Se carregas contigo o tempo atormentado Sob tristeza e desencanto, É natural te aflijas, entretanto, Não te entregues ao luxo de chorar. Sai de ti mesmo e escuta, em derredor, Aqueles que se vão sem rumo certo, Suportando no peito o coração deserto Na penúria que mora entre a noite e o pesar. Não importa o que foste e o que sofreste E nem a dor alheia, em mágoas mudas, Procurará saber a crença em que te escudas, Nem pergunta quem és… Os que seguem no pó do sofrimento, Vivendo de coragem, semi-morta, Rogam-te auxílio à porta, Rojando-se-te aos pés… Desce da torre em que te vês somente E escuta-lhes a história dolorida: Esse chora sem lar, outro é quase suicida Cansado de amargura e solidão; Aquele envelheceu, sem alguém que o quisesse, Outra é mãe desprezada, anêmica e sozinha, Sombra que foi mulher, que respira e caminha, Sabendo agradecer a fortuna de um pão. Sai de ti mesmo e vem!… Esquece-te em serviço… É Jesus que te chama ao bem que não se cansa, Acharás, ao servir, renovada esperança, Paz e fé sob a luz de nobres cireneus!… E sem horas a dar ao desalento e ao tédio, Quando encontres a noite, cada dia, Dirás ao Céu, em preces de alegria: — Por tudo quanto tenho agradeço, meu Deus!… |