A Gênese
CAPÍTULO IX
Revoluções do Globo
Revoluções gerais ou parciais
• Item 1 •
Os períodos geológicos marcam as fases do aspecto geral do globo, em virtude das suas transformações. Mas, com exceção do período diluviano, que se caracteriza por uma subversão repentina, todos os demais transcorreram lentamente, sem transições bruscas. Durante todo o tempo que os elementos constitutivos do globo levaram para tomar suas posições definitivas, as mutações houveram de ser gerais. Uma vez consolidada a base, apenas se devem ter produzido modificações parciais, na superfície.
Revoluções gerais ou parciais
• Item 2 •
Além das revoluções gerais, a Terra experimentou grande número de perturbações locais, que mudaram o aspecto de certas regiões. Como em relação às outras duas causas, contribuíram para essas perturbações o fogo e a água.
O fogo atuou quer produzindo erupções vulcânicas que, sob espessas camadas de cinzas e lavas, sepultaram os terrenos circunvizinhos, fazendo desaparecer cidades com seus habitantes, quer provocando terremotos e levantamentos da crosta sólida, que impeliam as águas para as regiões mais baixas, quer, enfim, pelo afundamento, em maior ou menor extensão, dessa mesma crosta, em alguns lugares, para onde as águas se precipitaram, deixando secos outros lugares. Foi assim que surgiram ilhas no meio do oceano, enquanto outras desapareceram; que porções de continentes se separaram e formaram ilhas; que braços de mar, secados, ligaram ilhas e continentes.
Quanto à água, essa atuou produzindo: ou a irrupção ou a retirada do mar em algumas costas; ou desmoronamentos que, interceptando as correntes líquidas, formaram lagos; ou transbordamentos e inundações; ou, finalmente, aterros nas embocaduras dos rios. Esses aterros, rechaçando o mar, criaram novos territórios. Tal a origem do delta do Nilo, do delta do Ródano ou Camarga.
Idade das montanhas
• Item 3 •
Examinando-se os terrenos dilacerados pelo erguimento das montanhas e das camadas que formam os seus contrafortes, é possível determinar-lhes a idade geológica. Por idade geológica das montanhas não se deve entender o número de anos de sua existência, mas o período em que se formaram e, por conseguinte, sua ancianidade relativa. Seria errôneo acreditar-se que semelhante ancianidade corresponde à elevação que lhes é própria, ou à natureza exclusivamente granítica que revelem, uma vez que a massa de granito, ao dar-se o seu levantamento, pode ter perfurado e separado as camadas superpostas.
Comprovou-se assim, por meio da observação, que as montanhas dos 5osges, da Bretanha e da Côte-d’Or, na França, que não são muito elevadas, pertencem às mais antigas formações. Datam do período de transição, sendo anteriores aos depósitos de hulha. O Jura se formou na metade do período secundário; é, pois, contemporâneo dos répteis gigantes. Os Pirineus se formaram mais tarde, no começo do período terciário. O Monte Branco e o grupo dos Alpes ocidentais são posteriores aos Pirineus e datam da metade do período terciário. Os Alpes orientais, que compreendem as montanhas do Tirol, são ainda mais recentes, pois só se formaram pelos fins desse mesmo período. Algumas montanhas da Ásia são mesmo posteriores ao período diluviano ou lhe são contemporâneas.
Esses levantamentos devem ter ocasionado grandes perturbações locais e inundações mais ou menos consideráveis, pelo deslocamento das águas, pela interrupção e mudança do curso dos rios. [1]
Dilúvio bíblico
• Item 4 •
O dilúvio bíblico, também conhecido pelo nome de grande dilúvio asiático, é um fato cuja existência não pode ser contestada. Deveu-se, provavelmente, ao levantamento de uma parte das montanhas daquela região, como o do México. O que vem corroborar esta opinião é a existência de um mar interior, que outrora se estendia do mar Negro ao oceano Boreal, comprovada pelas observações geológicas. O mar de Azov, o mar Cáspio, cujas águas são salgadas, embora não se comuniquem com nenhum outro mar; o lago Aral e os inúmeros lagos espalhados pelas imensas planícies da Tartália e as estepes da Rússia parecem restos daquele antigo mar. Por ocasião do levantamento das montanhas do Cáucaso, posterior ao dilúvio universal, parte daquelas águas foi rechaçada para o norte, na direção do oceano Boreal; outra parte, para o sul, em direção ao oceano Índico. Estas inundaram e devastaram justamente a Mesopotâmia e toda a região em que habitaram os antepassados do povo hebreu. Embora esse dilúvio se tenha estendido por uma superfície muito grande, é atualmente ponto comprovado que ele foi apenas local; que não pode ter sido causado pela chuva, visto como, por muito abundante e contínua que fosse e ainda que se prolongasse por quarenta dias, o cálculo prova que a quantidade de água caída das nuvens não seria suficiente para cobrir toda a terra, até acima das mais altas montanhas.
