A Gênese
CAPÍTULO IX
Revoluções do Globo
Aumento e diminuição do volume da Terra [8]
• Item 15 •
O volume da Terra aumenta, diminui ou permanece estacionário? Alguns, para sustentar que o volume da Terra aumenta, se baseiam no fato de as plantas darem ao solo mais do que dele tiram, o que é verdade num sentido, mas não em outro. As plantas se nutrem tanto, e até mais, de substâncias gasosas que haurem na atmosfera, quanto das que sugam pelas raízes. Ora, a atmosfera faz parte integrante do globo; os gases que a constituem provêm da decomposição dos corpos sólidos, e estes, recompondo-se, retomam o que lhe deram. É uma troca, ou antes uma perpétua transformação, de tal sorte que o crescimento dos vegetais e dos animais se opera com o auxílio dos elementos constitutivos do globo, e os seus despojos, por mais consideráveis que sejam, não aumentam de um átomo a sua massa. Se, por essa causa, a parte sólida do globo aumentasse de modo permanente, seria à custa da atmosfera, que diminuiria de outro tanto e acabaria por se tornar imprópria à vida, se não recuperasse, pela decomposição dos corpos sólidos, o que perde pela composição deles.
Na origem da Terra, as primeiras camadas geológicas se formaram de matérias sólidas momentaneamente volatilizadas, por efeito da alta temperatura, e que, condensadas mais tarde pelo resfriamento, se precipitaram. É fora de dúvida que elas elevaram um pouco a superfície do solo, mas sem acrescentar coisa alguma à massa total, visto que ali apenas havia um deslocamento da matéria. Quando a atmosfera, expurgada dos elementos estranhos que continha em suspensão, se encontrou em seu estado normal, as coisas tomaram o curso regular em que depois seguiram. Hoje, a menor modificação na constituição da atmosfera acarretaria, forçosamente, a destruição dos habitantes da Terra; mas também é provável que novas raças se formassem noutras condições.
Considerada desse ponto de vista, a massa do globo, isto é, a soma das moléculas que compõem o conjunto de suas partes sólidas, líquidas e gasosas, é incontestavelmente a mesma, desde a sua origem. Se o globo experimentasse uma dilatação ou uma condensação, seu volume aumentaria ou diminuiria, sem que a massa sofresse qualquer alteração. Portanto, se a Terra aumentasse de massa, seria por efeito de uma causa estranha, já que ela não poderia tirar de si mesma os elementos necessários ao seu aumento.
Há uma opinião segundo a qual o globo aumentaria de massa e de volume pelo afluxo de matéria cósmica interplanetária. Esta ideia nada tem de irracional, mas é hipotética demais para ser admitida em princípio. Não passa de um sistema combatido por sistemas contrários, sobre os quais a Ciência ainda nada estabeleceu. Eis aqui, a tal respeito, a opinião do eminente Espírito que ditou os sábios estudos uranográficos inseridos no capítulo VI desta obra:
“Os mundos se esgotam pelo envelhecimento e tendem a dissolver-se para servir de elementos de formação a outros universos. Restituem pouco a pouco ao fluido cósmico universal do espaço o que dele tiraram para formar-se. Além disso, todos os corpos se gastam pelo atrito; o movimento rápido e incessante do globo através do fluido cósmico tem por efeito diminuir-lhe constantemente a massa, embora de quantidade inapreciável em determinado tempo. [9]
Em minha opinião, a existência dos mundos pode dividir-se em três períodos. – Primeiro período: condensação da matéria, período esse em que o volume do globo diminui consideravelmente, mas a massa conserva-se a mesma; é o período da infância. – Segundo período: contração, solidificação da crosta; eclosão dos germens, desenvolvimento da vida até a aparição do tipo mais aperfeiçoado. Nesse momento, o globo está em toda a sua plenitude; é a época da virilidade; ele perde, mas muito pouco, os seus elementos constitutivos. – Período de decrescimento material: À medida que seus habitantes progridem espiritualmente, ele passa ao período de decrescimento material; sofre perdas, não só em consequência do atrito, mas também pela desagregação das moléculas, como uma pedra dura que, corroída pelo tempo, acaba reduzida a poeira. Em seu duplo movimento de rotação e translação, ele entrega ao espaço parcelas fluidificadas da sua substância, até o momento em que se completa a sua dissolução.
