito humano, embora tão imperfeito que continue a fazer o mal, depois de desencarnar, como o fazia antes, e é contrário a todas as Leis da Natureza que ele possa animar o corpo de um animal. É preciso, pois, ver nesse fato a existência de um desses exageros tão comuns nos tempos de ignorância e de superstição; ou, talvez, uma alegoria destinada a caracterizar os pendores imundos de certos Espíritos.

Possessos
• Item 35 •


Tudo indica que, ao tempo de Jesus, os obsidiados e os possessos eram bastante numerosos na Judeia; daí a oportunidade que Ele teve de curar a muitos. Sem dúvida, os Espíritos maus haviam invadido aquele país e causado uma epidemia de possessões. (Cap. XIV, item 49.)

Sem apresentarem caráter epidêmico, as obsessões individuais são extremamente frequentes e se revelam sob os mais variados aspectos, os quais facilmente se reconhecem por um conhecimento mais amplo do Espiritismo. Podem, muitas vezes, trazer consequências nocivas à saúde, quer agravando afecções orgânicas, quer ocasionando-as. Um dia, virão a ser, incontestavelmente, incluídas entre as causas patológicas que requerem, pela sua natureza especial, meios curativos igualmente especiais. Ao revelar a causa do mal, o Espiritismo abre novo caminho à arte de curar e fornece à Ciência o meio de alcançar êxito onde até hoje quase sempre vê malogrados seus esforços, em virtude de não atacar a causa primordial do mal. (O Livro dos Médiuns, Segunda parte, cap. XXIII.)

Possessos
• Item 36 •


Os fariseus acusavam a Jesus de expulsar os demônios pela influência dos demônios. Segundo eles, o bem que Jesus fazia era obra de Satanás, sem refletirem que, se Satanás expulsasse a si mesmo, praticaria uma insensatez. É de notar-se que os fariseus daquele tempo já pretendessem que toda faculdade transcendente e, por esse motivo, reputada sobrenatural, era obra do demônio, visto que, na opinião deles, era do demônio que Jesus recebia o poder de que dispunha. É esse mais um ponto de semelhança daquela com a época atual e tal doutrina é ainda a que a Igreja procura fazer que prevaleça hoje, contra as manifestações espíritas. [2]

A filha de Jairo
• Item 37 •


Tendo Jesus passado novamente, de barca, para a outra margem, logo que desembarcou grande multidão se reuniu em torno dele. Então, um chefe de sinagoga, chamado Jairo, veio ao seu encontro e, ao aproximar-se dele, se lançou aos seus pés – a suplicar com insistência, dizendo: Tenho uma filha que está no momento extremo: vem impor-lhe as mãos para a curar e lhe salvar a vida.
Jesus foi com ele, acompanhado de grande multidão, que o comprimia.
Quando Jairo ainda falava, vieram pessoas que lhe eram subordinadas e lhe disseram: Tua filha está morta; por que hás de dar ao Mestre o incômodo de ir mais longe? – Jesus, porém, ouvindo isso, disse ao chefe da sinagoga: Não te aflijas, crê apenas. – E a ninguém permitiu que o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.
Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Ele uma aglomeração confusa de pessoas que choravam e soltavam grandes gritos. – Entrando, disselhes Ele: Por que fazeis tanto alarido e por que chorais? Esta menina não está morta, está apenas adormecida. – Zombavam dele. Tendo feito que toda a gente saísse, chamou o pai e a mãe da menina e os que tinham vindo em sua companhia e entrou no lugar onde a menina se achava deitada. – Tomou-lhe a mão e disse: Talita cumi, isto é, minha filha, levanta-te, eu to ordeno. – No mesmo instante a menina se levantou e se pôs a andar, pois contava doze anos, e ficaram todos maravilhados e espantados. (São Marcos 5:21-35 a 42.)

O filho da viúva de Naim

A filha de Jairo
• Item 38 •


No dia seguinte, Jesus dirigiu-se a uma cidade chamada Naim; acompanhavam-no seus discípulos e grande multidão. – Quando estava perto da porta da cidade, aconteceu que levavam um morto para ser sepultado, filho único de sua mãe; e essa mulher era viúva; estava com ela grande número de pessoas da cidade. – Tendo-a visto, o Senhor se tomou de compaixão para com ela e lhe disse: Não chores. – Depois, aproximando-se, tocou o esquife e os que o conduziam pararam. Então, disse Ele: Jovem, levanta-te, eu o ordeno. – Imediatamente o moço se sentou e começou a falar. E Jesus o restituiu à sua mãe.
Todos os que estavam presentes ficaram tomados de espanto e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo. – O rumor desse milagre que Ele fizera se espalhou por toda a Judeia e por todas as regiões circunvizinhas. (São Lucas 7:11-17.)

A filha de Jairo
• Item 39 •


O fato de voltar à vida corpórea um indivíduo que se achasse realmente morto seria totalmente contrário às Leis da Natureza e, portanto, milagroso. Ora, não é preciso que se recorra a essa ordem de fatos para que se tenha a explicação das ressurreições realizadas pelo Cristo. Se, mesmo na atualidade, as aparências às vezes enganam os profissionais, quão mais frequentes não haviam de ser os acidentes daquela natureza, num país onde não se tomava nenhuma precaução contra eles e onde o sepultamento era imediato. [3] É, pois, de todo provável que, nos dois casos acima, apenas houvesse síncope ou letargia. O próprio Jesus declara positivamente, com relação à filha de Jairo: Esta menina, disse Ele, não está morta, está apenas adormecida.
Considerando-se o poder fluídico que Jesus possuía, nada há de espantoso em que esse fluido vivificante, dirigido por uma vontade poderosa, haja reanimado os sentidos em torpor; que haja mesmo feito voltar o Espírito ao corpo, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda não se rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam morto o indivíduo que tão logo deixasse de respirar, havia ressurreição em casos tais, de modo que o afirmavam de muito boa-fé; contudo, o que havia na realidade era cura e não ressurreição, na acepção legítima do termo.
Lázaro [4]