Para os homens de então, que não conheciam mais que uma extensão muito limitada da superfície do globo e não faziam a mínima ideia da sua configuração, desde que a inundação invadiu os países conhecidos, para eles é como se a Terra inteira fora invadida pelas águas. Se a essa crença acrescentarmos a forma imaginosa e hiperbólica peculiar ao estilo oriental, já não nos surpreenderá o exagero da narração bíblica sobre esse assunto.
Dilúvio bíblico
• Item 5 •
O dilúvio asiático foi evidentemente posterior ao aparecimento do homem na Terra, visto que a lembrança dele se conservou pela tradição em todos os povos daquela parte do mundo, os quais o consagraram em suas teogonias. [2]
É igualmente posterior ao grande dilúvio universal que assinalou o início do atual período geológico. Quando falamos de homens e animais antediluvianos, estamos nos referindo àquele primeiro cataclismo.
Revoluções periódicas
• Item 6 •
Além do seu movimento anual em torno do Sol, que produz as estações, do seu movimento de rotação sobre si mesma em 24 horas, que resulta no dia e na noite, a Terra tem um terceiro movimento que se completa em cerca de 25.000 anos, ou, mais exatamente, em 25.868 anos e que produz o fenômeno designado em Astronomia sob o nome de precessão dos equinócios. (Cap. V, item 11.)
Esse movimento, que não se pode explicar em poucas palavras, sem o auxílio de figuras e sem uma demonstração geométrica, consiste numa espécie de oscilação circular, que se tem comparado a um pião a morrer, em virtude da qual o eixo da Terra, mudando de inclinação, descreve um duplo cone cujo vértice está no centro do planeta, abrangendo as bases desses cones a superfície circunscrita pelos círculos polares, isto é, uma amplitude de 23 graus e meio de raio.
Revoluções periódicas
• Item 7 •
O equinócio é o instante em que o Sol, passando de um hemisfério a outro, se encontra perpendicular ao equador, o que acontece duas vezes por ano, a 21 de março, quando o Sol passa para o hemisfério boreal, e a 22 de setembro, quando volta ao hemisfério austral.
Mas, em consequência da mudança gradual na obliquidade do eixo, o que acarreta outra mudança na obliquidade do equador sobre a eclíptica, o momento do equinócio avança cada ano de alguns minutos (25 minutos e 7 segundos). É este avanço que é chamado precessão dos equinócios (do latim proecedere, caminhar para adiante, composto de proe, adiante, e cedere, ir-se).
Com o tempo, esses poucos minutos fazem horas, dias, meses e anos, resultando daí que o equinócio da primavera, que agora se verifica no mês de março, em dado tempo se verificará em fevereiro, depois em janeiro, depois em dezembro. Então o mês de dezembro terá a temperatura de março e março a de junho e assim por diante, até que, voltando ao mês de março, as coisas se encontrarão de novo no estado atual, o que se dará ao fim de 25.868 anos, para começar indefinidamente a mesma revolução. [3]
Revoluções periódicas
• Item 8 •
Desse movimento cônico do eixo, resulta que os polos da Terra não olham constantemente os mesmos pontos do céu; que a Estrela Polar nem sempre será estrela polar; que os polos gradualmente se inclinam mais ou menos para o Sol e recebem dele raios mais ou menos diretos. É por isso que a Islândia e a Lapônia, por exemplo, localizadas no círculo polar, poderão, em dado tempo, receber raios solares como se estivessem na latitude da Espanha e da Itália e que, na posição do extremo oposto, a Espanha e a Itália poderão ter a temperatura da Islândia e da Lapônia, e assim por diante, a cada renovação do período de 25.000 anos. [4]
Revoluções periódicas
• Item 9 •
As consequências desse movimento ainda não puderam ser determinadas com precisão, porque somente se tem podido observar uma pequena parte da sua revolução. Há, pois, a esse respeito, apenas presunções, algumas das quais com caráter de certa probabilidade. Essas consequências são:
1º) O aquecimento e o resfriamento alternativo dos polos e, por conseguinte, a fusão dos gelos polares durante a metade do período de 25.000 anos e a nova formação deles durante a outra metade desse período. Por conseguinte, os polos não estariam condenados a uma perpétua esterilidade, cabendo-lhes gozar por sua vez dos benefícios da fertilidade.2º) O deslocamento gradativo do mar, que pouco a pouco invade as terras litorâneas e põe outras a descoberto, para de novo as abandonar, voltando ao seu leito anterior. Esse movimento periódico, renovado indefinidamente, constituiria uma verdadeira maré universal de 25.000 anos.
