Bastão de Arrimo

Capítulo II

Solicitação de coragem



“Quando estiver cansada, serei seu bastão de arrimo e Jesus será o bastão de nós dois.”


Mamãe, peço à senhora que me abençoe com o grande amor de todos os dias.

Um ano passou sobre nossa separação. A senhora e eu choramos tanto.

Este céu de chuva dá ideia do pranto que nós dois temos vertido, mas repito, ao seu carinho a solicitação de coragem.

Neste primeiro ano de nossa batalha de saudade, a senhora ainda tem sido minha enfermeira santa, porém, os papeis ficaram trocados.

Naqueles dias de sofrimento físico, sua palavra me animava, me encorajava, me refazia, depois, quando eu vim para cá, a senhora ficou tão triste, tão desalentada e eu, embora doente de espírito, fui obrigado a tomar o papel de quem consola e reconforta.

Muitos poderão passar desapercebidos de nossa dor. É tão fácil passar ao lado de um túmulo que nos seja indiferente!

Mas nós, mamãe, entendemo-nos mutuamente. Entendemo-nos e isto basta.

Há situações onde a palavra falada ou escrita é inexpressiva e incapaz.

Entretanto, sou o primeiro a reconhecer que precisamos renovar atitudes no caminho de redenção.

Ajude-me com seu espírito valoroso e fiel. Auxilie-me a secar também a fonte das lágrimas e sepulte no mais íntimo do coração as lembranças amargas.

Aqui os Espíritos benfeitores me recomendam incessantemente lhe fale que a morte é ilusão e que a vida é a única realidade.

Pense, medite que estou pleno de vigor. Idealize-me a seu lado, sem doença, sem cansaço, sem desânimo. Isto me auxiliará imensamente.

Estou amparado, tenho as minhas necessidades atendidas. Há quem cuide de mim que me entende mãos fraternas.

Tenho estado quase feliz. Mas eu mesmo, aí na Terra, não sabia que amava tanto. Depois é que descobri este manancial, que andava oculto em minh’alma.

E o amor é o nosso tesouro. Com que prazer grafo estas palavras em seu caderninho!…

Creia, mamãe, que a vida é muito mais bela do que possamos imaginar, que a esperança deve subir além da morte, para lá das próprias estrelas!

Tudo é vida e quando a fé nos revela Deus, como tudo se modifica!

Não, não se mantenha num círculo de amargura. Quando alegrar-se lembre-se de que está contentando a seu filhinho.

Estarei com a senhora em todos os minutos de paz e contentamento. Sua fortaleza ainda é meu remédio. A senhora não teria coragem de me negar qualquer sacrifício para alívio de meu coração. Não desanime pois. A transição da morte é mudança de cena, mas o ambiente da vida é o mesmo.

Quando ora, medita, aproximo-me sempre ansioso de faze-la sentir meu restabelecimento, minha vontade de cooperar na sua paz.

Às vezes, contudo, sua mente lembra-me nos dias de enfermidade, de dor, de expectativa dolorosa e continuo sentir inquietações novas que tentam voltar.

Recorde o seu William dos 15 anos, seu William quase soldado que se passou a outra vida e aproveitará a nova fase para saber defendê-la melhor.

Os inimigos existem e quem não os terá? O próprio Jesus ainda trabalha para que os adversários de sua luz não lhe avassalem as Obras Divinas. Seríamos nós, falidos de outras eras, devedores de Deus e dos homens que passaríamos incólumes? Não. Consolemo-nos, certos de que o Pai nunca nos negou sua bênção de infinita bondade.

Até eu mesmo, nos primeiros dias, andava indeciso ignorando como explicar a mim mesmo o porquê do desprendimento doloroso. Mais tarde mostraram-me um quadro expressivo em que eu e a senhora depois de menosprezar o ideal sublime de um irmão, afastando-o das lutas humanas, inculpamos a outros do gesto delituoso que nos ensombrava a consciência. Ai! A culpa! A culpa! E hoje, sem sermos culpados de sofrimentos que beneficiam, a senhora e eu temos andado com essas ideias de culpa, sem razão de ser.

É que essa dor vem de mais longe, mas, Deus que é tão bom permitiu que eu lhe trouxesse à alma carinhosa essas afirmativas de consolação. Isso significa débito liquidado.

Jesus não esquece o martírio das mães, porque Ele também contemplou a Dele do alto da Cruz, entre a aflição e o padecimento.

Acaso não bastará à senhora o resgate pesado de cada dia no lar que tantas auréolas de espinho lhe traz ao coração?

Não bastará esta luta tremenda, mamãe, em que a senhora se levanta com a incerteza para dormir com a súplica? Pense nisso e esqueça a ideia de culpa.

A fé anestesia o coração cansado. Entregue-se a ela totalmente para nos encontrarmos aqui, embora continue a senhora no posto de amor e renúncia ao lado do papai e dos irmãos.

Tudo passa da Terra e eu estou vivo, esperando-a. Foi melhor que eu viesse, porque deste modo estarei auxiliando-a diariamente, na medida de minhas forças.

As reuniões evangélicas lá em casa tem sido muito úteis. Ajudam-nos a todos e nelas tenho encontrado caricioso bálsamo ao coração.

E agora que lembramos o primeiro ano de minha vinda, creia que seu filho está muito esperançoso.

Não tema as nuvens. Quando caírem hão de ser transformadas em chuva benéfica.

Atravesse espinhos, pedras, sorva os tragos de fel indispensáveis à experiência, não receie a mágoa, a necessidade, o sofrimento.

Aqui é que vemos o valor dessas cousas e observamos na luta um tesouro de possibilidades sem fim.

Seu filho está presente. Quando estiver cansada serei seu e Jesus será o bastão de nós dois.

Minhas lembranças para os meninos e papai.

E rogando a Deus conceda a senhora as luzes do Céu para nunca desanimar na nossa subida para a redenção, beija as suas mãos com muito carinho e com muito e muito amor, o seu




Nota: Esta mensagem consta também do livro comemorativo dos cinquenta anos de mediunidade de Chico Xavier, “”, editado pelo IDEAL. — Instituto de Difusão Espírita André Luiz.


Esta mensagem foi psicografada em Pedro Leopoldo na noite do dia 24 para 25 de setembro de 1942, aniversário do primeiro ano do desprendimento do nosso William. Estavam presentes Da. Adélia e seu irmão mais velho, companheiro de Chico durante trinta e cinco anos, Zeca Machado.


A saudade não é patrimônio apenas do Plano Físico, mas também, envolve os que já partiram para o Plano Espiritual.


Contou-nos Da. Adélia: “A referência que William faz ao caderninho, é porque um dia faltou-lhe um caderno quando ia para o ginásio e queria levar este, onde, anos depois ele grafou esta mensagem. Naquele dia, não lhe dei o caderno, dizendo-lhe que servia para nele passar as mensagens recebidas por Chico Xavier de minha tia Margarida.


A fixação de nosso pensamento nos aspectos negativos e dolorosos do desencarne de nossos entes queridos, muitas vezes, lhes renovam aflições e padecimentos que deveríamos relegar à retaguarda. Daí o imperativo de mantermos sempre bons e arejados pensamentos de paz e alegria para com a memória deles.


Referência a débitos de reencarnações anteriores. Como vemos a Lei de Causa e Efeito nos atinge a todos invariavelmente, a qualquer época e lugar, consoante a afirmativa do Cristo Jesus: “Dar-se-á a cada um conforme as suas obras”. (Mt 16:27)


Referência ao Culto do Evangelho realizado semanalmente no lar de nossa estimada Da. Adélia Machado de Figueiredo.