A filha de Jairo
• Item 40 •


Quanto à ressurreição de Lázaro, digam o que disserem, não infirma de modo algum esse princípio. Dizem que ele já estava no sepulcro há quatro dias; sabe-se, porém, que há letargias que duram oito dias e até mais. Acrescentam que já cheirava mal, o que é sinal de decomposição. Esta alegação também nada prova, visto que em certos indivíduos há decomposição parcial do corpo, mesmo antes da morte, havendo em tal caso cheiro de podridão. A morte só se verifica quando são atacados os órgãos essenciais à vida. Aliás, quem podia saber que Lázaro já cheirava mal? Foi sua irmã Maria quem o disse. Mas como sabia disso? Ela apenas o supunha, pois que Lázaro estava enterrado há quatro dias; entretanto, não podia ter nenhuma certeza desse fato. (Cap. XIV, item 29.) [5]

Jesus caminha sobre a água
• Item 41 •


Logo, Jesus convidou os discípulos a tomarem a barca e passarem para a outra margem, enquanto Ele se despedia do povo. – Depois das despedidas, subiu a um monte para orar e, tendo caído a noite, achou-se Ele sozinho naquele lugar.
Enquanto isso, a barca era fortemente açoitada pelas ondas, em meio do mar, porque o vento soprava em sentido contrário. – Mas, na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. [6] – Quando eles o viram andando sobre o mar, turbaram-se e diziam: É um fantasma e se puseram a gritar, amedrontados. Jesus então lhes falou, dizendo: Tranquilizai-vos, sou eu, não tenhais medo.
Pedro lhe respondeu: Senhor, se és Tu, manda que eu vá ao teu encontro, caminhando sobre as águas. Disselhe Jesus: Vem. Então Pedro, descendo da barca, caminhava sobre a água, ao encontro de Jesus. Mas, vindo um grande vento, ele teve medo; e como começasse a submergir, clamou: Senhor, salva-me. Logo, Jesus, estendendo-lhe a mão, disse: Homem de pouca fé! Por que duvidaste? – E, tendo subido para a barca, cessou o vento. – Então, os que estavam na barca, aproximando-se dele, o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és o filho de Deus. (São Mateus 14:22-33.)

Jesus caminha sobre a água
• Item 42 •


Este fenômeno encontra explicação natural nos princípios acima expostos, cap. XIV, item 43. Exemplos análogos provam que ele nada tem de impossível, nem de miraculoso, pois que se produz sob a ação das Leis da Natureza. Pode operar-se de duas maneiras:

Jesus, embora estivesse vivo, pôde aparecer sobre a água com uma forma tangível, enquanto seu corpo permanecia em outro lugar. É a hipótese mais provável. Pode-se mesmo reconhecer, nessa narrativa, alguns sinais característicos das aparições tangíveis. (Cap. XIV, itens 35 a 37.)

Por outro lado, também pode ter sucedido que seu corpo fosse sustentado e neutralizada a sua gravidade pela mesma força fluídica que mantém uma mesa no espaço, sem ponto de apoio. Idêntico efeito se produz muitas vezes com os corpos humanos.

Transfiguração
• Item 43 •


Seis dias depois, tendo chamado Pedro, Tiago e João em particular, Jesus os levou consigo a um alto monte afastado [7] e se transfigurou diante deles. – Enquanto orava, seu rosto pareceu inteiramente outro; suas vestes se tornaram brilhantemente luminosas e brancas como a neve, como nenhum lavadeiro na Terra é capaz de fazer alguma tão alva. – E eles viram aparecer Elias e Moisés, a conversar com Jesus.
Então, disse Pedro a Jesus: Mestre, estamos bem aqui; façamos três tendas: uma para ti, outra para Moisés, outra para Elias. – É que ele não sabia o que dizia, tão espantado estava.
Ao mesmo tempo, apareceu uma nuvem que os cobriu; e, dessa nuvem, partiu uma voz, fazendo ouvir estas palavras: Este é o meu Filho bem-amado; escutai-o.
Logo, olhando para todos os lados, a ninguém mais viram, senão a Jesus, que ficara a sós com eles.
Quando desciam do monte, ordenou-lhes Ele que a ninguém falassem do que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos. – E eles conservaram o fato em segredo, inquirindo uns dos outros o que teria Ele querido dizer com estas palavras: Até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dentre os mortos. (São Marcos 9:2-9.)

Transfiguração
• Item 44 •


É ainda nas propriedades do fluido perispirítico que se encontra a explicação deste fenômeno. A transfiguração, explicada no cap. XIV, item 39, é um fato bastante comum que, em virtude da irradiação fluídica, pode modificar a aparência de um indivíduo; mas a pureza do perispírito de Jesus permitiu que seu Espírito lhe desse excepcional fulgor. Quanto à aparição de Moisés e Elias cabe inteiramente no rol de todos os fenômenos do mesmo gênero. (Cap. XIV, itens 35 e seguintes.)

De todas as faculdades que Jesus revelou, nenhuma se encontra fora das condições da humanidade e que não se ache comumente nos homens, porque estão todas na ordem da Natureza. Mas, pela superioridade de sua essência moral e de suas qualidades fluídicas, aquelas faculdades atingiram nele proporções acima das que são vulgares. Posto de lado o seu envoltório carnal, Ele nos exibia a condição dos Espíritos puros.

Tempestade aplacada
• Item 45 •


Certo dia, tendo tomado uma barca com seus discípulos, disselhes Ele: Passemos à outra margem do lago. Partiram então. Durante a travessia, Ele adormeceu. – Então, um grande turbilhão de vento se abateu de súbito sobre o lago, de sorte que, enchendo-se a barca de água, eles se viam em perigo. Aproximaram-se, pois, dele e o despertaram, dizendo-lhe: Mestre, perecemos. Jesus, levantando-se, falou, ameaçador, aos ventos e às ondas agitadas, e uns e outras se aplacaram, sobrevindo grande calma. Ele então lhes disse: Onde está a vossa fé? Eles, porém, cheios de temor e admiração, perguntavam uns aos outros: Quem é este que assim dá ordens ao vento e às ondas, e eles lhe obedecem? (São Lucas 8:22-25.)

