A Gênese
CAPÍTULO XV
Os Milagres do Evangelho
Prodígios por ocasião da morte de Jesus
• Item 55 •
É estranho que tais prodígios, operando-se no próprio momento em que a atenção da cidade se concentrava no suplício de Jesus, que era o acontecimento do dia, não tenham sido notados, já que nenhum historiador os menciona. Parece impossível que um tremor de terra e o fato de ficar toda a Terra envolta em trevas durante três horas, num país onde o céu é sempre de perfeita limpidez, tenham passado despercebidos.
A duração de tal obscuridade teria sido quase a de um eclipse do Sol, mas os eclipses dessa espécie só se produzem na lua nova, e a morte de Jesus ocorreu em fase de lua cheia, a 14 de nissan, dia da Páscoa dos judeus.
O obscurecimento do Sol também pode ser produzido pelas manchas que se observam na sua superfície. Em tal caso, o brilho da luz se enfraquece sensivelmente, porém nunca a ponto de produzir obscuridade e trevas. Supondo que um fenômeno desse gênero tivesse ocorrido, ele resultaria de uma causa perfeitamente natural. [9]
Quanto aos mortos que ressuscitaram, possivelmente algumas pessoas tiveram visões ou viram aparições, o que não é excepcional. Entretanto, como então não se conhecia a causa desse fenômeno, presumiram que as figuras vistas saíam dos sepulcros.
Comovidos com a morte de seu Mestre, os discípulos de Jesus sem dúvida ligaram a essa morte alguns fatos particulares, aos quais não teriam prestado nenhuma atenção em outra ocasião. Bastou, talvez, que um fragmento de rochedo se haja destacado naquele momento para que pessoas inclinadas ao maravilhoso tenham visto nesse fato um prodígio e, ampliando-o, tenham dito que as pedras se fenderam.
Jesus é grande por suas obras e não pelos quadros fantásticos com que um entusiasmo pouco ponderado achou por bem envolvê-lo.