A lentidão com que se opera esse movimento do mar torna o fenômeno quase imperceptível para cada geração, fazendo-se, porém, sensível, ao cabo de alguns séculos. Ele não pode causar nenhum cataclismo súbito, porque os homens se retiram, de geração em geração, à proporção que o mar avança, e avançam pelas terras de onde o mar se retira. É a essa causa, mais que provável, que alguns cientistas atribuem o afastamento do mar de certas costas e sua invasão em outras partes.
Revoluções periódicas
• Item 10 •
O deslocamento demorado, gradual e periódico do mar é um fato que a experiência comprova, atestado por inúmero exemplos em todos os pontos do globo. Tem por efeito o entretenimento das forças produtivas da Terra. A longa imersão é para os terrenos um tempo de repouso, durante o qual eles recuperam os princípios vitais esgotados por uma não menos longa produção. Os imensos depósitos de matérias orgânicas, formados pela permanência das águas durante séculos e séculos, são adubações naturais, periodicamente renovadas, e as gerações se sucedem sem se aperceberem de tais mudanças. [5]
Cataclismos futuros
• Item 11 •
As grandes comoções da Terra têm-se produzido nas épocas em que a crosta sólida do planeta, em virtude da sua fraca espessura, quase não oferecia nenhuma resistência à efervescência das matérias incandescentes no seu interior. Tais comoções foram diminuindo de intensidade à proporção que aquela crosta se consolidava. Numerosos vulcões já se acham extintos, enquanto outros foram soterrados pelos terrenos de formação posterior.
Certamente ainda poderão produzir-se perturbações locais, por efeito de erupções vulcânicas, da eclosão de alguns vulcões novos, ou em virtude de inundações repentinas de algumas regiões; [6] algumas ilhas poderão surgir do mar e outras ser por ele tragadas; mas o tempo dos cataclismos gerais já passou, como os que assinalaram os grandes períodos geológicos. A Terra adquiriu uma estabilidade que, sem ser absolutamente invariável, coloca doravante o gênero humano ao abrigo das perturbações gerais, a menos que intervenham causas desconhecidas, a ela estranhas e que de modo algum se possam prever.
Cataclismos futuros
• Item 12 •
Quanto aos cometas, estamos hoje completamente certos em relação à influência que exercem, mais salutar do que nociva, por parecerem destinados a reabastecer os mundos, se assim nos podemos exprimir, trazendo-lhes os princípios vitais que eles armazenam em sua corrida pelo espaço e na vizinhança dos sóis. Assim, pois, seriam antes fontes de prosperidade do que mensageiros de desgraças.
Por sua natureza fluídica, já bem comprovada (cap. VI, itens 28 e seguintes), não é mais de se temer um choque violento com o nosso planeta, porquanto, se um deles encontrasse a Terra, seria esta última que o atravessaria, como se passasse através de um nevoeiro. Menos temível ainda é a cauda que arrastam, já que não passa do reflexo da luz solar na imensa atmosfera que os envolve, tanto assim que se mostra constantemente dirigida para o lado oposto ao Sol, mudando de direção conforme a posição deste astro. Essa matéria gasosa também poderia, em virtude da rapidez de sua marcha, formar uma espécie de cabeleira, semelhante ao rastro deixado no mar por um navio em marcha, ou à fumaça de uma locomotiva. Aliás, muitos cometas já se têm aproximado da Terra sem lhe causarem qualquer dano; e, em razão de sua densidade respectiva, a Terra exerceria sobre o cometa uma atração maior do que a dele sobre ela. Somente resquícios de velhos preconceitos podem fazer que a presença de um cometa inspire terror. [7]
Cataclismos futuros
• Item 13 •
Deve-se igualmente relegar entre as hipóteses quiméricas a possibilidade do encontro da Terra com outro planeta. A regularidade e a invariabilidade das leis que presidem aos movimentos dos corpos celestes tiram toda possibilidade de semelhante encontro. E, no entanto, a Terra terá um fim. De que maneira? Isso ainda pertence ao domínio das hipóteses; como, porém, ela ainda se acha longe da perfeição que pode alcançar e da ancianidade que lhe indicaria o declínio, seus habitantes atuais podem estar certos de que tal fato não se dará no correr do tempo em que eles vivem. (Cap. VI, itens 48 e seguintes.)