Tempestade aplacada
• Item 46 •


Ainda não conhecemos bastante os segredos da Natureza para dizer se há ou não inteligências ocultas presidindo à ação dos elementos. Na hipótese de haver, o fenômeno em questão poderia ter resultado de um ato de autoridade sobre essas inteligências e provaria um poder que não é permitido a nenhum homem exercer.
Seja como for, o fato de Jesus dormir tranquilamente durante a tempestade, atesta, de sua parte, uma segurança que só se pode explicar pela circunstância de que seu Espírito via não haver perigo nenhum e que a tempestade ia se acalmar.

Bodas de Caná
• Item 47 •


Este milagre, mencionado apenas no Evangelho de João, é apresentado como o primeiro que Jesus realizou e, nessas condições, deveria ter sido um dos mais notados. Entretanto, parece haver produzido bem fraca impressão, visto que nenhum outro evangelista trata dele. Um fato tão extraordinário era para deixar espantados os convivas no mais alto grau e sobretudo o dono da casa, os quais, todavia, parece que não o perceberam.
Considerado em si mesmo, esse fato tem pouca importância em comparação com os que, verdadeiramente, atestam as qualidades espirituais de Jesus. Admitindo que as coisas se tenham passado conforme foram narradas, é notável que seja esse o único fenômeno de tal gênero que se tenha produzido. Jesus era de natureza extremamente elevada para se ater a efeitos puramente materiais, destinados apenas a aguçar a curiosidade da multidão que, então, o teria nivelado a um mágico. Ele sabia que as coisas úteis lhe conquistariam mais simpatias e lhe granjeariam mais adeptos do que as que facilmente passassem por fruto de grande habilidade e destreza, mas que não tocavam o coração. (Cap. XIV, item 27.)

Se bem que o fato se possa explicar, até certo ponto, por uma ação fluídica que houvesse mudado as propriedades da água, dando-lhe o sabor de vinho, conforme atestam numerosos exemplos oferecidos pelo magnetismo, essa hipótese é pouco provável, considerando-se que, em tal caso, tendo do vinho unicamente o sabor, a água teria conservado a sua coloração, o que não deixaria de ser notado. É mais racional que se veja aí uma daquelas parábolas tão frequentes nos ensinos de Jesus, como a do filho pródigo, a do festim das bodas, do mau rico, da figueira que secou, e tantas outras, que, todavia, se apresentam com caráter de fatos ocorridos. Provavelmente, durante as refeições, Ele terá aludido ao vinho e à água, tirando de ambos um ensinamento. O que justifica esta opinião são as palavras que o mordomo lhe dirige a respeito: “Toda gente serve em primeiro lugar o vinho bom e, depois que todos o têm bebido muito, serve o menos fino; tu, porém, reservaste até agora o bom vinho”.
Entre duas hipóteses, deve-se preferir a mais racional; e os espíritas não são tão crédulos a ponto de só verem manifestações por toda parte, nem tão absolutos em suas opiniões que pretendam explicar tudo por meio dos fluidos.

Multiplicação dos pães
• Item 48 •


A multiplicação dos pães é um dos milagres que mais têm intrigado os comentadores e, ao mesmo tempo, alimentado as zombarias dos incrédulos. Sem se darem ao trabalho de lhe perscrutar o sentido alegórico, para estes últimos ele não passa de um conto pueril. Entretanto, a maioria das pessoas sérias tem visto na narrativa desse fato, embora sob forma diferente da ordinária, uma parábola, em que se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo.
Pode-se, todavia, perceber nela mais do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorrer ao prodígio. É sabido que uma grande preocupação de espírito, bem como a atenção fortemente presa a uma coisa fazem esquecer a fome. Ora, os que seguiam a Jesus eram criaturas ávidas de ouvi-lo; nada, pois, há de espantoso em que, fascinados por sua palavra e talvez também pela poderosa ação magnética que Ele exercia sobre os que o cercavam, estes não tenham experimentado a necessidade material de comer.
Jesus, que previa esse resultado, não teve nenhuma dificuldade para tranquilizar os discípulos, dizendo-lhes, na linguagem figurada que lhe era habitual, e admitindo que realmente houvessem trazido pães, que estes bastariam para saciar a fome da multidão. Ao mesmo tempo, dava aos discípulos uma lição, dizendo-lhes: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Ensinava-lhes, assim, que eles também podiam alimentar por meio da palavra.
Dessa forma, a par do sentido moral alegórico, produziu-se um efeito fisiológico natural e muito conhecido. O prodígio, no caso, está no ascendente da palavra de Jesus, bastante poderosa para cativar a atenção de uma multidão imensa, a ponto de fazê-la esquecer-se de comer. Esse poder moral comprova a superioridade de Jesus, muito mais do que o fato puramente material da multiplicação dos pães, que deve ser considerada como alegoria. O próprio Jesus, aliás, confirmou esta explicação nas duas passagens seguintes:

O fermento dos fariseus

Multiplicação dos pães
• Item 49 •


Ora, tendo seus discípulos passado para o outro lado do mar, esqueceram-se de levar pães. – Jesus lhes disse: Tende o cuidado de vos precaver contra o fermento dos fariseus e dos saduceus. – Eles, porém, pensavam e diziam entre si: É porque não trouxemos pães.
Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Homens de pouca fé, por que haveis de estar cogitando de não terdes trazido pães? Ainda não compreendeis e não vos lembrais quantos cestos levastes? – Como não compreendereis que não é do pão que eu vos falava, quando disse que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus.
?les então compreenderam que ele não lhes dissera que se preservassem do fermento que se põe no pão, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus. (São Mateus 16:5-12.)

