Bazar da Vida

Capítulo XIX

Promessas



O homem desencarnado

Apareceu abatido…

Queria o nosso mentor

Para fazer-lhe um pedido.


O pobre recém-chegado,

Começou dizendo assim:

— “Ampare-me, nobre amigo,

Tenha piedade de mim…


“Sei que já fui afastado

De meu corpo deprimente,

Mas vivo de déu-em-déu

Vagando, constantemente.


“É que ando preso aos cuidados

De uma promessa que fiz,

Promessa que não paguei,

O que me faz infeliz.


“Fui rico… Tive fortuna,

Hoje invadida de herdeiros…

Mas fiquei devendo aos pobres

Setecentos mil cruzeiros.


“São pobres de Santo Antônio

Que os protege das Alturas…

Viúvas abandonadas

Em choças tristes e escuras…


“Que devo fazer agora,

Em meu remorso insistente,

Se meu dinheiro não vale

No câmbio aqui diferente?”


O mentor se resguardava,

Em silêncio singular,

E o homem continuou

Em lágrimas de pasmar…


Por fim, o mentor falou

Em voz amiga e pausada:

— “Meu amigo, sinto muito

A sua conta atrasada…


“Aquilo que se promete

À caridade de alguém

Tem força de promissória

Na Terra e no Mais Além…


“O Bem é negócio urgente,

Não se entristeça, entretanto,

Volte ao mundo, volte e sirva

Aos protegidos do Santo.


— “E o meu débito, em dinheiro?

Necessito de ação pronta.

Posso assinar promissória,

A fim de pagar a conta?”


Disse o mentor: “Meu amigo,

Escute com atenção:

O seu resgate, em dinheiro,

Só em outra encarnação…”