Cataclismos futuros
• Item 14 •
Fisicamente, a Terra teve as convulsões da sua infância; entrou agora num período de relativa estabilidade: na do progresso pacífico, que se realiza pelo retorno regular dos mesmos fenômenos físicos e pelo concurso inteligente do homem. Mas ainda está em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa de suas maiores comoções. Até que a Humanidade haja crescido suficientemente em perfeição, pela inteligência e pela prática das Leis Divinas, as maiores perturbações serão causadas mais pelos homens do que pela Natureza, isto é, serão antes morais do que físicas.
Aumento e diminuição do volume da Terra [8]
• Item 15 •
O volume da Terra aumenta, diminui ou permanece estacionário? Alguns, para sustentar que o volume da Terra aumenta, se baseiam no fato de as plantas darem ao solo mais do que dele tiram, o que é verdade num sentido, mas não em outro. As plantas se nutrem tanto, e até mais, de substâncias gasosas que haurem na atmosfera, quanto das que sugam pelas raízes. Ora, a atmosfera faz parte integrante do globo; os gases que a constituem provêm da decomposição dos corpos sólidos, e estes, recompondo-se, retomam o que lhe deram. É uma troca, ou antes uma perpétua transformação, de tal sorte que o crescimento dos vegetais e dos animais se opera com o auxílio dos elementos constitutivos do globo, e os seus despojos, por mais consideráveis que sejam, não aumentam de um átomo a sua massa. Se, por essa causa, a parte sólida do globo aumentasse de modo permanente, seria à custa da atmosfera, que diminuiria de outro tanto e acabaria por se tornar imprópria à vida, se não recuperasse, pela decomposição dos corpos sólidos, o que perde pela composição deles.
Na origem da Terra, as primeiras camadas geológicas se formaram de matérias sólidas momentaneamente volatilizadas, por efeito da alta temperatura, e que, condensadas mais tarde pelo resfriamento, se precipitaram. É fora de dúvida que elas elevaram um pouco a superfície do solo, mas sem acrescentar coisa alguma à massa total, visto que ali apenas havia um deslocamento da matéria. Quando a atmosfera, expurgada dos elementos estranhos que continha em suspensão, se encontrou em seu estado normal, as coisas tomaram o curso regular em que depois seguiram. Hoje, a menor modificação na constituição da atmosfera acarretaria, forçosamente, a destruição dos habitantes da Terra; mas também é provável que novas raças se formassem noutras condições.
Considerada desse ponto de vista, a massa do globo, isto é, a soma das moléculas que compõem o conjunto de suas partes sólidas, líquidas e gasosas, é incontestavelmente a mesma, desde a sua origem. Se o globo experimentasse uma dilatação ou uma condensação, seu volume aumentaria ou diminuiria, sem que a massa sofresse qualquer alteração. Portanto, se a Terra aumentasse de massa, seria por efeito de uma causa estranha, já que ela não poderia tirar de si mesma os elementos necessários ao seu aumento.
Há uma opinião segundo a qual o globo aumentaria de massa e de volume pelo afluxo de matéria cósmica interplanetária. Esta ideia nada tem de irracional, mas é hipotética demais para ser admitida em princípio. Não passa de um sistema combatido por sistemas contrários, sobre os quais a Ciência ainda nada estabeleceu. Eis aqui, a tal respeito, a opinião do eminente Espírito que ditou os sábios estudos uranográficos inseridos no capítulo VI desta obra:
“Os mundos se esgotam pelo envelhecimento e tendem a dissolver-se para servir de elementos de formação a outros universos. Restituem pouco a pouco ao fluido cósmico universal do espaço o que dele tiraram para formar-se. Além disso, todos os corpos se gastam pelo atrito; o movimento rápido e incessante do globo através do fluido cósmico tem por efeito diminuir-lhe constantemente a massa, embora de quantidade inapreciável em determinado tempo. [9]
Em minha opinião, a existência dos mundos pode dividir-se em três períodos. – Primeiro período: condensação da matéria, período esse em que o volume do globo diminui consideravelmente, mas a massa conserva-se a mesma; é o período da infância. – Segundo período: contração, solidificação da crosta; eclosão dos germens, desenvolvimento da vida até a aparição do tipo mais aperfeiçoado. Nesse momento, o globo está em toda a sua plenitude; é a época da virilidade; ele perde, mas muito pouco, os seus elementos constitutivos. – Período de decrescimento material: À medida que seus habitantes progridem espiritualmente, ele passa ao período de decrescimento material; sofre perdas, não só em consequência do atrito, mas também pela desagregação das moléculas, como uma pedra dura que, corroída pelo tempo, acaba reduzida a poeira. Em seu duplo movimento de rotação e translação, ele entrega ao espaço parcelas fluidificadas da sua substância, até o momento em que se completa a sua dissolução.
