Ao ver a Morte ao meu lado, É que enxerguei minha vida… Quanto tempo desprezado! Quanta conversa perdida!…
Fácil dar a quem se estima, A quem pede é fácil dar, Difícil, porém, a entrega A quem nos quer despojar.
Morte, — sombra que se adensa, — Pesar, agonia, prova… Depois, é a beleza imensa Na luz de alvorada nova.
Era um homem dos mais nobres, Tinha fortuna invulgar, Ao morrer, deu tudo aos pobres Porque não pôde levar.
Na morte, quem planta amor, Quem age, serve e auxilia, Tem a paz do lavrador Quando chega o fim do dia.
Morta a avozinha, fui vê-la… Vivera o amor e a esperança. Tinha o fulgor de uma estrela Que envolvesse uma criança.
O sovina Antônio Brotas Morreu num noite brava, Buscando o baú de notas Que o rio cheio levava.
Que a fé te guarde e conforte, Nem negação, nem talvez… O que se tem, ante a morte, É tudo o que já se fez.
Eu nunca pensei que a morte, Apagando os olhos meus, Fosse abri-los noutras plagas Para a união sem adeus.
Ante a morte, o homem se queixa… Diz que os pobres vão herdar… Ele não dá. Ele deixa Porque não pode levar.
Casos de boa ou má sorte… História de mal e bem… Cada pessoa na morte Encontra a vida que tem. |