O pão do céu

Multiplicação dos pães
• Item 50 •


No dia seguinte, o povo, que permanecera do outro lado do mar, notou que lá não chegara outra barca e que Jesus não havia entrado na que seus discípulos tomaram, que estes haviam partido sós – e como tinham chegado depois outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde o Senhor, após render graças, os alimentara com cinco pães; – e como verificassem por fim que Jesus não estava lá, tampouco seus discípulos, entraram naquelas barcas e foram para Cafarnaum, em busca de Jesus. – E, tendo-o encontrado além do mar, disseram-lhe: Mestre, quando vieste para cá.
?esus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que me procurais, não por causa dos milagres que vistes, mas porque eu vos dei pão a comer e ficastes saciados. – Trabalhai por ter, não o alimento que perece, mas o que dura para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará, porque foi nele que Deus, o Pai, imprimiu seu selo e seu caráter.
Perguntaram-lhe eles: Que devemos fazer para produzir obras de Deus? – Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é que creiais naquele que Ele enviou.
Perguntaram-lhe então: Que milagre operarás que nos faça crer, vendo-o? Que farás de extraordinário? – Nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele lhes deu de comer o pão do céu.
Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que Moisés não vos deu o pão do céu; meu Pai é quem dá o verdadeiro pão do céu – porque o pão de Deus é aquele que desceu do céu e que dá vida ao mundo.
Disseram eles então: Senhor, dá-nos sempre desse pão.
Jesus lhes respondeu: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê não terá sede. – Mas, eu já vos disse: vós me tendes visto e não credes.
Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim tem a vida eterna. – Eu sou o pão da vida. – Vossos pais comeram o maná do deserto e morreram. – Aqui está o pão que desceu do céu, a fim de que quem dele comer não morra. (São João 6:22-36; 47 a 50.)

Multiplicação dos pães
• Item 51 •


Na primeira passagem, Jesus, lembrando o fato precedentemente produzido, dá claramente a entender que não se tratara de pães materiais, pois, a não ser assim, não teria sentido a comparação por Ele estabelecida com o fermento dos fariseus: “Ainda não compreendeis”, diz Ele, “e não vos recordais de que cinco pães bastaram para cinco mil pessoas e de que dois pães foram suficientes para quatro mil? Como não compreendestes que não era de pão que eu vos falava, quando vos dizia que vos preservásseis do fermento dos fariseus?”. Esse confronto não teria nenhuma razão de ser na hipótese de uma multiplicação material. O fato teria sido muito extraordinário em si mesmo e, como tal, deveria ter impressionado fortemente a imaginação dos discípulos, que, entretanto, pareciam não mais se lembrar dele.
. o que também ressalta com a mesma clareza do discurso que Jesus proferiu sobre o pão do céu, empenhado em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento espiritual. “Trabalhai”, diz Ele, “não por conseguir o alimento que perece, mas pelo que se conserva para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará”. Esse alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo. “Eu sou”, declara Ele, “o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que crê em mim jamais terá sede”.
Tais distinções, porém, eram muito sutis para aquelas naturezas rudes, que só compreendiam as coisas tangíveis. Para eles, o maná que alimentara o corpo de seus antepassados era o verdadeiro pão do céu; aí é que estava o milagre. Se, pois, o fato da multiplicação dos pães houvesse ocorrido materialmente, por que teria impressionado tão fracamente aqueles mesmos homens, em benefício dos quais essa multiplicação se realizara poucos dias antes, a ponto de perguntarem a Jesus: “Que milagre farás para que, vendo-o, te creiamos? Que farás de extraordinário?”. É que eles entendiam por milagres os prodígios que os fariseus pediam, isto é, sinais que aparecessem no céu por ordem de Jesus, como pela varinha de um mágico. Ora, o que Jesus fazia era simples demais e não se afastava das Leis da Natureza; as próprias curas não possuíam caráter estranho, nem muito extraordinário. Para eles, os milagres espirituais não representavam grande coisa.

Tentação de Jesus
• Item 52 •


Jesus, transportado pelo diabo ao pináculo do templo, depois ao cume de uma montanha e tentado por ele, constitui uma daquelas parábolas que lhe eram familiares e que a credulidade pública transformou em fatos materiais. [8]

Tentação de Jesus
• Item 53 •


“Jesus não foi arrebatado. Ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha sujeita a falir e que deve manter-se sempre vigilante contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder. A tentação de Jesus é, pois, uma figura e fora preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. Como pretenderíeis que o Messias, o Verbo de Deus encarnado, tenha estado submetido, por algum tempo, por mais curto que fosse, às sugestões do demônio e que, como diz o Evangelho de Lucas, o demônio o houvesse deixado por algum tempo, o que levaria a supor que o Cristo continuou submetido ao poder daquela entidade maléfica? Não; compreendei melhor os ensinos que vos foram dados. O Espírito do mal não teria nenhum poder sobre a essência do bem. Ninguém diz ter visto Jesus no cume da montanha, nem no pináculo do Templo. Sem dúvida, tal fato se teria espalhado por todos os povos. A tentação, portanto, não constituiu um ato material e físico. Quanto ao ato moral, admitiríeis que o Espírito das trevas pudesse dizer àquele que conhecia sua própria origem e o seu poder: ‘Adorame, que te darei todos os reinos da Terra?’. Então o demônio desconheceria aquele a quem fazia tais oferecimentos? Não é provável. Ora, se o conhecia, suas propostas eram uma insensatez, pois ele sabia perfeitamente que seria repelido por aquele que viera destruir o seu império sobre os homens.
.Compreendei, portanto, o sentido dessa parábola, pois se trata apenas de uma parábola, do mesmo modo que nos casos do Filho Pródigo e do Bom Samaritano. Aquela mostra os perigos que correm os homens, se não resistem à voz íntima que lhes clama sem cessar: ‘Podes ser mais do que és; podes possuir mais do que possuis; podes engrandecer-te, adquirir muito; cede à voz da ambição e todos os teus desejos serão satisfeitos’. Ela vos mostra o perigo e o meio de o evitardes, dizendo às más inspirações: Retira-te, Satanás ou, por outras palavras: Vai-te, tentação.
!As duas outras parábolas que lembrei mostram o que ainda pode esperar aquele que, por muito fraco para expulsar o demônio, lhe sucumbiu às tentações. Mostram a misericórdia do pai de família, pousando a mão sobre a fronte do filho arrependido e concedendo-lhe, com amor, o perdão implorado. Mostram o culpado, o cismático, o homem repelido por seus irmãos, valendo mais, aos olhos do Juiz Supremo, do que os que o desprezam, por praticar Ele as virtudes ensinadas pela lei de amor.
.Pesai bem os ensinamentos que os Evangelhos contêm; sabei distinguir o que ali está em sentido próprio, ou em sentido figurado, e os erros que vos têm cegado durante tantos séculos se apagarão pouco a pouco, cedendo lugar à brilhante luz da verdade”. – João Evangelista (Bordeaux, 1862.)