Mas, então, como o poder de atração é diretamente proporcional à massa, não digo ao volume, diminuída a massa do globo, modificam-se as suas condições de equilíbrio no espaço. Dominado por globos mais poderosos, aos quais ele não pode fazer contrapeso, resultam daí desvios nos seus movimentos e, portanto, profundas mudanças nas condições de vida em sua superfície. Assim, nascimento, vida e morte; ou infância, virilidade, decrepitude, tais são as três fases por que passa toda aglomeração de matéria orgânica ou inorgânica. Só o Espírito, que não é matéria, é indestrutível”. (Galileu, Sociedade Espírita de Paris, 1868.) [10]
[1]N. de A. K.: O século XVIII registrou notável exemplo de um fenômeno desse gênero. A seis dias de marcha da cidade do México, existia, em 1750, uma região fértil e bem cultivada, onde davam em abundância arroz, milho e bananas. No mês de junho, pavorosos tremores de terra abalaram o solo, renovando-se continuamente durante dois meses inteiros. Na noite de 28 para 29 de setembro, produziu-se violenta convulsão; um território de muitas léguas de extensão começou a erguer-se pouco a pouco e acabou por alcançar a altitude de 500 pés, numa superfície de 10 léguas quadradas. O terreno ondulava como as águas do mar ao sopro da tempestade; milhares de montículos se elevavam e afundavam alternadamente; afinal, abriu-se um abismo de perto de 3 léguas, de onde eram lançados, a prodigiosa altura, fumaça, fogo, pedras em brasa e cinzas. Seis montanhas surgiram desse abismo escancarado, entre as quais o vulcão a que foi dado o nome de Jorullo, que agora se eleva a 550 metros acima da antiga planície. No momento em que começaram os abalos do solo, os dois rios de Cutimba e San Pedro, refluindo, inundaram toda a planície hoje ocupada pelo Jorullo; no terreno, porém, que sem cessar se elevava, outro sorvedouro se abriu e os absorveu. Os dois reapareceram mais tarde, no oeste, num ponto muito afastado de seus antigos leitos. (Louis Figuier, A Terra antes do dilúvio, p. 370.)
[2]N. de A. K.: A lenda indiana sobre o dilúvio refere, segundo o livro dos 5edas, que Brama, transformado em peixe, dirigiu-se ao piedoso monarca Vaivaswata e lhe disse: “Chegou o momento da dissolução do Universo; em breve estará destruído tudo o que existe na Terra. Tens que construir um navio em que embarcarás, depois de teres feito embarcar sementes de todos os vegetais. Esperar-me-ás nesse navio e eu virei ter contigo, trazendo à cabeça um chifre, pelo qual me reconhecerás”. O santo obedeceu; construiu um navio, embarcou nele e o atou por um cabo muito forte ao chifre do peixe. O navio foi rebocado durante muitos anos com extrema rapidez, por entre as trevas de uma tremenda tempestade, abordando, afinal, ao cume do monte Himawat (Himalaia). Brama ordenou em seguida a Vaivaswata que criasse todos os seres e com eles povoasse a Terra.
. flagrante a analogia desta lenda com a narrativa bíblica de Noé. Da Índia ela passara ao Egito, como uma imensidão de outras crenças. Ora, como o livro dos 5edas é anterior ao de Moisés, a narração que naquele se encontra, sobre o dilúvio, não pode ser uma cópia da deste último. O mais provável é que Moisés, que aprendera as doutrinas dos sacerdotes egípcios, haja tomado a estes a sua descrição.
[3]N. de A. K.: A precessão dos equinócios provoca outra mudança: a que se opera na posição dos signos do zodíaco. A Terra, girando em torno do Sol em um ano, à medida que avança, o Sol, cada mês, se encontra diante de uma nova constelação. Estas são em número de doze, a saber: Carneiro, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Balança, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário, Peixes. São chamadas constelações zodiacais, ou signos do zodíaco, e formam um círculo no plano do equador terrestre. Conforme o mês do nascimento de um indivíduo, diz-se que ele nascera sob tal ou qual signo; daí os prognósticos da Astrologia. Mas, em virtude da precessão dos equinócios, acontece que os meses já não correspondem às mesmas constelações. Alguém que nasça no mês de julho já não está no signo do Leão, porém no de Câncer. Cai assim a ideia supersticiosa ligada à influência dos signos.
