Bastão de Arrimo

Capítulo XX

A oração



“A oração é o milagroso poder do silêncio.”


Mamãe querida. Pedindo-lhe me abençoe, rogo a Jesus não nos falte com a sua proteção e arrimo.

Sei quanta dor lhe convulsiona o espírito nestes dias nublados de expectação. Suas preces caem sobre as minhas lembrando gotas de fel, tão grande é a tempestade que lhe agita o espírito valoroso.

Mamãe, estas horas são aquelas de aflitivo calvário em que nossas almas encontram os primeiros albores da ressurreição.

Se pudesse, lavaria seus pensamentos, dele expulsando todas as mágoas, se me fosse possível, tomar-lhe-ia o lugar para lutar e sofrer… Entretanto, a lei me constrange a identificar-lhe os padecimentos sem a possibilidade de remediá-los.

Ainda assim, acompanho-a, passo a passo, na certeza de que a cruz dividida será sempre menos pesada. Nossos problemas continuam, quais gigantes constrangedores, em cujos braços nos contorcemos. Mas Jesus, sempre compassivo, não nos relega ao abandono.

A questão de “W…” é, sem dúvida, muito dolorosa, contudo, não nos esqueçamos da prece. A oração é o milagroso poder do silêncio.

Se pudesse opinar nos acontecimentos que se desenrolam, creio que a senhora, nosso anjo guardião, deve acompanhá-lo no transe que se aproxima. Isso se for possível e se pudermos contar com o apoio dos nossos companheiros em família, pois sei que as lutas trazidas no 1953 que findou, são ainda enormes, no setor dos compromissos que o seu devotamento foi obrigado a abraçar.

Creia, porém, que o nosso esforço por afastá-lo do suicídio tem sido grande. O pobre irmão não sabe concatenar as próprias forças para a resistência moral indispensável e, por isso, facilmente se torna aprisionado da influência dos desafetos do passado que ressurgem no presente tormentoso.

Não o vejo, há alguns dias, entretanto, somos vários companheiros a segui-lo de perto, na tentativa de soerguer-lhe a esperança. Indo a senhora observar as fases finais do assunto, guarde a certeza de que estaremos juntos.

O tesouro das mães será sempre o amor aliado ao sacrifício. E com essa riqueza de carinho e sentimento, admito que ainda podemos fazer algo, ainda mesmo quando este algo seja um bálsamo de socorro que atenue as penas e as aflições suscetíveis de maior amplitude, com a nossa ausência.

Recordemos nossa Mãe do Céu e roguemos a Ela forças…

Por enquanto, nada posso prever, mas mantenho a convicção de que Jesus não nos deixará sem o apoio preciso. Confiemos. Ainda que a subida nos sangre os pés, não desfaleçamos.

O Senhor que é o Senhor encontrou a ressurreição depois da Cruz. Assim entendendo aceitemos o madeiro de nossos pesados testemunhos e conservemos a fé por nossa mais alta advogada nos dias escuros que vamos atravessando.

Quanto à nossa “I.”, auxiliemo-la com o nosso pensamento alçado a Deus. Ela está entregue ao Nosso Pai de Infinita Bondade. Que as dívidas de ontem sejam resgatadas nas lágrimas de hoje. Tudo o que nos é possível fazer, estamos providenciando em seu favor.

No momento, “W…” é a nossa preocupação maior. Centralizemos nossas almas no auxílio a ele. Receio não saiba o querido irmão suportar a prova redentora. Apesar de tudo, mamãe, não estou desanimado. Temos vencido outras batalhas e curado outros amargores.

Jesus é o nosso Companheiro Divino na jornada. Ainda uma vez, peço-lhe para que as nossas mãos permaneçam seguras nas Dele, nosso Guia Infalível, que, muitas vezes, nos conduz à alegria por intermédio do sofrimento, assim como nos impele à luz do dia, através das sombras da noite.

Papai vai indo muito bem. Espero possa ele, em breve, trazer à senhora uma carta. Vovó Georgina e Tia Margarida estão presentes. Rogam-lhe confiança, coragem, bom ânimo.

E repetindo meus votos ardentes no Nosso Eterno Benfeitor para que a luz do Alto nos esclareça e nos oriente o caminho a seguir, com lembranças carinhosas para Nonô e as meninas, beija o seu coração amoroso, com muito reconhecimento, com muito afeto e com muita ternura o seu filho, sempre seu e sempre ao seu lado.




Mensagem recebida em Pedro Leopoldo no dia 11/01/1954.


É do conhecimento espírita que todos aqueles que se dedicam no mundo aos pensamentos de autodestruição e desânimo se veem presos a influenciações menos edificantes e menos felizes do Plano Espiritual, que se lhes afinizam com a ideia mórbida. Muitas vezes, desafetos do passado disso se aproveitam para solaparem as energias dos tristes comparsas encarnados, dilapidando-lhes a paz espiritual. Nestes casos torna-se imprescindível a vigilância e a oração como normas de assepsia mental e saúde orgânica. Já nos afirmava Jesus convincente, pelo Mt 17:21, capítulo 17, versículo 21: “Mas esta casta de Espíritos não se expulsa senão por meio de oração e jejum!” Jejum este dos pensamentos e atos negativos e oração como meio de ligação com as Forças de Mais Alto. Eis a fórmula da paz espiritual que todos nós almejamos.


Referência ao pai já desencarnado.