Bazar da Vida

Capítulo XII

O cofre



A viúva Dona Adélia

Fora linda e muito rica,

Ajaezada de joias

Na Fazenda de Benfica.


Mas tudo via em mudanças,

Desde a morte do marido,

Fazenda, granjas e terras,

Tudo ela havia perdido.


Tinha dois filhos adultos,

Liberato e Consentino,

O primeiro — jogador,

O segundo — libertino.


Gastavam dinheiro, a rodos,

Sob avais e mais avais;

Quando a viúva acordou,

Tinha assinado demais.


Perdera fazenda e terras,

As joias que possuía,

Todo o crédito bancário

E a casa de moradia…


Os dois filhos lhe arranjaram

Duas estreitas salinhas,

Onde moravam com ela

Um gato e duas galinhas.


Comiam do que lhes dessem,

Por simpatia e bondade,

As pessoas de visita,

Em nome da caridade.


Os filhos, porém, notaram

Que ela guardava com gosto,

Um cofre, sob disfarce,

Num travesseiro bem posto.


Certo dia, com malícia,

Perguntou-lhe o Liberato:

— “Mãezinha, o que há no cofre,

Que recebe tanto trato?”


Ela apenas respondeu,

Mostrando certo cuidado,

— “Neste cofre, tenho o resto

Do meu dinheiro guardado.”


Desde esse dia, a viúva

Teve os filhos, ao redor,

Ela, as galinhas e o gato

Comeram muito melhor.


Vários anos se passaram

Com melhoria e regalo:

Os filhos, olhando o cofre

E ela sempre a resguardá-lo.


Em luminosa manhã,

Os moços, abrindo a porta,

Estremeceram de susto,

Dona Adélia estava morta.


Guardaram o cofre, às pressas,

Trouxeram médico e gente…

E ao fim do dia lhe deram

Funeral sóbrio e decente.


Ambos sozinhos, à noite,

Abriram o cofre, enfim…

O cofre só tinha conchas

E um bilhete escrito assim:


— “Filhos do meu coração,

Meus filhos que tanto amei,

Perdoem se nada tenho…

Tudo o que eu tinha, eu lhes dei…


“Mas, agora, se desejam

Ouro e mais ouro a rolar,

Aceitem o meu conselho:

Cada um vá trabalhar!…”