A Gênese
CAPÍTULO XVIII
Os Tempos são Chegados
Sinais dos tempos
• Item 8 •
Se a Terra já não tem a temer os cataclismos gerais, nem por isso deixa de estar sujeita a revoluções periódicas, cujas causas, do ponto de vista científico, se encontram explicadas nas instruções seguintes, ditadas por dois Espíritos eminentes. [1]
“Cada corpo celeste, além das leis simples que presidem à divisão dos dias e das noites, das estações etc., sofrem revoluções que demandam milhares de séculos para a sua perfeita realização, mas que, como as revoluções mais breves, passam por todos os períodos, desde o nascimento até o apogeu do efeito, depois do que há um decréscimo até o último limite, para recomeçar em seguida a percorrer as mesmas fases.
O homem não abarca senão as fases de duração relativamente curta, cuja periodicidade pode constatar; mas há umas que compreendem longas gerações de seres e, mesmo, sucessões de raças, cujos efeitos, por conseguinte, têm para ele as aparências da novidade e da espontaneidade, ao passo que, se o seu olhar pudesse abranger alguns milhares de séculos para trás, ele veria, entre esses mesmos efeitos e suas causas, uma correlação que nem sequer suspeita. Esses períodos, que confundem a imaginação dos humanos por sua relativa duração, não são, contudo, senão instantes na duração eterna.
Num mesmo sistema planetário, todos os corpos que dele dependem reagem uns sobre os outros; todas as influências físicas aí são solidárias, e não há um só dos efeitos, que designais sob o nome de grandes perturbações, que não seja a consequência da componente das influências de todo esse sistema.
Vou mais longe: digo que os sistemas planetários reagem uns sobre os outros, em razão da aproximação ou do afastamento que resulta de seu movimento de translação através das miríades de sistemas que compõem a nossa nebulosa. Vou mais longe ainda: digo que a nossa nebulosa, que é como um arquipélago na imensidade, tendo também o seu movimento de translação através de miríades de nebulosas, sofre a influência daquelas de que se aproxima.
Assim, as nebulosas reagem sobre as nebulosas, os sistemas reagem sobre os sistemas, como os planetas reagem sobre os planetas, como os elementos de cada planeta reagem uns sobre os outros, e assim sucessivamente, até o átomo. Daí, em cada mundo, as revoluções locais ou gerais, que só parecem perturbações porque a brevidade da vida mal permite que se vejam os seus efeitos parciais.
A matéria orgânica não poderia escapar a essas influências; as perturbações que ela sofre podem, então, alterar o estado físico dos seres vivos e determinar algumas dessas doenças que atacam de maneira geral as plantas, os animais e os homens. Como todos os flagelos, essas doenças são para a inteligência humana um estimulante que a impele, por necessidade, à procura dos meios de as combater e à descoberta das Leis da Natureza.
Mas, por sua vez, a matéria orgânica reage sobre o Espírito; este, por seu contato e sua ligação íntima com os elementos materiais, também sofre influências que modificam suas disposições, sem, contudo, lhe tirar o livre-arbítrio, que superexcitam ou retardam a sua atividade e, por isto mesmo, contribuem para o seu desenvolvimento. A efervescência, que por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é uma coisa fortuita, nem o resultado de um capricho; tem sua causa nas Leis da Natureza. Essa efervescência, a princípio inconsciente, que não passa de um vago desejo, uma aspiração indefinida por algo melhor, uma necessidade de mudança, traduz-se por uma agitação surda, depois por atos que levam às revoluções morais, as quais, crede-o bem, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, porque tudo se encadeia. Se a visão espiritual não fosse circunscrita pelo véu material, veríeis essas correntes fluídicas que, semelhantes a milhares de fios condutores, ligam as coisas do mundo espiritual às do mundo material.
Quando se vos diz que a Humanidade chegou a um período de transformação, e que a Terra deve elevar-se na hierarquia dos mundos, não vejais nestas palavras nada de místico, mas, ao contrário, a realização de uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais se quebra toda a má vontade humana.” – Arago. [2]