Prodígios por ocasião da morte de Jesus
• Item 54 •


Ora, desde a sexta hora do dia até a nona, toda a Terra se cobriu de trevas.
Ao mesmo tempo o véu do Templo se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu; as pedras se fenderam; – os sepulcros se abriram e muitos corpos de santos, que estavam no sono da morte, ressuscitaram; – e, saindo de seus túmulos após a ressurreição, vieram à cidade santa e foram vistos por muitas pessoas. (São Mateus 27:45-51 a 53.)

Prodígios por ocasião da morte de Jesus
• Item 55 •


É estranho que tais prodígios, operando-se no próprio momento em que a atenção da cidade se concentrava no suplício de Jesus, que era o acontecimento do dia, não tenham sido notados, já que nenhum historiador os menciona. Parece impossível que um tremor de terra e o fato de ficar toda a Terra envolta em trevas durante três horas, num país onde o céu é sempre de perfeita limpidez, tenham passado despercebidos.
A duração de tal obscuridade teria sido quase a de um eclipse do Sol, mas os eclipses dessa espécie só se produzem na lua nova, e a morte de Jesus ocorreu em fase de lua cheia, a 14 de nissan, dia da Páscoa dos judeus.
O obscurecimento do Sol também pode ser produzido pelas manchas que se observam na sua superfície. Em tal caso, o brilho da luz se enfraquece sensivelmente, porém nunca a ponto de produzir obscuridade e trevas. Supondo que um fenômeno desse gênero tivesse ocorrido, ele resultaria de uma causa perfeitamente natural. [9]

Quanto aos mortos que ressuscitaram, possivelmente algumas pessoas tiveram visões ou viram aparições, o que não é excepcional. Entretanto, como então não se conhecia a causa desse fenômeno, presumiram que as figuras vistas saíam dos sepulcros.
Comovidos com a morte de seu Mestre, os discípulos de Jesus sem dúvida ligaram a essa morte alguns fatos particulares, aos quais não teriam prestado nenhuma atenção em outra ocasião. Bastou, talvez, que um fragmento de rochedo se haja destacado naquele momento para que pessoas inclinadas ao maravilhoso tenham visto nesse fato um prodígio e, ampliando-o, tenham dito que as pedras se fenderam.
Jesus é grande por suas obras e não pelos quadros fantásticos com que um entusiasmo pouco ponderado achou por bem envolvê-lo.

Aparição de Jesus após sua morte
• Item 56 •


Mas Maria (Madalena) se conservou fora, perto do sepulcro, a derramar lágrimas. E, estando a chorar, como se abaixasse para olhar dentro do sepulcro – viu dois anjos vestidos de branco, assentados no lugar onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira, o outro ao lado dos pés. – Disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela respondeu: É que levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram.
Tendo dito isto, voltou-se e viu Jesus de pé, sem saber, entretanto, que fosse Jesus. – Este então lhe disse: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, pensando que fosse o jardineiro, lhe disse: Senhor, se foste tu quem o tirou, dizei-me onde o puseste e eu o levarei.
Disselhe Jesus: Maria. Logo ela se voltou e disse: Rabboni, isto é: Meu Senhor. – Jesus lhe respondeu: Não me toques, porque ainda não subi para o meu Pai; mas vai ter com meus irmãos e dize-lhes de minha parte: Subo a meu Pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus.
Maria Madalena foi então dizer aos discípulos que vira o Senhor e que este lhe dissera aquelas coisas. (São João 20:11-18.)

