— “Dom Ramon, tenho fome e a noite me apavora!…” Ante o pobre a chorar, Dom Ramon diz, mordente: — “Não abro meu solar à penúria insolente, Nem dou pão a ninguém!… Malandro, caia fora!…” O fidalgo era assim orgulhoso e inclemente… Um dia, a Morte veio e lhe faz ver a hora. Dom Ramon esperneia, acusa, grita, chora, Mas a Morte o carrega em funeral luzente… Acordando, no Além, nas trevas da avareza, Pede provas de fel, quer vida de pobreza, Sem privilégio algum dos recursos de outrora!… Renasce e, certa noite, em triste cor de cera, Grita, junto ao solar que já lhe pertencera: — “Socorro!… Tenho fome e a noite me apavora!…” |
O manuscrito desse soneto encontra-se sob a custódia do Dr. Eurípedes Higino, filho adotivo do Chico.