Caminhos de Volta

Capítulo XXXV

Nascimentos estranhos



Diversos amigos, de passagem por Uberaba, deixaram-nos uma pergunta que nos tomou a atenção: “Por que nascem crianças em lugares exclusivamente reservados ao tratamento de doentes mentais?” Com o assunto em pauta, em nossa reunião pública, O Livro dos Espíritos () nos deu a questão 167 para estudo. Os temas da reencarnação foram comentados. “Recomposição Espiritual”, foi a página que nosso Emmanuel escreveu ao término das tarefas.


RECOMPOSIÇÃO ESPIRITUAL

Há quem nos pergunte por que motivo nascem crianças nos recintos de assistência a companheiros em tratamento de moléstias mentais.

E responderemos com ligeira mostra do assunto.

No Mais Além, certo amigo acreditou poder superar o desafio das facilidades humanas e pediu vantagens de berço no Plano Físico, a fim de cumprir elevada missão.

Ressurgiu, para logo, na linhagem de pais generosos que lhe ficharam o nome, de imediato, na posse de avantajados recursos materiais.

Desenvolveu-se em refúgio respeitável e opulento.

Encontrou grupo familiar que lhe estendeu apoio e compreensão.

Favorecido por educadores abnegados, senhoreou ingredientes dos mais valiosos para a formação da própria cultura.

Entretanto, em plena maioridade na experiência humana, por mais advertido fosse pelos princípios da fé que esposara, decidiu-se pelo abuso.

Traçou infeliz caminho a si próprio.

Sulcou de sofrimento o coração dos pais, feriu companheiros, desbaratou os próprios bens, suscitou a infelicidade de vastos agrupamentos domésticos, criou dificuldades e sombras e, por fim, precipitando-se em desregramentos sem nome, desencarnou em lamentável posição de criminalidade.

De regresso ao Mundo Espiritual, reconheceu amigos, recordou afeições, clareou o pensamento, reformulou pareceres, recompôs ideias e aceitou a culpa que lhe danificava a consciência.

Por mais se lhe dispensasse consolação, mais lhe doía o arrependimento.

Por mais se lhe prestassem favores, mais profundamente sentia o remorso que lhe arruinava todas as forças.

E isso, porque a apreciação de todos os fatos em si procedia dele próprio, no autojuízo a que todos nos submetemos tão mais intensamente quanto maior o discernimento que venhamos a desfrutar.

Decorrido algum tempo de revisão e reajuste, ei-lo com o novo requerimento de que se supunha necessitado.

Rogava, agora, às autoridades superiores, difícil reencarnação em ambiente obscuro e indefinível, em que quaisquer vantagens maciças lhe fossem sonegadas.

Foi assim que o vimos renascer, em espaço do Plano Físico totalmente consagrado ao tratamento de nossos irmãos alienados mentais, recanto esse do qual estamos a vê-lo emergindo muito pouco a pouco, em seus recursos espirituais, de modo a facear em futuro próximo o grave trabalho de reconquista de que se sente sequioso, de maneira a reinstalar-se por dentro da própria alma, no respeito a si mesmo.

Como, pois, é fácil de entender, somos livres na escolha, mas reféns nos resultados de nossas escolhas, quaisquer que sejam, de um modo ou de outro, com a nossa própria adesão voluntária à execução da Lei, a Lei sempre se cumprirá.