Cartas do Alto

Capítulo XXXVIII

Razão para tolerar sempre



“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” — Jesus (Mt 5:7)

Certamente não te educarás e nem progredirás sem base nas ideias próprias, mas tão-somente a título de garantir as tuas opiniões nada lucrarás fazendo um inimigo.

Estimas a liberdade de cunhar em palavras os teus pensamentos originais. Não será justo que os outros usufruam direito idêntico?

Por muito estranhas ou intempestivas se façam as manifestações alheias, é impossível não encontres, através delas, um caminho para compreender e auxiliar.

Aqueles de quem hoje toleras, com paciência, insultos e irreflexões serão, provavelmente, amanhã os teus melhores amigos — os amigos a quem cativastes com os teus bons exemplos.

Se te decides efetivamente a cumprir tarefas de amor ao pé dos semelhantes, não angariarás os recursos de que necessitas para a tua própria sustentação, sem que aprendas a suportar.

Sabes que o ofensor geralmente não conhece toda a extensão do mal de que é vítima. Por que haverias de adquirir-lhe a perturbação, entrando, voluntariamente, na faixa de desequilíbrio da qual se faz ele mostra lamentável? Não ignoramos que a dor da pedrada recebida não se cura lançando outra pedra.

Observa o arrependimento em que te martirizas depois de uma discussão no clima do azedume e encontrarás suficientes motivos para não te agastares, seja pelo que for, a benefício da saúde própria.

A pretexto de não cultivares intolerância, não digas que é preciso defender os teus brios, quando podes, perfeitamente, fazer isso com paciência e serenidade. Recorda que a recomendação de se oferecer a face direita a quem nos ofenda a face esquerda veio diretamente de Jesus (Lc 6:29) e ao que sabemos até hoje ninguém surgiu na Terra com a grandeza e a dignidade do Cristo de Deus.


Emmanuel


Reformador — Maio de 1968.