A Gênese

CAPÍTULO XVII

Predições do Evangelho

Parábola dos vinhateiros homicidas
• Item 30 •


O pai de família é Deus; a vinha que Ele plantou é a lei que estabeleceu; os vinhateiros a quem arrendou a vinha são os homens que devem ensinar e praticar a lei; os servos que enviou aos arrendatários são os profetas que estes últimos massacraram; seu filho, enviado por último, é Jesus, a quem eles igualmente mataram. Como tratará o Senhor os seus mandatários prevaricadores da lei? Tratá-los-á como seus enviados foram por eles tratados e chamará outros arrendatários que lhe prestem melhores contas da sua propriedade e do proceder do seu rebanho.
Assim aconteceu com os escribas, com os príncipes dos sacerdotes e com os fariseus; assim será quando Ele vier de novo pedir contas a cada um do que fez da sua doutrina; retirará toda autoridade ao que dela houver abusado, pois Ele quer que o seu campo seja administrado de acordo com a sua vontade.
Após dezoito séculos, tendo chegado à idade viril, a Humanidade está madura para compreender o que o Cristo apenas falou de leve, porque então, como Ele próprio o disse, não o teriam compreendido. Ora, a que resultado chegaram os que, durante esse longo período, foram encarregados da educação religiosa dessa mesma Humanidade? À constatação de que a indiferença sucedeu à fé e de que a incredulidade se arvorou em doutrina. Com efeito, em nenhuma outra época o ceticismo e o espírito de negação estiveram mais espalhados em todas as classes da sociedade.
Mas se algumas das palavras do Cristo se apresentam encobertas pelo véu da alegoria, pelo que respeita à regra de proceder, às relações de homem para homem, aos princípios morais a que Ele expressamente condicionou a salvação, seus ensinos são claros, explícitos, sem ambiguidade. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV.)

Que fizeram das suas máximas de caridade, de amor e de tolerância? das recomendações que fez a seus apóstolos para que convertessem os homens pela persuasão e pela brandura? Que fizeram da simplicidade, da humildade, do desinteresse e de todas as virtudes que Ele exemplificou? Em seu nome, os homens se anatematizaram mutuamente e reciprocamente se amaldiçoaram; estrangularam-se em nome daquele que disse: Todos os homens são irmãos. Do Deus infinitamente justo, bom e misericordioso que Ele revelou, fizeram um Deus ciumento, cruel, vingativo e parcial; àquele Deus de paz e de verdade, sacrificaram nas fogueiras, pelas torturas e perseguições, muito maior número de vítimas do que as que em todos os tempos os pagãos sacrificaram aos seus falsos deuses; venderam as orações e as graças do céu em nome daquele que expulsou os vendilhões do templo e que disse aos seus discípulos: Dai de graça o que de graça recebestes.
Que diria o Cristo se vivesse hoje entre nós? Se visse os que se dizem seus representantes a ambicionar as honras, as riquezas, o poder e o fausto dos príncipes do mundo, ao passo que Ele, mais rei do que todos os reis da Terra, fez a sua entrada em Jerusalém montado num jumento? Não teria o direito de dizer-lhes: Que fizestes dos meus ensinos, vós que incensais o bezerro de ouro, que proferis a maior parte das vossas preces em favor dos ricos, reservando uma parte insignificante para os pobres, apesar de eu haver dito: Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus? Mas se Ele não está carnalmente entre nós, está em Espírito e, como o senhor da parábola, virá pedir contas aos seus vinhateiros, quando chegar o tempo da colheita.