[4]N. de A. K.: O deslocamento gradual das linhas isotérmicas, fenômeno que a Ciência reconhece de modo tão positivo como o do deslocamento do mar, é um fato material que apoia esta teoria.
[5]N. de A. K.: Entre os fatos mais recentes que provam o deslocamento do mar, podem citar-se os seguintes:
No golfo da Gasconha, entre o velho Soulac e a Torre de Cordouan, quando o mar está calmo, percebe-se no fundo da água trechos de muralha: são restos da antiga e grande cidade de Noviomagus, invadida pelas ondas em 580. O rochedo de Cordouan, que se achava então ligado à margem, está agora a 12 quilômetros.
No mar da Mancha, sobre a costa do Havre, as águas ganham terreno dia a dia e minam as falésias de Sainte-Adresse, que pouco a pouco desmoronam. A dois quilômetros da costa, entre Sainte-Adresse e o cabo de Hève, existe um banco que outrora se achava à vista e ligado à terra firme. Antigos documentos atestam que nesse lugar, por sobre o qual hoje se navega, existia o vilarejo de Saint-Denis-chef-de-Caux. Tendo o mar invadido o terreno no século XIV, a Igreja foi tragada em 1378. Dizem que, com bom tempo, é possível ver-se os seus destroços no fundo do mar.
Em quase toda a extensão do litoral da Holanda, o mar só é contido à força de diques, que se rompem de tempos em tempos. O antigo lago Flevo, que se reuniu ao mar em 1225, forma hoje o golfo de Zuyderzee. Essa irrupção do oceano tragou várias povoações.
Segundo isto, o território de Paris e da França toda seria um dia novamente ocupado pelo mar, como já o foi muitas vezes, conforme o demonstram as observações geológicas. Então, as partes montanhosas formarão ilhas, como o são agora Jersey, Guernesey e a Inglaterra, outrora contíguas ao continente.
Navegar-se-á por sobre regiões que atualmente se percorrem em estradas de ferro; os navios aportarão em Montmartre, no monte Valeriano, nos outeiros de Saint-Cloud e de Meudon; os bosques e florestas, agora lugares de passeio, ficarão sepultados nas águas, cobertos de limo e povoados de peixes, em vez de pássaros.
O dilúvio bíblico não pode ter tido essa causa, pois que foi repentina a invasão das águas e de curta duração a permanência delas, ao passo que, de outro modo, essa permanência teria sido de muitos milhares de anos e ainda duraria, sem que os homens se dessem conta disso.
[6] N. do T.: No dia 26 de dezembro de 2004, ondas gigantescas de até 12 metros de altura invadiram o litoral de doze países do sul da Ásia, especialmente a Indonésia, onde causaram maiores danos, mas se estendendo também à Oceania e à costa oriental da África. Chamadas de tsunami, tais ondas foram provocadas por um abalo sísmico submarino cujo epicentro ocorreu no oceano Índico, a 9.000 metros de profundidade, próximo à ilha de Sumatra, tendo atingido 9 graus na escala Richter e provocado, segundo estimativas da ONU, a morte imediata de 150.000 pessoas.
[7]N. de A. K.: O cometa de 1861 atravessou a órbita da Terra num ponto do qual esta se achava a uma distância de apenas 20 horas. A Terra esteve, portanto, mergulhada na atmosfera dele, sem que daí resultasse qualquer acidente.
[8] N. do T.: Para mais detalhes, veja-se a Revista Espírita de setembro de 1868.
[9]N. de A. K.: No seu movimento de translação em torno do Sol, a velocidade da Terra é de 400 léguas por minuto. Sendo de 9.000 léguas a sua circunferência, em seu movimento de rotação ao redor do seu eixo, cada ponto do equador percorre 9.000 léguas em 24 horas, ou 6,3 léguas por minuto.
[10]N. da E.: Ver “Nota Explicativa”, p. 509.