Embora possamos conceituar os Bens da Vida segundo as nossas concepções pessoais, definindo-os a nosso modo, a verdade é que eles têm qualificações e classificações próprias.
Sob a forma de patrimônio comum, encontramo-los espalhados por toda a parte, como expressão dadivosa da Natureza. Tudo quanto existe vale por manifestação de sua presença.
O ar que respiramos.
A água que bebemos.
O Sol que nos aquece e vivifica.
O dia que nos favorece com as suas horas.
A noite que nos enleva com a magia do seu cenário e nos felicita com a bênção do repouso.
O perfume que balsamiza a atmosfera.
A flor que engalana o jardim.
A árvore que enfeita a paisagem.
O fruto que se ostenta na árvore.
A brisa que ameniza o calor.
O orvalho que se espalha na relva e resvala nas folhas e flores das plantas.
O corpo de que se reveste o Espírito.
As substâncias que vitalizam o organismo.
O vento, a chuva, as riquezas do solo e do subsolo os minerais e vegetais, a força hidráulica, o magnetismo terrestre, as ondas hertzianas, as correntes marinhas, a eletricidade, as fontes térmicas e minerais, a fauna e a flora — tudo isto forma o majestoso conjunto de dádivas que o Pai Celestial põe à disposição de todos, sem que coisa alguma custe alguma coisa a alguém.
Estas são as naturais dotações da Criação ao Homem. A par delas, porém; necessariamente deve haver as doações do Homem à Vida, que, ao contrário das primeiras, têm origem na natureza espiritual da criatura, procedem de dentro para fora.
Toda e qualquer exteriorização construtiva significando esforço de realização a bem do próximo, equivale a uma projeção do espírito humano, no sentido da ampliação de suas possibilidades, mediante a aquisição de maiores bens e valores eternos, definindo-se e positivando-se cada vez mais para melhor.
Portanto, não é só o que nos beneficia que são bens da Vida, mas também e principalmente quanto de benefício pudermos proporcionar aos outros, procurando fazê-los felizes para sermos felizes com eles, isto é, fazendo nossa a própria felicidade alheia.
Poderemos caracterizar atitudes e situações que se enquadram nesta ordem de coisas, aferidas assim por um outro critério de valorização.
O silêncio que fazemos em torno de acontecimentos isolados do conjunto, para não levarmos ao pelourinho da vergonha e da desonra seus protagonistas.
A palavra que pomos a serviço da complacência, sempre pronta a defender e a amparar.
A mensagem de estímulo e conforto que endereçamos aos flagelados do corpo e da alma.
A prece que formulamos em favor de alguém.
O passe que aplicamos com o sincero desejo de colaborar na recuperação do enfermo.
O lar que fundamos em bases cristãs.
A família que educamos nos princípios enobrecedores do pudor e da compostura, do trabalho e do estudo, da honradez e da dignidade.
A escola que ajudamos a manter com o nosso esforço.
Os favores desinteressados que prestamos a quem quer que seja.
Os ensinos que ministramos aos menos favorecidos de conhecimentos.
A mão que estendemos aos que precisam levantar-se e caminhar.
O aproveitamento das provas e expiações.
Sob o aspecto de inspiração própria, de iniciativa individual, de cunho essencialmente íntimo, muita coisa podemos fazer e deixar de fazer, que resultará em bênçãos e luzes do nosso caminho, com tanto mais proveito para nós mesmos quanto maior for o benefício que pudermos proporcionar a outrem.
Estes outros Bens da Vida formam o patrimônio próprio de cada um de nós e perduram conosco por todo o sempre, porque são o tesouro que o ladrão não rouba, a traça não rói, a ferrugem não destrói e o tempo não consome. (Mt
[Revista Reformador (FEB) Junho 1970] Essa mensagem foi publicada no jornal NOTÍCIAS POPULARES (sem data, década de 1970/
80) na seção “MENSAGEM DO DIA — de Chico Xavier”; o recorte jornalístico encontra-se sob a custódia do Dr. Eurípedes Higino, filho adotivo do Chico.