Mas, então, como o poder de atração é diretamente proporcional à massa, não digo ao volume, diminuída a massa do globo, modificam-se as suas condições de equilíbrio no espaço. Dominado por globos mais poderosos, aos quais ele não pode fazer contrapeso, resultam daí desvios nos seus movimentos e, portanto, profundas mudanças nas condições de vida em sua superfície. Assim, nascimento, vida e morte; ou infância, virilidade, decrepitude, tais são as três fases por que passa toda aglomeração de matéria orgânica ou inorgânica. Só o Espírito, que não é matéria, é indestrutível”. (Galileu, Sociedade Espírita de Paris, 1868.) [10]
[1]N. de A. K.: O século XVIII registrou notável exemplo de um fenômeno desse gênero. A seis dias de marcha da cidade do México, existia, em 1750, uma região fértil e bem cultivada, onde davam em abundância arroz, milho e bananas. No mês de junho, pavorosos tremores de terra abalaram o solo, renovando-se continuamente durante dois meses inteiros. Na noite de 28 para 29 de setembro, produziu-se violenta convulsão; um território de muitas léguas de extensão começou a erguer-se pouco a pouco e acabou por alcançar a altitude de 500 pés, numa superfície de 10 léguas quadradas. O terreno ondulava como as águas do mar ao sopro da tempestade; milhares de montículos se elevavam e afundavam alternadamente; afinal, abriu-se um abismo de perto de 3 léguas, de onde eram lançados, a prodigiosa altura, fumaça, fogo, pedras em brasa e cinzas. Seis montanhas surgiram desse abismo escancarado, entre as quais o vulcão a que foi dado o nome de Jorullo, que agora se eleva a 550 metros acima da antiga planície. No momento em que começaram os abalos do solo, os dois rios de Cutimba e San Pedro, refluindo, inundaram toda a planície hoje ocupada pelo Jorullo; no terreno, porém, que sem cessar se elevava, outro sorvedouro se abriu e os absorveu. Os dois reapareceram mais tarde, no oeste, num ponto muito afastado de seus antigos leitos. (Louis Figuier, A Terra antes do dilúvio, p. 370.)
[2]N. de A. K.: A lenda indiana sobre o dilúvio refere, segundo o livro dos 5edas, que Brama, transformado em peixe, dirigiu-se ao piedoso monarca Vaivaswata e lhe disse: “Chegou o momento da dissolução do Universo; em breve estará destruído tudo o que existe na Terra. Tens que construir um navio em que embarcarás, depois de teres feito embarcar sementes de todos os vegetais. Esperar-me-ás nesse navio e eu virei ter contigo, trazendo à cabeça um chifre, pelo qual me reconhecerás”. O santo obedeceu; construiu um navio, embarcou nele e o atou por um cabo muito forte ao chifre do peixe. O navio foi rebocado durante muitos anos com extrema rapidez, por entre as trevas de uma tremenda tempestade, abordando, afinal, ao cume do monte Himawat (Himalaia). Brama ordenou em seguida a Vaivaswata que criasse todos os seres e com eles povoasse a Terra.
. flagrante a analogia desta lenda com a narrativa bíblica de Noé. Da Índia ela passara ao Egito, como uma imensidão de outras crenças. Ora, como o livro dos 5edas é anterior ao de Moisés, a narração que naquele se encontra, sobre o dilúvio, não pode ser uma cópia da deste último. O mais provável é que Moisés, que aprendera as doutrinas dos sacerdotes egípcios, haja tomado a estes a sua descrição.
