A Gênese

CAPÍTULO XVI

Teoria da Presciência

Desaparecimento do corpo de Jesus
• Item 17 •


A forma geralmente empregada até agora nas predições faz delas verdadeiros enigmas, quase sempre indecifráveis. Essa forma misteriosa e cabalística, de que Nostradamus nos oferece o tipo mais completo, lhes dá certo prestígio perante o vulgo, que tanto mais valor lhes atribui, quanto mais incompreensíveis se mostrem. Pela sua ambiguidade, elas se prestam a interpretações muito diferentes, de tal sorte que, conforme o sentido que se atribua a certas palavras alegóricas ou convencionais, conforme a maneira por que se efetue o cálculo, singularmente complicado, das datas e, com um pouco de boa vontade, nelas se encontra quase tudo o que se queira.
Seja como for, não se pode deixar de convir em que algumas predições apresentam caráter sério e confundem por sua veracidade. É provável que a forma velada tenha tido, em certo tempo, sua razão de ser e mesmo sua necessidade.
Hoje, as circunstâncias são outras; o positivismo do século se daria mal com a linguagem sibilina. É por isso que atualmente as predições já não se revestem dessas formas estranhas; as que fazem os Espíritos nada têm de místicas; falam a linguagem de todo o mundo, como o teriam feito quando vivos na Terra, porque continuam a pertencer à Humanidade. Avisam-nos das coisas futuras, pessoais ou gerais, quando necessário, na medida da perspicácia de que são dotados, como o fariam conselheiros e amigos. Suas previsões, pois, são antes advertências, que nada tiram ao livre-arbítrio, do que predições propriamente ditas, as quais implicariam numa fatalidade absoluta. Além disso, a opinião deles é quase sempre motivada, por não quererem que o homem anule a sua razão sob uma fé cega e por desejarem que este último lhe aprecie a exatidão.