Aparição de Jesus após sua morte
• Item 57 •


Naquele mesmo dia, indo dois deles para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios – falavam entre si de tudo o que se passara. – E aconteceu que, quando conversavam e discorriam sobre isso, Jesus se lhes juntou e se pôs a caminhar com eles; – seus olhos, porém, estavam tolhidos, a fim de que não o pudessem reconhecer. – Ele disse: De que vínheis falando a caminhar e por que estais tão tristes.
?m deles, chamado Cleofas, tomando a palavra disse: Serás em Jerusalém o único estrangeiro que não saiba do que aí se passou nestes últimos dias? – Que foi? perguntou Ele. Responderam-lhe: A respeito de Jesus de Nazaré, que foi um poderoso profeta diante de Deus e diante de toda a gente, e acerca do modo por que os príncipes dos sacerdotes e os nossos senadores o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. – Ora, nós esperávamos fosse Ele quem resgatasse Israel, no entanto já estamos no terceiro dia depois que tais coisas aconteceram. – É certo que algumas mulheres das que estavam conosco nos espantaram, pois que, tendo ido ao seu sepulcro antes do romper do dia, nos vieram dizer que anjos mesmos lhes apareceram, dizendo-lhes que Ele está vivo. – E alguns dos nossos, tendo ido também ao sepulcro, encontraram todas as coisas conforme as mulheres haviam referido; mas, quanto a Ele, não o encontraram.
Disselhes então Jesus: Ó Insensatos, de coração tardo a crer em tudo que os profetas disseram! Não era preciso que o Cristo sofresse todas essas coisas e que entrasse assim na sua glória? – E, a começar de Moisés, passando em seguida por todos os profetas, lhes explicava o que em todas as Escrituras fora dito dele.
Ao se aproximarem da aldeia para onde se dirigiam, Ele deu mostras de que ia mais longe. – Os dois o obrigaram a deter-se, dizendo-lhe: Fica conosco, que já é tarde e o dia está em declínio. Ele entrou com os dois. – Estando com eles à mesa, tomou do pão, abençoou-o e lhes deu. – Abriram-se-lhes ao mesmo tempo os olhos e ambos o reconheceram; Ele, porém, lhes desapareceu das vistas.
Então, disseram um ao outro: Não é verdade que o nosso coração ardia dentro de nós, quando Ele nos falava pelo caminho, explicando-nos as Escrituras? – E, erguendo-se no mesmo instante, voltaram a Jerusalém e viram que os onze apóstolos e os que continuavam com eles estavam reunidos – e diziam: O Senhor em verdade ressuscitou e apareceu a Simão. – Então, também eles narraram o que lhes acontecera em caminho e como o tinham reconhecido ao partir o pão.
Enquanto assim confabulavam, Jesus se apresentou no meio deles e lhes disse: A paz seja convosco; sou eu, não vos assusteis. – Mas, na perturbação e no medo de que foram tomados, eles imaginaram estar vendo um Espírito.
E Jesus lhes disse: Por que vos turbais? Por que se elevam tantos pensamentos nos vossos corações? – Olhai para as minhas mãos e para os meus pés e reconhecei que sou eu mesmo. Tocai-me e considerai que um Espírito não tem carne, nem osso, como vedes que eu tenho. – Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés.
Mas como eles ainda não acreditassem, tão transportados de alegria e de admiração se achavam, disselhes: Tendes aqui alguma coisa que se coma? – Eles lhe apresentaram um pedaço de peixe assado e um favo de mel. – Ele comeu diante deles e, tomando os restos, lhes deu, dizendo: Eis que, estando ainda convosco, eu vos dizia que era necessário que se cumprisse tudo o que de mim fora escrito na lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos.
Ao mesmo tempo lhes abriu o espírito, a fim de que entendessem as Escrituras – e lhes disse: É assim que está escrito e assim era que se fazia necessário que o Cristo sofresse e ressuscitasse dentre os mortos ao terceiro dia; – e que se pregasse em seu nome a penitência e a remissão dos pecados em todas as nações, a começar por Jerusalém. Ora, vós sois testemunhas dessas coisas. – Vou enviar-vos o dom de meu Pai, o qual vos foi prometido; mas, por enquanto, permanecei na cidade, até que eu vos haja revestido da força do Alto. (São Lucas 24:13-49.)

Aparição de Jesus após sua morte
• Item 58 •


Ora, Tomé, um dos doze apóstolos, chamado Dídimo, não se achava com eles quando veio Jesus. – Os outros discípulos então lhe disseram: Vimos o Senhor. Ele, porém, lhes disse: Se eu não vir nas suas mãos as marcas dos cravos que as atravessaram e não puser o dedo no buraco feito pelos cravos e minha mão no rasgão do seu lado, não acreditarei, absolutamente.
Oito dias depois, estando ainda os discípulos no mesmo lugar e com eles Tomé, Jesus se apresentou, achando-se fechadas as portas, e, colocando-se no meio deles, disselhes: A paz seja convosco.
Disse em seguida a Tomé: Põe aqui o teu dedo e olha minhas mãos; estende também a tua mão e mete-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas fiel. – Tomé lhe respondeu: Meu Senhor e meu Deus! – Jesus lhe disse: Tu creste, Tomé, porque viste; felizes os que não viram e creram. (São João 20:24-29.)

Aparição de Jesus após sua morte
• Item 59 •


Jesus também se mostrou depois aos seus discípulos à margem do mar de Tiberíades, manifestando-se desta forma:
Simão, Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná, na Galileia, os filhos de Zebedeu e dois outros de seus discípulos estavam juntos. – Disselhes Simão Pedro: Vou pescar. Os outros disseram: Também nós vamos contigo. Foram-se e entraram numa barca; mas, naquela noite, nada apanharam.
Ao amanhecer, Jesus apareceu à margem sem que seus discípulos conhecessem que era Ele. – Disselhes então: Filhos, nada tendes que se coma? Responderam-lhe: Não. Disselhes Ele: Lançai a rede do lado direito da barca e achareis. Eles a lançaram logo e quase não a puderam retirar, tão carregada estava de peixes.
Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor. Simão Pedro, ao ouvir que era o Senhor, vestiu-se (pois estava nu) e se atirou ao mar. – Os outros discípulos vieram com a barca, e, como não estavam distantes da praia mais de duzentos côvados, puxaram daí a rede cheia de peixes. (São João 21:1-8.)

Aparição de Jesus após sua morte
• Item 60 •


Depois disso, Ele os conduziu a Betânia e, tendo lavado as mãos, os abençoou – após o que se separou deles e foi arrebatado ao céu.
Quanto a eles, depois de o terem adorado, voltaram para Jerusalém, cheios de alegria. – Estavam constantemente no Templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém. (São Lucas 24:50-53.)

Aparição de Jesus após sua morte
• Item 61 •


Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte, com detalhes circunstanciados que não permitem se duvide da sua realidade. Elas, aliás, se explicam perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e não apresentam nada de anômalo em face do fenômeno do mesmo gênero, de que a História, antiga e moderna, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias em que ocorreram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões, todas as características de um ser fluídico. Aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o veem, outros não, sob aparências que nem mesmo os seus discípulos o reconhecem; mostra-se em recintos fechados, onde um corpo carnal não poderia penetrar; sua própria linguagem não tem a vivacidade da de um ser corpóreo; fala em tom breve e sentencioso, peculiar aos Espíritos que se manifestam daquela maneira; todas as suas atitudes, em suma, denotam alguma coisa que não é do mundo terreno. Sua presença causa simultaneamente surpresa e medo; ao vê-lo, seus discípulos não lhe falam com a mesma liberdade de antes; sentem que já não é um homem.
Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto pelos que Ele quis que o vissem. Se estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava vivo. Ignorando a causa primeira do fenômeno das aparições, seus discípulos não se davam conta dessas particularidades que, provavelmente, não lhes mereciam qualquer atenção. Já que viam o Mestre e o tocavam, para eles aquele era o corpo ressuscitado de Jesus. (Cap. XIV, itens 14 e 35 a 38.)