[3]N. de A. K.: A precessão dos equinócios provoca outra mudança: a que se opera na posição dos signos do zodíaco. A Terra, girando em torno do Sol em um ano, à medida que avança, o Sol, cada mês, se encontra diante de uma nova constelação. Estas são em número de doze, a saber: Carneiro, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Balança, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário, Peixes. São chamadas constelações zodiacais, ou signos do zodíaco, e formam um círculo no plano do equador terrestre. Conforme o mês do nascimento de um indivíduo, diz-se que ele nascera sob tal ou qual signo; daí os prognósticos da Astrologia. Mas, em virtude da precessão dos equinócios, acontece que os meses já não correspondem às mesmas constelações. Alguém que nasça no mês de julho já não está no signo do Leão, porém no de Câncer. Cai assim a ideia supersticiosa ligada à influência dos signos.
[4]N. de A. K.: O deslocamento gradual das linhas isotérmicas, fenômeno que a Ciência reconhece de modo tão positivo como o do deslocamento do mar, é um fato material que apoia esta teoria.
[5]N. de A. K.: Entre os fatos mais recentes que provam o deslocamento do mar, podem citar-se os seguintes:
No golfo da Gasconha, entre o velho Soulac e a Torre de Cordouan, quando o mar está calmo, percebe-se no fundo da água trechos de muralha: são restos da antiga e grande cidade de Noviomagus, invadida pelas ondas em 580. O rochedo de Cordouan, que se achava então ligado à margem, está agora a 12 quilômetros.
No mar da Mancha, sobre a costa do Havre, as águas ganham terreno dia a dia e minam as falésias de Sainte-Adresse, que pouco a pouco desmoronam. A dois quilômetros da costa, entre Sainte-Adresse e o cabo de Hève, existe um banco que outrora se achava à vista e ligado à terra firme. Antigos documentos atestam que nesse lugar, por sobre o qual hoje se navega, existia o vilarejo de Saint-Denis-chef-de-Caux. Tendo o mar invadido o terreno no século XIV, a Igreja foi tragada em 1378. Dizem que, com bom tempo, é possível ver-se os seus destroços no fundo do mar.
Em quase toda a extensão do litoral da Holanda, o mar só é contido à força de diques, que se rompem de tempos em tempos. O antigo lago Flevo, que se reuniu ao mar em 1225, forma hoje o golfo de Zuyderzee. Essa irrupção do oceano tragou várias povoações.
Segundo isto, o território de Paris e da França toda seria um dia novamente ocupado pelo mar, como já o foi muitas vezes, conforme o demonstram as observações geológicas. Então, as partes montanhosas formarão ilhas, como o são agora Jersey, Guernesey e a Inglaterra, outrora contíguas ao continente.
Navegar-se-á por sobre regiões que atualmente se percorrem em estradas de ferro; os navios aportarão em Montmartre, no monte Valeriano, nos outeiros de Saint-Cloud e de Meudon; os bosques e florestas, agora lugares de passeio, ficarão sepultados nas águas, cobertos de limo e povoados de peixes, em vez de pássaros.
O dilúvio bíblico não pode ter tido essa causa, pois que foi repentina a invasão das águas e de curta duração a permanência delas, ao passo que, de outro modo, essa permanência teria sido de muitos milhares de anos e ainda duraria, sem que os homens se dessem conta disso.
[6] N. do T.: No dia 26 de dezembro de 2004, ondas gigantescas de até 12 metros de altura invadiram o litoral de doze países do sul da Ásia, especialmente a Indonésia, onde causaram maiores danos, mas se estendendo também à Oceania e à costa oriental da África. Chamadas de tsunami, tais ondas foram provocadas por um abalo sísmico submarino cujo epicentro ocorreu no oceano Índico, a 9.000 metros de profundidade, próximo à ilha de Sumatra, tendo atingido 9 graus na escala Richter e provocado, segundo estimativas da ONU, a morte imediata de 150.000 pessoas.
[7]N. de A. K.: O cometa de 1861 atravessou a órbita da Terra num ponto do qual esta se achava a uma distância de apenas 20 horas. A Terra esteve, portanto, mergulhada na atmosfera dele, sem que daí resultasse qualquer acidente.
[8] N. do T.: Para mais detalhes, veja-se a Revista Espírita de setembro de 1868.
[9]N. de A. K.: No seu movimento de translação em torno do Sol, a velocidade da Terra é de 400 léguas por minuto. Sendo de 9.000 léguas a sua circunferência, em seu movimento de rotação ao redor do seu eixo, cada ponto do equador percorre 9.000 léguas em 24 horas, ou 6,3 léguas por minuto.
[10]N. da E.: Ver “Nota Explicativa”, p. 509.