Caderno de mensagens

Capítulo LXIV

Bens da Vida



Embora possamos conceituar os Bens da Vida segundo as nossas concepções pessoais, definindo-os a nosso modo, a verdade é que eles têm qualificações e classificações próprias.

Sob a forma de patrimônio comum, encontramo-los espalhados por toda a parte, como expressão dadivosa da Natureza. Tudo quanto existe vale por manifestação de sua presença.

O ar que respiramos.

A água que bebemos.

O Sol que nos aquece e vivifica.

O dia que nos favorece com as suas horas.

A noite que nos enleva com a magia do seu cenário e nos felicita com a bênção do repouso.

O perfume que balsamiza a atmosfera.

A flor que engalana o jardim.

A árvore que enfeita a paisagem.

O fruto que se ostenta na árvore.

A brisa que ameniza o calor.

O orvalho que se espalha na relva e resvala nas folhas e flores das plantas.

O corpo de que se reveste o Espírito.

As substâncias que vitalizam o organismo.

O vento, a chuva, as riquezas do solo e do subsolo os minerais e vegetais, a força hidráulica, o magnetismo terrestre, as ondas hertzianas, as correntes marinhas, a eletricidade, as fontes térmicas e minerais, a fauna e a flora — tudo isto forma o majestoso conjunto de dádivas que o Pai Celestial põe à disposição de todos, sem que coisa alguma custe alguma coisa a alguém.

Estas são as naturais dotações da Criação ao Homem. A par delas, porém; necessariamente deve haver as doações do Homem à Vida, que, ao contrário das primeiras, têm origem na natureza espiritual da criatura, procedem de dentro para fora.

Toda e qualquer exteriorização construtiva significando esforço de realização a bem do próximo, equivale a uma projeção do espírito humano, no sentido da ampliação de suas possibilidades, mediante a aquisição de maiores bens e valores eternos, definindo-se e positivando-se cada vez mais para melhor.

Portanto, não é só o que nos beneficia que são bens da Vida, mas também e principalmente quanto de benefício pudermos proporcionar aos outros, procurando fazê-los felizes para sermos felizes com eles, isto é, fazendo nossa a própria felicidade alheia.

Poderemos caracterizar atitudes e situações que se enquadram nesta ordem de coisas, aferidas assim por um outro critério de valorização.

O silêncio que fazemos em torno de acontecimentos isolados do conjunto, para não levarmos ao pelourinho da vergonha e da desonra seus protagonistas.

A palavra que pomos a serviço da complacência, sempre pronta a defender e a amparar.

A mensagem de estímulo e conforto que endereçamos aos flagelados do corpo e da alma.

A prece que formulamos em favor de alguém.

O passe que aplicamos com o sincero desejo de colaborar na recuperação do enfermo.

O lar que fundamos em bases cristãs.

A família que educamos nos princípios enobrecedores do pudor e da compostura, do trabalho e do estudo, da honradez e da dignidade.

A escola que ajudamos a manter com o nosso esforço.

Os favores desinteressados que prestamos a quem quer que seja.

Os ensinos que ministramos aos menos favorecidos de conhecimentos.

A mão que estendemos aos que precisam levantar-se e caminhar.

O aproveitamento das provas e expiações.

Sob o aspecto de inspiração própria, de iniciativa individual, de cunho essencialmente íntimo, muita coisa podemos fazer e deixar de fazer, que resultará em bênçãos e luzes do nosso caminho, com tanto mais proveito para nós mesmos quanto maior for o benefício que pudermos proporcionar a outrem.

Estes outros Bens da Vida formam o patrimônio próprio de cada um de nós e perduram conosco por todo o sempre, porque são o tesouro que o ladrão não rouba, a traça não rói, a ferrugem não destrói e o tempo não consome. (Mt 6:19)




[Revista Reformador (FEB) Junho 1970] Essa mensagem foi publicada no jornal NOTÍCIAS POPULARES (sem data, década de 1970/
80) na seção “MENSAGEM DO DIA — de Chico Xavier”; o recorte jornalístico encontra-se sob a custódia do Dr. Eurípedes Higino, filho adotivo do Chico.