A Gênese

CAPÍTULO XV

Os Milagres do Evangelho

Desaparecimento do corpo de Jesus
• Item 65 •


A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida. [12] Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias da sua vida, revela as características inequívocas da corporeidade. Os fenômenos de ordem psíquica que nele se produzem são acidentais e nada têm de anômalos, visto que se explicam pelas propriedades do perispírito e se dão, em graus diferentes, noutros indivíduos. Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela o ser fluídico. A diferença entre os dois estados é tão marcante que não podem ser assimilados.
O corpo carnal tem as propriedades inerentes à matéria propriamente dita, propriedades que diferem essencialmente das dos fluidos etéreos; naquela, a desorganização se opera pela ruptura da coesão molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento cortante lhe divide os tecidos; se os órgãos essenciais à vida forem atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevém a morte do corpo. Não existindo nos corpos fluídicos essa coesão, a vida já não depende aí da ação de órgãos especiais, de modo que não se podem produzir desordens análogas àquelas. Um instrumento cortante ou outro qualquer penetra num corpo fluídico como se penetrasse numa massa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer lesão. É por isso que não podem morrer os corpos dessa natureza e por que os seres fluídicos, designados pelo nome de agêneres, não podem ser mortos.
Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida. Foi sepultado como o são comumente os corpos, e todos o puderam ver e tocar. Após a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra, não morreu de novo; seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz. Deve-se, pois, concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que Ele tinha um corpo carnal.
Em virtude de suas propriedades materiais, o corpo carnal é a sede das sensações e das dores físicas, que repercutem no centro sensitivo ou Espírito. Não é o corpo quem sofre, mas o Espírito, que recebe o contragolpe das lesões ou alterações dos tecidos orgânicos. Num corpo privado de Espírito, a sensação é absolutamente nula. Pela mesma razão, o Espírito, que não tem corpo material, não pode experimentar os sofrimentos que resultam da alteração da matéria, devendo-se igualmente concluir que, se Jesus sofreu materialmente, como ninguém pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de todas as pessoas.