Aparição de Jesus após sua morte
• Item 62 •


Ao passo que a incredulidade rejeita todos os fatos que Jesus produziu, por terem uma aparência sobrenatural, e os considera, sem exceção, lendários, o Espiritismo dá explicação natural à maior parte desses fatos. Prova a possibilidade deles, não só pela teoria das leis fluídicas, como pela identidade que apresentam com fatos análogos produzidos por uma multidão de pessoas, nas mais vulgares condições. Por serem, de certo modo, do domínio público, tais fatos nada provam, em princípio, com relação à natureza excepcional de Jesus. [10]

Aparição de Jesus após sua morte
• Item 63 •


O maior milagre que Jesus operou, o que verdadeiramente atesta a sua superioridade, foi a revolução que seus ensinamentos produziram no mundo, apesar da exiguidade dos seus meios de ação.
Com efeito, Jesus, obscuro, pobre, nascido na mais humilde condição, no seio de um povo pequenino, quase ignorado e sem preponderância política, artística ou literária, prega a sua doutrina apenas durante três anos; em todo esse curto espaço de tempo é desprezado e perseguido pelos seus concidadãos, caluniado, tratado de impostor; vê-se obrigado a fugir para não ser lapidado; é traído por um de seus apóstolos, renegado por outro, abandonado por todos no momento em que cai nas mãos de seus inimigos. Só fazia o bem, mas isso não o impedia de ser alvo da malevolência, que dos próprios serviços que Ele prestava tirava motivos para o acusar. Condenado ao suplício reservado aos criminosos, morre ignorado do mundo, visto que a História daquela época nada diz a seu respeito. [11] Nada escreveu; entretanto, ajudado por alguns homens tão obscuros quanto Ele, sua palavra bastou para regenerar o mundo; sua doutrina matou o paganismo onipotente e se tornou o farol da civilização. Tinha contra si tudo o que causa o malogro das obras dos homens, razão por que dizemos que o triunfo alcançado pela sua doutrina foi o maior dos seus milagres, provando, ao mesmo tempo, ser divina a sua missão. Se, em vez de princípios sociais e regeneradores, fundados sobre o futuro espiritual do homem, Ele só tivesse a oferecer à posteridade alguns fatos maravilhosos, talvez hoje mal o conhecêssemos de nome.

Desaparecimento do corpo de Jesus
• Item 64 •


O desaparecimento do corpo de Jesus após sua morte tem sido objeto de inúmeros comentários. É atestado pelos quatro evangelistas, baseados nos relatos das mulheres que foram ao sepulcro no terceiro dia depois da crucificação e lá não o encontraram. Algumas pessoas viram nesse desaparecimento um fato milagroso, enquanto outras o atribuíam a uma subtração clandestina.
Segundo outra opinião, Jesus não teria revestido um corpo carnal, mas apenas um corpo fluídico; não teria sido, em toda a sua vida, mais do que uma aparição tangível, uma espécie de agênere, em suma. Seu nascimento, sua morte e todos os atos materiais de sua vida teriam sido apenas aparentes. Foi assim que, dizem, seu corpo, voltado ao estado fluídico, pôde desaparecer do sepulcro e foi com esse mesmo corpo que Ele se teria mostrado depois de sua morte.
Sem dúvida, semelhante fato não é radicalmente impossível, dentro do que hoje se sabe sobre as propriedades dos fluidos; mas, seria, pelo menos, inteiramente excepcional e em formal oposição ao caráter dos agêneres. (Cap. XIV, item 36.) Trata-se, pois, de saber se tal hipótese é admissível, ou se é confirmada ou contraditada pelos fatos.

Desaparecimento do corpo de Jesus
• Item 65 •


A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida. [12] Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias da sua vida, revela as características inequívocas da corporeidade. Os fenômenos de ordem psíquica que nele se produzem são acidentais e nada têm de anômalos, visto que se explicam pelas propriedades do perispírito e se dão, em graus diferentes, noutros indivíduos. Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela o ser fluídico. A diferença entre os dois estados é tão marcante que não podem ser assimilados.
O corpo carnal tem as propriedades inerentes à matéria propriamente dita, propriedades que diferem essencialmente das dos fluidos etéreos; naquela, a desorganização se opera pela ruptura da coesão molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento cortante lhe divide os tecidos; se os órgãos essenciais à vida forem atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevém a morte do corpo. Não existindo nos corpos fluídicos essa coesão, a vida já não depende aí da ação de órgãos especiais, de modo que não se podem produzir desordens análogas àquelas. Um instrumento cortante ou outro qualquer penetra num corpo fluídico como se penetrasse numa massa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer lesão. É por isso que não podem morrer os corpos dessa natureza e por que os seres fluídicos, designados pelo nome de agêneres, não podem ser mortos.
Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida. Foi sepultado como o são comumente os corpos, e todos o puderam ver e tocar. Após a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra, não morreu de novo; seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz. Deve-se, pois, concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que Ele tinha um corpo carnal.
Em virtude de suas propriedades materiais, o corpo carnal é a sede das sensações e das dores físicas, que repercutem no centro sensitivo ou Espírito. Não é o corpo quem sofre, mas o Espírito, que recebe o contragolpe das lesões ou alterações dos tecidos orgânicos. Num corpo privado de Espírito, a sensação é absolutamente nula. Pela mesma razão, o Espírito, que não tem corpo material, não pode experimentar os sofrimentos que resultam da alteração da matéria, devendo-se igualmente concluir que, se Jesus sofreu materialmente, como ninguém pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de todas as pessoas.

Desaparecimento do corpo de Jesus
• Item 66 •


Aos fatos materiais vêm juntar-se fortíssimas considerações morais.
Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, Ele não teria experimentado nem a dor, nem qualquer das necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele não passasse de aparência, todos os atos de sua vida, a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse o cálice dos lábios, sua paixão, sua agonia, tudo, até o último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria sido mais que um vão simulacro para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, e, com mais forte razão, indigna de um ser tão superior. Numa palavra, Ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.
Como todo homem, Jesus teve, pois, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.

