Bastão de Arrimo

Capítulo IX

Falar, pedir e esperar



“Somos obrigados a falar e pedir, a pedir e a esperar.”


Querida mamãe, peço ao seu carinhoso coração me abençoe e, por minha vez, rogo à Deus nos ajude a vencer nas lutas de sempre.

Sua alma sensível continua atravessando o perigoso mar das provas e prossigo ao seu lado, remando quando lhe faltam forças no leme para a condução do barco. Sei como lhe doem as tempestades dos últimos dias.

Para o espírito materno, as sombras no horizonte dos filhos, são sempre mais pesadas e mais tristes. Multiplicam-se-lhe as dores, receios e aflições. E eu compreendo perfeitamente o que ocorre. Suas mãos carinhosas estão sempre dispostas ao nosso amparo, seu verbo a defender-nos, seu espírito a preservar-nos.

Abençoada seja a sua dor, nascida do supremo sacrifício, na proteção àqueles que a Providência Divina lhe confiou ao espírito valoroso.

Eu, sei, mamãe, que a senhora nos oferece as rosas perfumadas do coração e nós lhe crivamos o coração com espinhos envenenados.

Perdoe-nos com a sua renúncia, com a sua bondade de todos os momentos. Entretanto, nesse pedido, desejo apelar para o W… para que ele transforme o próprio caminho, a melhorá-lo. Diga-lhe em nome de minha dedicação fraternal, que a vida humana é um aprendizado divino do qual não nos desviaremos sem graves consequências. Ele agora é casado, é esposo e é pai.

O Divino Senhor, cuja bondade hoje percebo melhor, presentemente conferiu-lhe deveres verdadeiramente sagrados. A esposa e o filhinho constituem-lhe, agora, um sublime depósito, ao qual está preso por laços veneráveis. Não é justo que se perca através de aventuras, complicando o futuro e perdendo os melhores anos da existência. Suas realizações apenas começaram e se os alicerces não forem bem cuidados e as bases não atenderem com a firmeza precisa, que será de seu edifício de homem consagrado às grandes obrigações no campo doméstico?

Como lhe acontece, estou igualmente preocupado por ele. Quisera voltar aos nossos, com a experiência que hoje possuo, a fim de despertá-los para a senda real do espírito, mas, francamente, por enquanto, embora o carinho que me dedicam à memória, apesar do respeito que me lembram, só em seus ouvidos encontro bastante espaço para fazer-me sentir. Nós dois estamos identificados para sempre, mamãe, graças à Deus, mas… e eles? Somos obrigados a falar e pedir, a pedir e a esperar.

A senhora não desanime. Tudo passa na Terra.

Um dia, conhecerão sua alma como eu conheço agora. Seu amor para com os filhos cresce com as faltas de cada um, e Deus há de recompensá-la com a precisa resistência, a fim de ganharmos a paz nesta guerra que perdura há tantos anos, no círculo de nossos corações. A vitória chegará.

Até esta hora bendita, aumente a sua capacidade de suportar. Com a renúncia, tudo haveremos de resolver, por amor, sob o Auxílio Divino. No entanto, convém rogarmos à W… a cooperação dele com mais calor. É necessário que ele nos ajude. A paz e a segurança dele são igualmente nossas.

Espero, confiante, a renovação do quadro em que a senhora tanto tem sofrido. Continuemos com serenidade no barco de nossa fé. Por vezes, o trovão grita alto e o vento nos ameaça de rijo, mas o porto de chegada retribuir-nos-á sofrimentos com a tranquilidade almejada.

Não deixe seus estudos espirituais, suas orações e tarefas. São eles vias sagradas de comunicação, entre seu espírito e as esferas mais elevadas.

Por maior que seja o esgotamento físico e por muito grandes as preocupações, faça o possível por não perdermos essa realização, porque com a sua presença eu me sinto também mais forte.

A maior mensagem que eu lhe posso dar é a do meu coração e este está incessantemente ao lado do seu.

Agradeço suas carinhosas lembranças de anteontem e peço-lhe distribuir meus carinhos com todos em casa.

Que Jesus lhe fortaleça o coração, traçando-lhe caminhos de luz e semeando flores de paz em sua alma afetuosa e abnegada, são os rogos muito sinceros do filho sempre seu




Mensagem recebida na quinto aniversário de morte do nosso William, aos 25 de setembro de 1946, na cidade de Pedro Leopoldo.