A Gênese

CAPÍTULO XV

Os Milagres do Evangelho

O paralítico da piscina
• Item 25 •


Esta narrativa, tão simples, tão singela, traz em si a marca evidente da verdade. Nada existe aí de fantástico nem de maravilhoso. É uma cena da vida real apanhada em flagrante. A linguagem do cego é exatamente a desses homens simples, nos quais o bom-senso supre a falta de saber e que retrucam com bonomia aos argumentos de seus adversários, expendendo razões a que não faltam justeza nem oportunidade. O tom dos fariseus não é o dos orgulhosos que nada admitem acima de suas inteligências e que se enchem de indignação perante a só ideia de que um homem do povo lhes possa fazer observações? Salvo a cor local dos nomes, dir-se-ia que o fato é do nosso tempo.
Ser expulso da sinagoga equivalia a ser posto fora da Igreja. Era uma espécie de excomunhão. Os espíritas, cuja doutrina é a do Cristo, interpretada de acordo com o progresso das luzes atuais, são tratados como os judeus que reconheciam em Jesus o próprio Messias. Excomungando-os, a Igreja os põe fora de seu seio, como fizeram os escribas e os fariseus com os seguidores do Cristo. Eis aí um homem que é expulso porque não pode admitir que aquele que o curou seja um possesso do demônio e porque rende graças a Deus pela sua cura.
!ão é o que fazem com os espíritas? Obter dos Espíritos salutares conselhos, reconciliação com Deus e com o bem, curas, tudo isso é obra do diabo e merecedor de anátema. Não se têm visto padres declararem, do alto do púlpito, que é melhor uma pessoa conservar-se incrédula do que recobrar a fé por meio do Espiritismo? Não há os que dizem aos doentes que estes não deviam ter procurado curar-se com os espíritas que possuem esse dom, porque esse dom é satânico? Não há os que pregam que os necessitados não devem aceitar o pão que os espíritas distribuem, por ser do diabo esse pão? Que outra coisa diziam ou faziam os padres judeus e fariseus? Aliás, fomos avisados de que tudo hoje tem que se passar como ao tempo do Cristo.
A pergunta dos discípulos: Foi algum pecado deste homem que deu causa a que ele nascesse cego? revela que eles tinham a intuição de uma existência anterior, pois, do contrário, ela não teria sentido, visto que um pecado somente pode ser causa de uma enfermidade de nascença, se cometido antes do nascimento e, por conseguinte, numa existência anterior. Se Jesus considerasse falsa semelhante ideia, ter-lhes-ia dito: “Como este homem poderia ter pecado antes de haver nascido?”. Em vez disso, porém, diz que aquele homem estava cego, não por ter pecado, mas para que nele se manifestasse o poder de Deus, isto é, para que servisse de instrumento a uma demonstração do poder de Deus. Se não era uma expiação do passado, era uma provação que devia servir ao progresso daquele Espírito, porque Deus, que é justo, não lhe imporia um sofrimento sem compensação.
Quanto ao meio empregado para o curar, é evidente que aquela espécie de lama feita de saliva e terra não podia encerrar nenhuma virtude, a não ser pela ação do fluido curativo de que fora impregnada. É assim que as substâncias mais insignificantes, como a água, por exemplo, podem adquirir qualidades poderosas e efetivas, sob a ação do fluido espiritual ou magnético, ao qual elas servem de veículo, ou, se quiserem, de reservatório.