Desaparecimento do corpo de Jesus
• Item 67 •


Essa ideia sobre a natureza do corpo de Jesus não é nova. No quarto século, Apolinário, de Laodiceia, chefe da seita dos apolinaristas, pretendia que Jesus não tomara um corpo como o nosso, mas um corpo impassível, que descera do céu ao seio da santa Virgem e que não nascera dela; que, assim, Jesus não havia nascido, nem sofrido, nem morrido, senão em aparência. Os apolinaristas foram anatematizados no concílio de Alexandria, em 360; no de Roma, em 374; e no de Constantinopla, em 381.
Os docetas (do grego dokein, aparecer), seita numerosa dos gnósticos, que subsistiu durante os três primeiros séculos, tinham a mesma crença.124

[1] N. do T.: Mateus 8:28-33; Marcos 5:1-14; Lucas 8:26-34.

[2]N. de A. K.: Nem todos os teólogos adotam opiniões tão absolutas sobre a doutrina demoníaca. Aqui está uma cujo valor o clero não pode contestar, emitida por um eclesiástico, Monsenhor Freyssinous, bispo de Hermópolis, na seguinte passagem das suas Conferências sobre a religião, volume II, p. 341 (Paris, 1825):

“Se Jesus operasse seus milagres pelo poder do demônio, este teria trabalhado pela destruição do seu império e, portanto, empregado contra si próprio o seu poder. Certamente, um demônio que procurasse destruir o reinado do vício para implantar o da virtude seria um demônio muito singular. Eis por que Jesus, para repelir a absurda acusação dos judeus, lhes dizia: Se opero prodígios em nome do demônio, o demônio está dividido consigo mesmo, trabalhando, conseguintemente, para a sua própria destruição”. Esta resposta não admite réplica.
. justamente o argumento que os espíritas opõem aos que atribuem ao demônio os bons conselhos que os Espíritos lhes dão. O demônio agiria então como um ladrão profissional que restituísse tudo o que houvesse roubado e exortasse os outros ladrões a se tornarem pessoas honestas.

[3]N. de A. K.: Uma prova desse costume se encontra nos At 5:5 e seguintes: “Ananias, tendo ouvido aquelas palavras, caiu e rendeu o Espírito e todos os que ouviram falar disso foram tomados de grande temor. – Logo, alguns rapazes vieram buscar-lhe o corpo e, tendo-o levado, o enterraram. – Passadas umas três horas, sua mulher (Safira), que nada sabia do que acontecera, entrou. – E Pedro lhe disse... etc. – No mesmo instante, ela caiu aos seus pés e rendeu o Espírito. Aqueles rapazes, voltando, a encontraram morta e, levando-a, enterraram-na junto do marido”.

[4] N. de T.: Este subtítulo não fazia parte da 4a edição do original francês, que serviu de frase para esta tradução. Consta, porém, no “Sumário” da obra, razão por que o inserimos aqui.

[5]N. de A. K.: O fato seguinte prova que a decomposição precede algumas vezes a morte. No convento do Bom Pastor, fundado em Toulon, pelo padre Marin, capelão dos cárceres, e destinado às decaídas que se arrependem, encontrava-se uma jovem que suportara os mais terríveis sofrimentos com a calma e a impassibilidade de uma vítima expiatória. Em meio de suas dores parecia sorrir a uma visão celestial. Como Santa Teresa, pedia para sofrer mais, embora suas carnes já se achassem em frangalhos e a gangrena já devastasse seus membros. Por sábia previdência, os médicos tinham recomendado que enterrassem o corpo imediatamente após o falecimento. Mas coisa estranha! Mal a doente exalou o último suspiro, cessou todo o trabalho de decomposição; desapareceram as exalações cadavéricas, de sorte que durante trinta e seis horas o corpo pôde ficar exposto às preces e à veneração da comunidade.

[6]N. de A. K.: O lago de Genesaré ou de Tiberíades.

[7]N. de A. K.: O Monte Tabor, a sudoeste do lago de Tabarich e a 11 quilômetros a sudeste de Nazaré, tem cerca de 1.000 metros de altura.

[8]N. de A. K.: A explicação que se segue é a reprodução textual de uma instrução que um Espírito deu a esse respeito.

[9]N. de A. K.: Há constantemente, na superfície do Sol, manchas fixas, que lhe acompanham o movimento de rotação e têm servido para se determinar a duração desse movimento. Às vezes, porém, essas manchas aumentam em número, em tamanho e em intensidade, e é então que se produz uma diminuição da luz e do calor solares. Este aumento do número de manchas parece coincidir com certos fenômenos astronômicos e com a posição relativa de alguns planetas, o que lhes determina o reaparecimento periódico. A duração daquele obscurecimento é muito variável; por vezes não vai além de duas ou três horas, mas, em 535, houve um que durou quatorze meses.

[10]N. de A. K.: Os inúmeros fatos contemporâneos de curas, aparições, possessões, dupla vista e outros, que se encontram relatados na Revista Espírita e lembrados nas observações anteriores, oferecem, até quanto aos pormenores, tão flagrante analogia com os narrados pelo Evangelho, que ressalta evidente a identidade dos efeitos e das causas. Não se compreende que o mesmo fato tivesse hoje uma causa natural e que, outrora, essa causa fosse sobrenatural; diabólica com uns e divina com outros. Se fosse possível confrontá-los aqui uns com os outros, a comparação se tornaria mais fácil. Impossível, contudo, fazê-lo, dado o grande número deles e os desenvolvimentos que a narrativa reclamaria.

[11]N. de A. K.: O historiador judeu Flávio Josefo é o único que fala de Jesus, embora o faça em termos bem resumidos.

[12]N. de A. K.: Não nos referimos aqui ao mistério da encarnação, com o qual não temos que nos ocupar e que será examinado mais tarde.