Espíritas, tutelados do novo Pentecostes, sobre as vossas inteligências jorra a fonte das águas vivas, objetivando a santificação do mundo inteiro.
Enquanto o lavrador amanha o solo e o artista burila a pedra, sois, sem dúvida, os artífices do pensamento renovado na Terra.
Nossos antigos templos de alvenaria e ouro jazem frios e as nossas velhas interpretações da Divindade não mais saciam a sede de conhecimento e paz, luz e alegria. É necessário que o sol irradiante de vossa fé alcance os caminheiros da experiência, perdidos nos desfiladeiros da negação e do desalento, quais se fossem estátuas vivas e conscientes de ruína e amargura.
O mundo pede socorro não mais de palavras somente, através de promessas e exortações sem sentido, porque a influência dos expositores das teorias salvacionistas, sem positivas demonstrações de edificação própria, imobiliza-se na epiderme da alma, sem atingir o cerne do coração. Falecem todos os processos de reajustamento moral pelos desvarios verbalistas ou pelas advertências sem qualquer ligação essencial com o Mestre e Senhor.
Não discutamos, nem vacilemos. Diante de nós, desdobra-se o escuro espetáculo da humanidade a submergir-se nas trevas.
Se é verdade que não podemos descrer da Luz ou esquecer o infinito da compaixão divina, é imperioso observar que a paisagem espiritual do planeta permanece marcada por aflitivo crepúsculo, em que as bênçãos do progresso, laboriosamente conquistadas, como que se desfazem pouco a pouco.
Embates violentos da ideia, com a decadência do raciocínio e a bancarrota do sentimento, destacam crises morais gigantescas, que mergulham a alma humana em vasto abismo de lodo e lágrimas.
E outro quadro do pretérito, nesta hora, não podemos recordar, com mais propriedade, além daquele do Mestre divino escalando o Gólgota distanciado no tempo. Arrastando-se sob a cruz, ante os sarcasmos da inconsciência, no rumo da flagelação e da morte, e escutando os lamentos das mulheres compassivas, a lhe observarem a suprema renúncia, acentuou piedosamente, murmurando:
— “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos, porque eis que surgirão tempos em que direis: ‘Bem-aventuradas as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram!’ Então, clamareis para os montes: ‘Caí sobre nós!’, e gritareis para os outeiros: ‘Cobri-nos! Porque se ao madeiro verde fazem isso, que se fará com o lenho seco?’” (Lc
À frente da nossa expectação, o painel da cidade famosa se desdobra, de novo…
Embaixo reinam a incompreensão e a miséria, a indiferença e a desarmonia, a loucura da posse e a sombra da impiedade. Nos horizontes do futuro próximo, avolumam-se nuvens pesadas de perturbação e discórdia. E no topo do monte, entre o Céu e a Terra, demora-se ainda o Cristo, atormentado pela nossa impermeabilidade e ingratidão.
E já que vós, os trabalhadores da reforma íntima, vos consagrais à missão do auxílio fraternal em companhia do Amigo celeste, preparai as fibras mais recônditas da alma para assinalar-lhe as palavras divinas, como naquele inolvidável crepúsculo da crucificação, e convictos de que só receberemos o título de companheiros do Mestre negando a nós mesmos e conduzindo valorosamente a cruz das nossas obrigações de cada dia, avancemos, servindo a todos, em seu nome, na certeza de que só a fé nos conferirá forças para superar os obstáculos da senda e de que só o amor, com trabalho constante na caridade, na esperança e no entendimento, pode pavimentar, em nosso favor, o glorioso caminho da ressurreição eterna.
Reformador — Fevereiro de 1951.
Trecho reproduzido no livro Dicionário da Alma, [coletânea de excertos de diversos autores, organizada por Carlos Augusto Abranches, extraídos das obras] psicografadas por Chico Xavier, por Espíritos diversos (FEB, 1964). Na referida obra, a autoria foi atribuída ao Espírito Luiz Florentini.
Segundo consta do original, a mensagem foi recebida em reunião no Centro Espírita Amor ao Próximo, na cidade de Leopoldina, Minas Gerais, na noite de 25/06/1950.