A Gênese
CAPÍTULO XV
Os Milagres do Evangelho
Vocação de Pedro, André, Tiago, João e Mateus
• Item 9 •
Estes fatos nada apresentam de surpreendente para quem conheça o poder da dupla vista e a causa, muito natural, dessa faculdade. Jesus a possuía em grau supremo e pode-se dizer que ela constituía o seu estado normal, conforme o atesta grande número de atos da sua vida e o que explicam hoje os fenômenos magnéticos e o Espiritismo.
A pesca qualificada de miraculosa igualmente se explica pela dupla vista. Jesus não produziu peixes de modo espontâneo onde não os havia; Ele viu, com a vista da alma, como teria podido fazê-lo um lúcido vígil, o lugar onde se achavam os peixes e disse com segurança aos pescadores que lançassem ali suas redes.
A acuidade do pensamento e, por conseguinte, certas previsões, são consequência da vista espiritual. Quando Jesus chama a si Pedro, André, Tiago, João e Mateus, é que já lhes conhecia as disposições íntimas e sabia que eles o acompanhariam e que eram capazes de desempenhar a missão que planejava confiar-lhes. Era preciso que eles próprios tivessem intuição da missão que iriam desempenhar para, sem hesitação, atenderem ao chamamento de Jesus. O mesmo se deu quando, por ocasião da ceia, Ele anunciou que um dos doze o trairia e o apontou, dizendo ser aquele que punha a mão no prato, e também quando predisse que Pedro o negaria.
Em muitas passagens do Evangelho se lê: “Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, lhes diz...”. Ora, como poderia Ele conhecer o pensamento de seus interlocutores, senão pelas irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao mesmo tempo, pela visão espiritual que lhe permitia ler-lhes no foro íntimo.
?uitas vezes, supondo que um pensamento se acha sepultado nos refolhos da alma, o homem não suspeita que traz em si um espelho em que se reflete aquele pensamento, um revelador na sua própria irradiação fluídica, impregnada dele. Se víssemos o mecanismo do mundo invisível que nos cerca, as ramificações dos fios condutores do pensamento, a ligarem todos os seres inteligentes, corporais e incorpóreos, os eflúvios fluídicos carregados das marcas do mundo moral, os quais, como correntes aéreas, atravessam o espaço, ficaríamos muito menos surpreendidos diante de certos efeitos que a ignorância atribui ao acaso. (Cap. XIV, itens 15, 22 e seguintes.)