A Gênese

CAPÍTULO XV

Os Milagres do Evangelho

Desaparecimento do corpo de Jesus
• Item 67 •


Essa ideia sobre a natureza do corpo de Jesus não é nova. No quarto século, Apolinário, de Laodiceia, chefe da seita dos apolinaristas, pretendia que Jesus não tomara um corpo como o nosso, mas um corpo impassível, que descera do céu ao seio da santa Virgem e que não nascera dela; que, assim, Jesus não havia nascido, nem sofrido, nem morrido, senão em aparência. Os apolinaristas foram anatematizados no concílio de Alexandria, em 360; no de Roma, em 374; e no de Constantinopla, em 381.
Os docetas (do grego dokein, aparecer), seita numerosa dos gnósticos, que subsistiu durante os três primeiros séculos, tinham a mesma crença.124

[1] N. do T.: Mateus 8:28-33; Marcos 5:1-14; Lucas 8:26-34.

[2]N. de A. K.: Nem todos os teólogos adotam opiniões tão absolutas sobre a doutrina demoníaca. Aqui está uma cujo valor o clero não pode contestar, emitida por um eclesiástico, Monsenhor Freyssinous, bispo de Hermópolis, na seguinte passagem das suas Conferências sobre a religião, volume II, p. 341 (Paris, 1825):

“Se Jesus operasse seus milagres pelo poder do demônio, este teria trabalhado pela destruição do seu império e, portanto, empregado contra si próprio o seu poder. Certamente, um demônio que procurasse destruir o reinado do vício para implantar o da virtude seria um demônio muito singular. Eis por que Jesus, para repelir a absurda acusação dos judeus, lhes dizia: Se opero prodígios em nome do demônio, o demônio está dividido consigo mesmo, trabalhando, conseguintemente, para a sua própria destruição”. Esta resposta não admite réplica.
. justamente o argumento que os espíritas opõem aos que atribuem ao demônio os bons conselhos que os Espíritos lhes dão. O demônio agiria então como um ladrão profissional que restituísse tudo o que houvesse roubado e exortasse os outros ladrões a se tornarem pessoas honestas.

[3]N. de A. K.: Uma prova desse costume se encontra nos At 5:5 e seguintes: “Ananias, tendo ouvido aquelas palavras, caiu e rendeu o Espírito e todos os que ouviram falar disso foram tomados de grande temor. – Logo, alguns rapazes vieram buscar-lhe o corpo e, tendo-o levado, o enterraram. – Passadas umas três horas, sua mulher (Safira), que nada sabia do que acontecera, entrou. – E Pedro lhe disse... etc. – No mesmo instante, ela caiu aos seus pés e rendeu o Espírito. Aqueles rapazes, voltando, a encontraram morta e, levando-a, enterraram-na junto do marido”.

[4] N. de T.: Este subtítulo não fazia parte da 4a edição do original francês, que serviu de frase para esta tradução. Consta, porém, no “Sumário” da obra, razão por que o inserimos aqui.

[5]N. de A. K.: O fato seguinte prova que a decomposição precede algumas vezes a morte. No convento do Bom Pastor, fundado em Toulon, pelo padre Marin, capelão dos cárceres, e destinado às decaídas que se arrependem, encontrava-se uma jovem que suportara os mais terríveis sofrimentos com a calma e a impassibilidade de uma vítima expiatória. Em meio de suas dores parecia sorrir a uma visão celestial. Como Santa Teresa, pedia para sofrer mais, embora suas carnes já se achassem em frangalhos e a gangrena já devastasse seus membros. Por sábia previdência, os médicos tinham recomendado que enterrassem o corpo imediatamente após o falecimento. Mas coisa estranha! Mal a doente exalou o último suspiro, cessou todo o trabalho de decomposição; desapareceram as exalações cadavéricas, de sorte que durante trinta e seis horas o corpo pôde ficar exposto às preces e à veneração da comunidade.

[6]N. de A. K.: O lago de Genesaré ou de Tiberíades.

[7]N. de A. K.: O Monte Tabor, a sudoeste do lago de Tabarich e a 11 quilômetros a sudeste de Nazaré, tem cerca de 1.000 metros de altura.

[8]N. de A. K.: A explicação que se segue é a reprodução textual de uma instrução que um Espírito deu a esse respeito.

[9]N. de A. K.: Há constantemente, na superfície do Sol, manchas fixas, que lhe acompanham o movimento de rotação e têm servido para se determinar a duração desse movimento. Às vezes, porém, essas manchas aumentam em número, em tamanho e em intensidade, e é então que se produz uma diminuição da luz e do calor solares. Este aumento do número de manchas parece coincidir com certos fenômenos astronômicos e com a posição relativa de alguns planetas, o que lhes determina o reaparecimento periódico. A duração daquele obscurecimento é muito variável; por vezes não vai além de duas ou três horas, mas, em 535, houve um que durou quatorze meses.

[10]N. de A. K.: Os inúmeros fatos contemporâneos de curas, aparições, possessões, dupla vista e outros, que se encontram relatados na Revista Espírita e lembrados nas observações anteriores, oferecem, até quanto aos pormenores, tão flagrante analogia com os narrados pelo Evangelho, que ressalta evidente a identidade dos efeitos e das causas. Não se compreende que o mesmo fato tivesse hoje uma causa natural e que, outrora, essa causa fosse sobrenatural; diabólica com uns e divina com outros. Se fosse possível confrontá-los aqui uns com os outros, a comparação se tornaria mais fácil. Impossível, contudo, fazê-lo, dado o grande número deles e os desenvolvimentos que a narrativa reclamaria.

[11]N. de A. K.: O historiador judeu Flávio Josefo é o único que fala de Jesus, embora o faça em termos bem resumidos.

[12]N. de A. K.: Não nos referimos aqui ao mistério da encarnação, com o qual não temos que nos ocupar e que será examinado mais tarde.