Baú de Casos

Capítulo XIV

Culpa e doença



Recebi a sua carta

Meu caro Juca Beirão,

Você deseja se fale

Em culpa e reencarnação.


Da sua pergunta amiga

Não posso me descartar,

Por isso, peço desculpas

Do meu modo de informar.


Sabe você, a pessoa,

Seja aí ou seja aqui,

Segue o tempo carregando

Aquilo que fez de si.


Quando lesamos alguém,

Conforme lei natural,

Plantamos na própria vida

Uma semente do mal.


Tempo surge, tempo some

Em horas de sombra e luz,

Mas chega um dia entre outros

Em que a semente produz.


O valor desta lição

Não posso dar em miúdo,

É que existe em cada efeito

Uma causa para estudo.


Por isso, ante o seu exame,

Sem nomear o endereço,

Apresento ao caro amigo

Alguns casos que conheço.


A fim de poupar o tempo

Que vai seguindo veloz,

Falemos tão só nos erros

Que assumimos contra nós.


Perdeu-se de todo em pinga,

Nosso Antonico Vanzeti,

Renasceu mas traz consigo

A luta com diabete.


Emilota de Traíras

Fez abortos à vontade,

Reencarnada quer ter filhos

Mas sofre esterilidade.


Desencarnada em excessos

Voltou à Terra Ana Frozzi,

Mas padece a obesidade

De nome lipomatose.


Com muito abuso de drogas,

Desencarnou Léo Faria

Hoje só pode nascer

Na herança da hemofilia.


Beleza desperdiçada,

Lá se foi Mira Vilar,

Renascendo, tem doenças

Que não conseguem sarar.


Afogou-se num suicídio

Odorico de Ipanema,

Voltou, mas em tempo certo

Terá lutas de enfizema.


Atirou no próprio crânio,

Nhô Ninico da Calçada,

Retornou a novo corpo,

Mas tem a ideia alterada.


Em muitos casos, doença

Quando aparece e demora,

É a luta que nós criamos

De longa e lenta melhora.


É isso aí, caro amigo,

Anote esta lei comum:

— Na culpa de cada qual

É a prova de cada um.