A Gênese

CAPÍTULO XV

Os Milagres do Evangelho

Multiplicação dos pães
• Item 51 •


Na primeira passagem, Jesus, lembrando o fato precedentemente produzido, dá claramente a entender que não se tratara de pães materiais, pois, a não ser assim, não teria sentido a comparação por Ele estabelecida com o fermento dos fariseus: “Ainda não compreendeis”, diz Ele, “e não vos recordais de que cinco pães bastaram para cinco mil pessoas e de que dois pães foram suficientes para quatro mil? Como não compreendestes que não era de pão que eu vos falava, quando vos dizia que vos preservásseis do fermento dos fariseus?”. Esse confronto não teria nenhuma razão de ser na hipótese de uma multiplicação material. O fato teria sido muito extraordinário em si mesmo e, como tal, deveria ter impressionado fortemente a imaginação dos discípulos, que, entretanto, pareciam não mais se lembrar dele.
. o que também ressalta com a mesma clareza do discurso que Jesus proferiu sobre o pão do céu, empenhado em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento espiritual. “Trabalhai”, diz Ele, “não por conseguir o alimento que perece, mas pelo que se conserva para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará”. Esse alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo. “Eu sou”, declara Ele, “o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que crê em mim jamais terá sede”.
Tais distinções, porém, eram muito sutis para aquelas naturezas rudes, que só compreendiam as coisas tangíveis. Para eles, o maná que alimentara o corpo de seus antepassados era o verdadeiro pão do céu; aí é que estava o milagre. Se, pois, o fato da multiplicação dos pães houvesse ocorrido materialmente, por que teria impressionado tão fracamente aqueles mesmos homens, em benefício dos quais essa multiplicação se realizara poucos dias antes, a ponto de perguntarem a Jesus: “Que milagre farás para que, vendo-o, te creiamos? Que farás de extraordinário?”. É que eles entendiam por milagres os prodígios que os fariseus pediam, isto é, sinais que aparecessem no céu por ordem de Jesus, como pela varinha de um mágico. Ora, o que Jesus fazia era simples demais e não se afastava das Leis da Natureza; as próprias curas não possuíam caráter estranho, nem muito extraordinário. Para eles, os milagres espirituais não representavam grande coisa.