Baú de Casos

Capítulo V

Provas e calamidades



Você nos pergunta, em carta,

Meu caro Alfeu Segismundo,

Como encontrar alegria

Nas graves provas do mundo.


E continua afirmando:

— “Cornélio, o que diz você?

Tanta lágrima na Terra,

Não sei explicar porquê…


Basta ler, ouvir e ver,

Nos campos de informação,

E a gente sofre pensando

Em tanta tribulação.


É guerra que não se acaba,

E desespero alastrando,

É clima destemperado,

Calamidades em bando…


É tromba d’água caindo,

Geada, seca, maré…

Amargura e insegurança

Surgem na falta de fé.


É desastre, a toda hora,

É murro de força bruta…

De que modo ser feliz

Em meio de tanta luta?”


Digo, porém, caro amigo,

Que a Terra foi sempre assim:

— A escola que sempre educa,

Tanto a você, quanto a mim.


Você sabe: o educandário

Em que a gente se renova

Reclama trabalho, esforço,

Lição, disciplina e prova…


Mas se quer felicidade,

Medite, prezado Alfeu,

Nas cousas boas da vida

Que você já recebeu.


Pense nas almas queridas

Que o situaram no bem,

Nos recursos que o protegem,

Nas amizades que tem.


Olhe o poder que possui

De buscar o que lhe agrade,

Você consegue mover se,

Conforme a própria vontade.


Lembre o sono que desfruta,

A mesa que o reconforta,

A fonte jorrando em casa,

O pão que lhe vem à porta.


Recorde a sombra vencida

Pelos dons da luz acesa,

Os recursos do progresso

E as bênçãos da natureza.


Medite nos animais

Que sofrem no dia a dia,

Para que o prato lhe seja

Um transmissor de alegria.


Pense nos dias tranquilos

De estudo, de calma e prece,

Nas horas somente suas

Em que ninguém lhe aborrece.


Então, você notará,

De atenção célere e pronta,

Que os benefícios da Terra

São benefícios sem conta.


Em síntese, caro amigo,

No mundo, a gente, a meu ver,

Muito pouco sofreria

Se soubesse agradecer.


Se você quer progredir

Na luz que Deus nos consente,

Esqueça a conversa mole,

Largue a queixa e siga em frente.