Bastão de Arrimo

Capítulo XXV

Filho recebe a mãe de retorno à Vida Espiritual



Querida Wanda, Deus nos abençoe.

Hoje, terá chegado o momento de reafirmar a você o carinho do irmão que se vê entre a alegria de receber a mamãe e a aflição de vê-los a todos em família, desnorteados e inquietos.

Wanda, creia, a nossa querida benfeitora não suportava mais. Certos vasos do cérebro não lhe resistiam à pressão da vontade férrea de se agarrar à existência por amor aos filhos, netos e bisnetos queridos, e, uma parada cardíaca e envolve-la, quase de um momento para outro, ameaçava silenciar aquela cabeça iluminada de amor por nós todos; e, todos nós, os familiares do meu novo lado de experiência, nos pusemos em oração, rogando a Jesus nos permitisse auxiliá-la a se desvencilhar dos laços que ainda a encarceravam no corpo doente.

Perdoe-me se lhe digo isso. Essas horas sempre chegam no mundo. E creia, quando vocês lhe comemoraram jubilosamente os oitenta e um janeiros na experiência física, recordei com a vovó Georgina que eu estava, como estou, completando quarenta anos de saudade… Desculpem-me os irmãos queridos se me refiro a isto. Você, a Ivone, a Carmem Sílvia, a Lourdes, o Wilson, o Nonô, o Paulo e todos os nossos de casa tiveram-na sempre, com a ternura concentrada em vocês todos…

Para saber vocês todos felizes, eu também suportaria a distância pelo tempo que o Senhor assim o determinasse, mas a volta de mamãe para nós aqui, foi a supressão de uma prova que ela não merecia. Habituada ao trabalho e à cortesia para com todos, ao devotamento em favor de todos os familiares e à gentileza constante para com todos os amigos, você pode avaliar o suplício que lhe seria a imobilidade quase absoluta no leito. Ela própria, no íntimo, orava, pedindo a Jesus lhe desse o melhor… Tantos amigos e benfeitores a cercavam!

A vovó julgou prudente que você se afastasse por algumas horas, a fim de que se lhe desligassem as doces amarras, das quais se reconheceria ela com muita dificuldade para aceitar o próprio desligamento do corpo cansado e enfermo, na hipótese de se reconhecer diante de você, filha que sempre lhe partilhou as tarefas da vida, em conjunto com a nossa Ivone e com a nossa Lourdes, companheiras da presença incessante. Mamãe sabia que você tem sofrido dificuldades e provas no coração materno, de tal modo, que talvez houvesse resistido àquela carinhosa intimação para se distanciar da luta agora sem maior significação para ela, já que se via desarmada de saúde e forças para continuar. Você viajou, quase de inesperado, para que ela igualmente conseguisse viajar…

Mas, não esteve a sós, em momento algum. Junto a corações nossos que palpitavam com o seu, a vovó Georgina, com a orientação dos nossos benfeitores de sempre, recolheu-a nos braços como se o fizesse à sua menina de outro tempo… E eu, Wanda, me lembrei dos dias e das noites em que ela velou comigo no hospital, que intentava me devolver, debalde, a saúde física e tudo fiz para retribuir em amor aquela vigilância maternal que a mamãe me dispensou até o fim do corpo…

Quando você chegou, já noite, para ver-lhe o retrato sorridente na urna florida, abracei-me a você, sabendo-a fatigada de angústia… Mas, peço-lhe calma e coragem. Distribua com o Paulo e com os nossos a força de sua fé.

Aqui todos bendizem o regresso daquela que plantou tanto amor, com a vovó Georgina, o tio Zeca, a tia Carmem, a tia Pazinha e a tia Margarida, à frente de tantas afeições com vocês choram… Por isso, sou seu irmão e venho chorar com você, embora saiba que tudo aconteceu do melhor modo para ela e para nós.

Peça em casa para que a serenidade e a paz que ela sempre cultivou diante da vida continuem sendo as marcas do carinho materno que nos ensinou a viver e a conviver… Quando você estiver sob a nuvem de saudades maiores, lembre-se de que nós estamos vivos na existência real, que nunca nos separaremos e que a vida na Terra vale pelo bem que se faz e pela dor que se suporta com fé viva em Jesus e coragem para prosseguir caminhando na trilha que a Divina Providência nos tenha assinalado.

Minhas lembranças a todos. Mamãe repousa, se é que um coração materno consegue repousar, mas muito breve retomará a si própria na continuidade das tarefas a que emprestou as suas melhores forças, a partir da própria família.

Querida Wanda, conduza ao nosso caro Geraldinho, os nossos pensamentos de paz, pois sei que ele também sofre na posição de um filho em dificuldade para se rearmonizar com a vida.

E com todos os nossos familiares queridos, especialmente o nosso estimado Paulo, receba um abraço de seu irmão sempre agradecido,




Mensagem psicografada em reunião pública da noite de 30.07.1982, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba — Minas Gerais, duas semanas após o falecimento de Dª Adélia Machado de Figueiredo, mãe do nosso querido William.


Referência ao desencarne de sua mãe Adélia, que se deu aos 16 de julho de 1982.


Dª Adélia contando uma idade avançada, já não tinha mais forças físicas, padecendo leve distúrbio cardíaco e circulatório. No dia 16.07.1982, às 08 horas da manhã; quando se preparava para tomar o café auxiliada por sua filha Ivone, sofreu a parada cardíaca que a levou ao decesso. Isto tudo se deu serenamente, cabendo aqui a expressão popular: “Morreu como um passarinho”.


Dª Adélia havia completado 81 anos de existência aos 21 de abril do mesmo ano de 1982.


William havia desencarnado quarenta anos antes, aos 14:08-1941.


Segundo a recomendação do Apóstolo Pedro em sua 1Pe 4:8: “O amor cobre a multidão dos pecados”. Isto nos mostra que mesmo devendo à lei de Justiça Universal, se nos guiarmo-nos pela lei de amor e caridade, resgataremos mais depressa os nossos débitos de antigas existências. É assim que podemos, pelo nosso proceder, modificar a trajetória de nosso carma: Se pelo bem proceder, amenizando-o; se pelo mau proceder, complicando-o.


Wanda Noronha, acompanhada deste organizador, viajou para Uberaba na véspera do desencarne de sua mãe, a nossa querida Dª Adélia Machado de Figueiredo, ou seja, no dia 15.07.1982; naquela cidade é que recebemos a notícia do decesso.


Referência de William ao período de sua doença física, antes de seu falecimento, que se deu aos 25:09-1941.


Referência ao Organizador Geraldo Lemos Neto.